Iniciamos mais uma semana. A última deste mês de outubro. Tempo ainda para refletirmos sobre a nossa missão neste mundo. Oportunidade para situar o nosso estar no mundo, revendo a nossa trajetória de vida, em busca de uma conversão (metanoia) que se faz urgente e necessária, como forma de repensar aquilo que somos e o nosso compromisso nos colocando na mesma estrada por onde caminha o Mestre Galileu. “Se a jornada é pesada e te cansas na caminhada, segura na mão de Deus e vai!”, sugere o canto que tanto cantamos em nossas comunidades anos atrás.
https://www.youtube.com/watch?v=kppUFS8nhgg
25 de outubro, uma data que manchou de sangue a triste história brasileira. No dia de hoje, há 46 anos, era assassinado o jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), em São Paulo. As forças de repressão da ditadura militar, sujaram de sangue as suas mãos, ao torturar e assassinar “Vlado”, como era carinhosamente chamado o jornalista. Como desculpa para este ato bárbaro, inventaram que Herzog havia cometido o suicídio. Sobre o jornalista, disse o Cardeal arcebispo de São Paulo à época: “Não matarás. Quem matar, se entrega a si próprio nas mãos do Senhor da História e não será apenas maldito na memória dos homens, mas também no julgamento de Deus!”.
Estamos diante de uma semana que está só começando. Entretanto ainda repercute em nós o texto do Evangelho de Marcos (Mc 10,46-52), que tivemos a oportunidade de celebrar em nossas comunidades no dia de ontem. Jesus percorrendo o seu Caminho rumo à Jerusalém, sabendo que ali, haverá o desfecho da vida do Jesus histórico, defrontando com o Calvário de sua Paixão, Morte e Ressureição, como consequência de sua fidelidade ao Projeto de Deus. Mas com tempo ainda suficiente de realizar um dos últimos sinais entre os seus seguidores na Palestina: a cura da cegueira de um pobre caído a beira do caminho, abrindo-lhe os olhos e o coração.
Jesus é o caminho! Ele se faz caminho e no caminho! Aliás, segundo os relatos nos primórdios do cristianismo, o movimento desencadeado por Jesus, era denominado de “caminho”. De acordo com os relatos do evangelista Lucas, que transcreve para nós a infância de Jesus, desde o ventre materno, o casal é forçado a deixar a sua terra natal e aventurar-se no caminho até Belém “onde não havia lugar para eles” (Lc 2,7). Sua mãe se fazendo peregrina no caminho, escapando da fúria assassina de Herodes, buscando refúgio no Egito. Lembrando também do próprio itinerário percorrido por Jesus, indo à todas as aldeias e cidades, encontrando-se com as multidões cansadas e abatidas, cheio de compaixão, “porque eram como ovelhas sem pastor” (Mt 9,35-38). Um caminho feito não a partir do centro e dos templos, mas a partir da periferia, onde habitavam os pobres, indefesos, doentes, discriminados, excluídos (At 10,38).
Igreja do caminho. Igreja que se faz caminho. No caminho de Jesus, um pobre homem cruza o seu caminho (Bartimeu). Uma presença incomoda para aqueles que seguiam o mestre, mas não para Jesus. Ao acolher aquele pobre homem, Jesus devolve-lhe a dignidade e o traz para o centro, restabelecendo-lhe a visão e o protagonismo a partir daquele momento como gente. Jesus ganha imediatamente mais um seguidor no seu caminho. Um sinal significativo e que nos serve de parâmetro para entendermos também a nossa missão de seguidores de Jesus no caminho. Quantos de nós não nos deparamos com cenas parecidas como estas em nossas vidas? Quantos de nós, estando a caminho dos templos, não experimentamos cenas como estas de Jesus e ainda continuamos na nossa cegueira, pior do que a daquele pobre Bartimeu? Quantas de nossas lideranças religiosas não estamos mais preocupados com as nossas vestes rendadas suntuosas, e fechamos os nossos olhos para a realidade de pobreza na estrada das nossas vidas? Cegueira que cega mentes, corações e atitudes.
Bartimeu abre os olhos e coração e enxerga Jesus. Imediatamente se livra de tudo aquilo que o amarrava, se colocando no caminho do seguimento de Jesus. Com a sua atitude ele nos mostra a verdadeira face do discipulado autêntico de Jesus, que o segue no caminho, por onde quer que vá. Ele enxerga a luz que é Jesus e cheio desta luz, se faz também luz pela graça divina, na vida das pessoas. Este é o desafio que nos é colocado, se quisermos fazer parte do discipulado de Jesus. Podemos também fazer parte deste mesmo caminho. Podemos e devemos ser também caminho que leva à vida plena para tantos Bartimeus, caídos à beira do caminho: sem teto, sem trabalho, sem comida, sem sonhos, sem perspectivas, desesperançados… Sejamos o caminho de luz e que possamos devolver a esperança de viver para tantos caídos. Que possamos realizar em nós a mesma experiência do místico sacerdote carmelita espanhol São João da Cruz (1542-1591): “Onde não existe amor, coloca amor e amor encontrarás”.
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