Noite de encanto
Pedro Antonio de Avellar
A noite se fazia tão bela. Faíscas glamurosas,
Do foguetório das girândolas escandalosas,
Avermelhavam o céu noturno, já estrelado:
Chegara São João. O festejo tão aguardado!
E me vi entrelaçado, em quadrilhas conduzido,
Então rodava, girava, defronte à fogueira cálida,
Quando notei, ao fim da rua, uma criança pálida
Contemplando muda, admirada, o doido alarido.
E, súbito, me transformei em coração pungente;
Os pés bailavam, mas meu espírito se contorcia
E me queimava a face um ardor incandescente,
Pela diferença da sorte que à minha frente eu via.
Doeu-me a essência e alma, tal qual fé indefinida,
Ante oração inacabada e promessa não cumprida,
E prantos, lamúrias do pedinte à beira da estrada,
Vendo o céu sombrio, sem estrelas na madrugada.
Ah, meu São João, vela pela criança desamparada!
Que ela amenize suas dores, as agruras e o pranto.
E que esse festejo lhe seja uma noite abençoada:
Que sorria e São João lhe seja noite de encanto!
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