Sexta feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Setembro vem “sextando” pela primeira vez, ainda em clima dramático, já que a fumaça insiste em permanecer presente no ar. Respirar tornou-se um desafio para nós. De saber que o fogo não pega sozinho na mata, como alguns querem nos fazer crer. A ação genocida de atear fogo prejudica a todos os seres vivos, como me disse um “enfrentante” antigo da Prelazia: “de mamando a caducando”. Estando aqui nesta Igreja desde 1992, confesso que nunca vi algo igual a esta catástrofe que estamos vivendo agora. No Dia da Amazônia que foi comemorado ontem, é triste ver a floresta diluindo no fogo inimigo.
Estamos vivendo o 250º dia do ano, e do mês das flores. Não sei exatamente onde elas irão florescer neste ano, depois de tudo ter sido queimado. Como cristãos que queremos ser, resta-nos apegarmos à Palavra de Deus neste mês da Bíblia, para continuar acendendo a esperança. Que o profeta Ezequiel, escolhido para o aprofundamento exegético deste ano, faça renascer em nós o espírito profético, para que assim, sigamos na luta por outro mundo possível, onde reine a paz, a justiça e a fraternidade, numa sociedade de igualdade entre todos e todas. Como bem profetizou Ezequiel: “Assim diz o Senhor Deus: Basta poderosos desta terra! Afastem do roubo e da exploração. Pratiquem a justiça e o direito. Parem com as violências praticadas contra o meu povo”. (Ez 45,9)
Caminhando para mais um final de semana, estamos às vésperas de mais um “Grito dos Excluídos”. Este já é o 30º Grito dos Excluídos e Excluídas com o tema “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?” Todos os anos, no dia 7 de setembro, estamos realizando o Grito, como um contraponto ao “Grito da Independência”, proclamado por certo príncipe, em 1822. Grito assumido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o objetivo de levar às ruas de todo o país, os gritos ocultos, e sufocados que emergem de todas as formas periféricas de nossa sociedade, nos fazendo recordar de uma passagem do Livro do Êxodo: “Eu Ouvi o clamor do meu povo contra seus opressores, conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo”. (Ex 3,7-8) Os Povos Originários também se fazem presentes, com o seu grito uníssono contra o Marco Temporal.
Ser seguidor de Jesus de Nazaré requer que façamos uma mudança radical em nossas vidas. Não dá para seguir os passos do Nazareno, e continuar na mesmice de nossas comodidades indiferentes, colecionando práticas devocionais, ritos e normas, sendo coniventes com a sociedade da injustiça e da desigualdade. Todos aqueles e aquelas que buscam viver radicalmente, fundamentados na verdade do Evangelho, foram ou são perseguidos. Daí se explica uma das citações do bispo de El Salvador, Santo Oscar Romeiro: “Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça”. Quem fala e vive a verdade não teme, sobretudo se coloca a sua confiança no Senhor, pois, como diz o profeta Ezequiel: “Colocarei dentro de vocês o meu espírito, para que vivam de acordo com os meus ensinamentos e coloquem em prática as minhas normas”. (Ez 36,27)
Nesta sexta feira, a liturgia segue proporcionando a nossa reflexão com o Evangelho sinótico de Lucas. Esta perícope de hoje também aparece em Marcos 2,18-22. Desta vez, com os fariseus e os mestres da Lei, questionando Jesus a respeito do jejum que os discípulos dele não faziam, conforme os preceitos dos antigos, como os discípulos de João Batista. Diante do questionamento deles, Jesus responde acertadamente: “Os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles?” (Lc 5,34) Tal atitude dos fariseus, mostra o zelo mesquinho deles pela lei, denotando uma falte de conhecimento mais aprofundado sobre o sentido da Lei. Para eles, o jejum tinha um valor absoluto em si mesmo. Jesus mostra-lhes que o “esposo” está presente. Ele mesmo é o “esposo”. Ele é o Messias, o Verbo de Deus encarnado na realidade humana. Além do que, o jejum, segundo a tradição antiga, tinha um sentido de penitência. Também o jejum caracterizava o tempo de espera. Mas esse tempo já terminou. Chegou a hora da festa do casamento, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e as pessoas. E agora, enquanto Ele está com os discípulos, é tempo de festa, de alegria, pois Ele está com eles. Os fariseus, dificilmente vão aderir a esta lógica de Jesus, pois quem está habituado às estruturas do velho sistema, e não se predispõe à mudança radical de vida, jamais aceita a novidade trazida por Jesus. “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. (Eduardo Galeano)
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