Por Sergio Alejandro Ribaric’, professor, teólogo e palestrante.
“Maria que fez o Cristo falar
Maria que fez Jesus caminhar
Maria que só viveu pra seu Deus”
Padre Zezinho, Maria de Nazaré
Expectativa sobrenatural
Desde as promessas bíblicas, já perceptíveis nos três primeiros capítulos do Gênesis como uma antecipação da vinda de um Salvador e enviado por Deus para a liberdade do pecado trazido por Adão ao mundo. Na epístola aos romanos, o apóstolo Paulo escreve: “pelo que, como por um homem [Adão] entrou o pecado no mundo, assim também a morte passou a todos os homens porque pecaram […] Muito mais pela graça de Deus, e o dom pela graça. Que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou para muitos (Romanos 5.12,15).
A comparação de Eva com Maria formulada por Irineu, Bispo de Lyon (130) chegou até nós em dois escritos de sua autoria “tratado contra as heresias” e em uma outra obra por muito tempo considerada perdida, mas encontrada no século XX, conhecida como “prova da pregação Apostólica”. Na comparação, Irineu chegou ao mais inovador e empolgante dos paralelos: Foi precisamente por meio de uma virgem transgressora [Eva] que a humanidade foi ferida e tombou, mas foi por outra Virgem [Maria] que, por ter obedecido à palavra de Deus, a humanidade ressuscitada recebeu a vida.
A descendência de EVA, que carrega o pecado do mundo estará liberta definitivamente pela outra Mulher, que trará a salvação ao mundo. O Catecismo diz:
“Como diz Santo Irineu, ‘obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o gênero humano’. Eis porque não poucos Padres afirmam, tal como ele, nas suas pregações, que ‘o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé’; e, por comparação com Eva, chamam Maria a ‘Mãe dos vivos’ e afirmam muitas vezes: ‘a morte veio por Eva, a vida veio por Maria’”. (CIC 494)
Origens
Nossa Senhora do Ó é uma devoção à Virgem Maria originada na Espanha. A devoção é inspirada na imagem da gravidez da Mãe de Jesus. A doçura dessa devoção faz jus à belíssima imagem criada para essa lindíssima devoção. A comemoração litúrgica de Nossa Senhora do Ó foi instituída oficialmente no século VII, por ocasião do décimo Concílio de Toledo (656), Espanha. Santo Idelfonso foi quem estabeleceu a festa litúrgica de Nossa Senhora do Ó no dia 18 de dezembro, sete dias antes do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. A figura representativa de Maria é apresentada com a mão esquerda aberta sobre o ventre, como em característica posição de proteção maternal e percebe-se quase que emocionalmente, a expectativa que envolve toda a aceitação da vontade de Deus e do Salvador que vai nascer. A imagem de Nossa Senhora do Ó é uma belíssima iconografia que representa todo o amor maternal da ““bendita entre as mulheres”, e de uma mulher gestando e da esperança de toda uma humanidade na promessa de Deus. A belíssima letra do Padre Zezinho, (canção “Maria de Nazaré”), retrata bem a singular presença de Maria em cada mulher gestante:
“Em cada mulher que a terra criou
Um traço de Deus, Maria deixou
Um sonho de mãe, Maria plantou
Pro mundo encontrar a paz”
Esta imagem foi descrita por D. Sancho I (foi o segundo Rei de Portugal, em 1185): “É esta santa imagem de pedra mas de singular perfeição. Tem de comprimento seis palmos. No avultado do ventre sagrado se reconhecem as esperanças do parto. Está com a mão esquerda sobre o peito e a direita tem-na estendida. Está cingida com uma correia preta lavrada na mesma pedra e na forma de que usam os filhos de meu padre Santo Agostinho.”
Atualmente é conhecida na liturgia com o nome de “Expectação do parto de Nossa Senhora”,
Origem do nome Nossa Senhora do “Ó”
A origem da denominação Nossa Senhora do “Ó” vem das expressões contidas nas orações litúrgicas que antecediam o Natal de Jesus iniciadas pela exclamação (ou suspiro) “Oh!”, onde o povo teria passado a denominar essa solenidade como Nossa Senhora do Ó.
Com efeito, na liturgia pré-natalina, as orações começam sempre com a interjeição exclamativa “Óh”, tais como: “Óh rebento da Raiz de Jessé… vinde libertar-nos, não tardeis mais”; “Óh Sabedoria… vinde ensinar-nos o caminho da salvação”. Por causa disso, o povo passou a chamá-la carinhosamente de Nossa Senhora do “Ó”. Como tudo em Maria, inclusive os dogmas marianos vêm de devoções populares ou como chama-se na teologia “sensus fidelium”.
No começo do século XIX, o mesmo “sensus fidelium” causou mudanças nas devoções marianas e começaram a estimular o dogma da Imaculada Conceição, doutrina de origem apostólica e finalmente proclamado dogma pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854 (com a bula “Ineffabilis Deus”).
Vale lembrar as palavras do Papa Pio IX quando da promulgação do dogma:
“…e, por isso, afirmaram (os Padres da Igreja) que a mesma santíssima Virgem foi por graça limpa de toda mancha de pecado e livre de toda mácula de corpo, alma e entendimento, que sempre esteve com Deus, unida com ele com eterna aliança, que nunca esteve nas trevas, mas na luz e, de conseguinte, que foi aptidíssima morada para Cristo, não por disposição corporal, mas pela graça original”.
Problemas e perseguição religiosa
Muitas imagens naquele momento foram trocadas pela da Nossa Senhora do Bom Parto, uma mulher vestida de freira e com o ventre disfarçado pela roupa mais condizente com a cultura moralista de então e que julgavam não combinar com aquela imagem mariana em estado de adiantada gravidez. O mesmo ocorreu com a substituição pela imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Somente com a história recente, se voltou a falar e pesquisar o assunto, tendo-se encontrado imagens antigas enterradas sob o altar de muitas igrejas.
Oração a Nossa Senhora do Ó
“Doce Virgem Maria, cujo coração foi por Deus preparado para morada do verbo feito carne pelas inefáveis alegrias da expectação de vosso santíssimo parto, ensinai-nos as disposições perfeitas de uma íntegra pureza no corpo e na alma, de uma humildade profunda no espírito e no coração, de um ardente e sincero desejo de união com Deus, para que o meigo fruto de vossas benditas entranhas, venha a nascer misericordiosamente em nossos corações, a eles trazendo a abundância dos dons divinos, para redenção dos nossos pecados, santificação de nossa vida e obtenção de nossa coroa no Paraíso, em vossa companhia. Assim seja. Amém.”
Referência:
Livro ‘Santos de cada dia’ – Organização de José Leite, S.J.