Sexta feira da Quarta Semana do Tempo Comum. Adentramos no segundo final de semana do mês de fevereiro, tentando manter viva a amorosidade do coração de Jesus. Seguimos por aqui, construindo a nossa jornada, fundamentada nos valores do Evangelho: amor, perdão, cuidado, doação, serviço, compaixão, misericórdia e solidariedade, com as causas do Reino. Viver a fidelidade da fé é assumir com Jesus o compromisso pela vida para todos e todas em sua totalidade (cf. Jo 10,10). Na lógica teológica de Jesus, quem não vive para servir, não serve para viver: “quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos”. (Mc 10,43-44) Serviço que se exprime na entrega de si mesmo para o bem comum de todos.

Servir como fizera uma das grandes lideranças indígenas do Povo Guarani. No dia de hoje, o movimento indígena e indigenista está de luto. Isto porque, no dia 7 de fevereiro de 1756, em São Gabriel (RS), era assassinado pelos invasores espanhóis e portugueses, o indígena Sepé Tiaraju, líder da resistência dos Sete Povos das Missões. Entre os Sete Povos da Missões, viviam aproximadamente 30 mil Guarani, incluindo os indígenas do Paraguai e da Argentina, chegando a cerca 80 mil no total. Ali no século XVIII, Sepe liderava o movimento de resistência dos Guarani, se tornando assim um alvo a ser combatido pela cobiça dos povos invasores que aqui chegaram no período colonial de nossa história. Sepe vive e está presente na luta de todos aqueles que não perderam a esperança de dias melhores para os nossos Povos Originários.

Dia de luto também para os amantes da boa música de qualidade. No dia de ontem (06), perdemos um dos maiores músicos do Nordeste brasileiro: Vital Farias. Cantor e compositor dos bons, nasceu na zona rural da cidade de Taperoá, no Cariri da Paraíba, em 1943. Formado em Música, compositor nato, Farias ficou conhecido nacionalmente por músicas como “Canção em Dois Tempos” e pelas famosas cantorias, em parceria com Geraldo Azevedo, Xangai e Elomar. Nenhum de nós do meu tempo, será capaz de esquecer “Ai, Que Saudade D’Ocê”, sucesso na voz da também paraibana Elba Ramalho. Triste saber que em tempos das terríveis “sofrências” e das “cascas da bala”, perdemos um dos nossos mestres da musicalidade nordestina.

A vida é feita de perdas. Perda que tivera também Jesus de Nazaré, que no dia de hoje a liturgia registra para nós o trecho do Evangelho de Marcos, que narra a morte do profeta. João Batista, o Profeta Precursor, sendo decapitado, e sua cabeça oferecida numa bandeira, no banquete da morte. Tudo por causa da verdade anunciada em tom de profecia. Os poderosos tentando calar a voz da profecia. O rei Herodes só se esqueceu de uma coisa, afirmada posteriormente por Jesus: “Se calarem a voz dos profetas as pedras falarão” (Lc 19,40) Lá, como cá, as autoridades tentam calar aqueles que defendem a vida e a dignidade das pessoas, lutando pelo Reino, em que haja a verdadeira justiça.

A morte prematura de João Batista inaugura uma nova história para a humanidade. Fecha-se o ciclo do Antigo Testamento, já que ele representava o último profeta da Antiga Aliança. A Nova Aliança vem com Jesus, tanto que, com a morte do amigo, Ele dá início à sua atividade pública messiânica: “quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair da barca, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes.” (Mt 14,13-14) Enquanto Herodes celebra o banquete da morte com os grandes, Jesus, cheio de misericórdia, se faz solidário com os pequenos e simples, devolvendo-lhes a esperança de viver.

A morte de João Batista é um sinal forte e apocalíptico para Jesus. Ao narrar a morte do Batista, Marcos apresenta para a sua comunidade o destino de Jesus e de todos aqueles que o seguem: “Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês”.» (Mt 5,12). A justiça do próprio Deus se faz presente na luta daqueles que são “inúteis” ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Como podemos ver, a morte de João acontece dentro de um banquete de poderosos. Assim, o profeta que anunciava alto e bom tom, o início de transformação radical, é morto por aqueles que se sentem incomodados com essa transformação e não aceitam as mudanças, em beneficio dos pequenos. Se tentarem calar a profecia, nossa voz seja uníssona em favor da justiça e igualdade para todos e todas!