Reflexões Bíblicas

Mudança radical (Chico Machado)

Segunda feira da Segunda Semana do Tempo Comum. Estamos atravessando a casa da segunda dezena deste que é o primeiro mês da nossa jornada anual. Para os que lidam com a saúde pública, este é o mês que devemos olhar com maior atenção para a saúde mental. Um alerta sobre a saúde mental, visando demonstrar a importância que, cuidar da saúde, não significa apenas cuidar da saúde do corpo. Cuidar da mente também é fundamental para o bem-estar e equilíbrio entre corpo e mente. “Mens Sana in Corpore Sano”. “Uma mente sã em um corpo são”. Corpo e mente forma um todo constituindo o nosso ser enquanto ser. Mente e corpo se relacionam, formando a pessoa que racionalmente vai além da vontade humana e da existência material do mundo. Uma mente saudável precisa coabitar num corpo também saudável.

Uma segunda feira em que a liturgia da Igreja Católica, celebra a festa de São Sebastião. Ele que nasceu em Narbona, na França, no ano 256. Logo a família mudou-se para a para a Itália, onde entrou para o exército, tornando-se o melhor soldado para o imperador Diocleciano. Converteu-se ao cristianismo, defendendo os cristãos durante o reinado deste imperador romano. Foi condenado à morte por desobedecer aos seus comandos. São Sebastião morreu em 20 de janeiro de 288 d.C., sendo a data de sua morte escolhida pela igreja católica para homenagear o mártir pelas suas ações de coragem e fidelidade ao Cristianismo. São Sebastião é exemplo de amor pelo Evangelho e por Jesus. A sua vontade de se doar é uma inspiração para todos nós.

Desde os primórdios, que a História da Igreja está repleta de pessoas que deram as suas vidas pelo Reino de Deus. Mártires da caminhada do povo sofrido. Fizeram das suas vidas uma autêntica radicalidade evangélica, como nosso bispo sempre nos ensinou a viver, sendo ele mesmo aquele que ia à nossa frente, com a sua vida de fidelidade e testemunho, falando por si mesmo. Mesmo sabendo dos desafios que devemos enfrentar neste compromisso de seguir os passos de Jesus, a esperança vai sempre à nossa frente, ditando os rumos da nossa caminhada. Resistência e teimosia pelas causas do Reino, que Pedro sintetizava nesta frase: “A esperança é um ato de rebeldia”. Insistir, resistir, persistir e nunca desistir!

A radicalidade evangélica está presente na vida de Jesus. Com Ele, não havia meias palavras. “Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno”. (Mt 5,37) Jesus exige que as pessoas sejam verdadeiras e responsáveis. Isto é importante salientar, tendo em vista o questionamento que Jesus e seus discípulos estão enfrentando no texto de Marcos que a liturgia reservou para a nossa reflexão no dia de hoje. Uma controvérsia acerca da prática do jejum: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” (Mc 2,18) Para estes interlocutores, Jesus e seus discípulos estavam dando péssimo exemplo diante da tradição judaica da época.

Não é a tradição que liberta e salva, mas a fé que se tem no compromisso com o Reino na busca constante pela vida plena para todos e todas (cf. Jo 10,10). Não são as práticas religiosas que nos garante numa vivência de fé, mas a autenticidade da fidelidade para com o Evangelho. Não os ritos religiosos que nos colocam em sintonia com o projeto de Deus revelado por Jesus, mas a coragem de lutar, enfrentando os desafios por uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária, onde a paz seja fruto da justiça. Diante deste contexto, sempre me lembro de uma fala de Pedro, a uma jornalista que lhe perguntou certa vez: “Dom Pedro, o senhor não tem preocupação com as almas das pessoas?” Ao que Pedro ligeiramente respondeu: “Talvez porque eu não tenha vista nenhuma delas passando aqui na porta de casa. O que vejo são corpos sofridos e maltratados pelas forças opressoras do latifúndio”.

“O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração”, afirmou Antoine de Saint-Exupéry, em seu livro O Pequeno Príncipe. Jesus lida o tempo todo com o essencial, que as classes religiosas de seu tempo o confrontavam por causas destas suas posturas em defesa da vida. No contexto do Novo Testamento, o jejum caracterizava o tempo de espera. Entretanto, com a vinda de Jesus, esse tempo acabou. Chegou a hora da “festa do casamento”, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e as pessoas. A atividade de Jesus mostra que o amor de Deus vem para salvar a pessoa concreta e não para manter as estruturas opressivas que maltratam as pessoas. A novidade rompe estas estruturas simbolizadas pela roupa e barril velhos. Jesus não veio para reformar nada. Ao contrario, Ele exige mudança radical de vida. Ser radical é ir à raiz e beber da fonte cristalina do projeto de Deus revelado por Jesus.

Luiz Cassio

Recent Posts

5º Encontro dos Exseminaristas Redentoristas do período de 1978 a 1986 (ARIOVALDO FRANCISCO DA SILVA)

O primeiro encontro aconteceu no ano de 2017, após 39 anos sem nos vermos presencialmente.…

2 dias ago

A semente da transformação (Chico Machado)

Sexta feira da Terceira Semana do Tempo Comum. E não é que janeiro se despede…

2 dias ago

O movimento de Jesus Fé acesa (Chico Machado)

Quinta feira da Terceira Semana do Tempo Comum. Estamos a um passo de fechar o…

3 dias ago

Dia 27 segunda feira fiz 78 anos (Thozzi)

Eu já contei pra vocês: segunda feira fiz 78 anos! Minha "cabeça " ainda não…

4 dias ago

Semear é preciso! (Chico Machado)

Quarta feira da Terceira Semana do Tempo Comum. Três dias apenas nos separam do mês…

4 dias ago