Segunda feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Agosto vai dando o ar da graça. Uma ventania sem fim por aqui. As noites frias, características do mês anterior, vão ficando para trás. A natureza vai se manifestando na sua multiforme maneira de ser e de encantar. Os primeiros papagaios começam a aparecer, apresentando-nos os seus rebentos. Na manhã de hoje uma horda deles povoou o meu quintal, trazendo a alegria da vida que renasce na esperança da criação de Deus. Vivendo este clima de plena euforia, lembrei-me do que disse o educador francês Allan Kardec (1804-1869): “O Universo é a criação suprema de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais”.
A semana iniciando, e nós aqui do Araguaia nos preparando para mais uma “Semana Pedro Casaldáliga”. Já são quatro anos que ele não se faz presente aqui conosco fisicamente. Ele que realizou a sua Páscoa no dia 8 de agosto de 2020, aos 92 anos, devido às complicações respiratórias, que foram agravadas pela doença de Parkinson, que o acompanhava há alguns anos. Está enterrado aqui, às margens do Araguaia, num cemitério desativado, onde estão enterrados peões, indígenas, os pobres que resistiam à grilagem de terras pelos latifundiários. Ele mesmo escolheu o local onde queria ser enterrado, entre uma prostituta e um peão de fazenda, ambos assassinados. Escolheu como epitáfio: “Para descansar eu quero só esta cruz de pau com chuva e sol estes sete palmos e a Ressurreição”.
O legado de Pedro continua a desafiar, no intuito de levar adiante o seu sonho de profeta do Araguaia. É como se o seu espirito estivesse pairando sobre as águas do Araguaia, de tão forte é a presença de seu jeito de ser pobre, com os pobres e pelos pobres, contra a pobreza. A cada manhã, rezando com ele naquele chão sagrado, onde estão depositados os seus restos mortais, a esperança renasce naqueles que o conheceram e com ele conviveram. Uma energia cósmica transcendental toma conta de todo o nosso ser, ainda mais quando nos lembramos das quatro palavras que ele incansavelmente nos dizia: Fé, esperança, teimosia/resistência e utopia (do Reino).
O texto de Mateus escolhido pela liturgia para esta segunda feira nos faz lembrar a Campanha da Fraternidade de 2023, cujo Tema era “Fraternidade e fome”, juntamente com o Lema “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16). Sim porque voltamos mais uma vez ao contexto da multiplicação e distribuição de pães e peixes. Com cinco pães e dois peixes, Jesus sacia a fome de uma multidão de pessoas, isto porque nem as crianças e nem as mulheres foram contadas. Sobressai aqui o número “sete”. Em geral, os números na Bíblia têm um sentido literal, mas às vezes eles são usados de modo simbólico. Assim, logo no início da Bíblia, o número sete significa que algo está “acabado” ou “completo”. O primeiro uso deste número na Bíblia se relaciona com a semana da criação no início do Livro do Gênesis. Deus passa seis dias criando os céus e a terra, e então descansa no sétimo dia.
Quando Jesus disse a Pedro que ele deveria perdoar “não até sete vezes, mas até setenta e sete vezes” (Mt 18,21, 22), essa repetição de “sete” passava a ideia de “sem limite”. O texto ressalta que Jesus fora movido pelo espírito de compaixão: “Ao sair da barca, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes”. (Mt 14,14) Sentimento de simpatia e empatia para com a outra pessoa, acompanhado do desejo de ajuda-la, naquilo que ela mais necessita. Compadecer é “sofrer junto com”. A compaixão é a virtude de compartilhar o sofrimento do outro. Ser movido pela compaixão é não ser indiferente frente ao sofrimento do outro. Enquanto a empatia é uma virtude, a indiferença é o pesadelo da humanidade. O filósofo e historiador britânico David Hume (1717-1776) dizia que “Ninguém é completamente indiferente à felicidade ou a miséria dos outros”. Somente pela compaixão, podemos salvar o nosso coração.
No texto de hoje vamos ver que Mateus salienta o comportamento de Jesus. Mesmo sabendo da morte de João, prenunciando o seu futuro, Jesus continua fiel à missão de servir ao seu povo. Reúne e alimenta as multidões sofredoras, realizando os sinais de um novo modo de vida e de anúncio do Reino. Enquanto Herodes celebra o banquete da morte com os grandes, matando os pequenos, Jesus celebra o banquete da vida com o povo simples. Não é preciso muito dinheiro para comprar comida para o povo. É preciso simplesmente dar e repartir entre todos, o pouco que cada um possui. É o que devemos fazer na mesa da Eucaristia que é o sacramento-memória dessa presença de Jesus, lembrando continuamente qual é a nossa missão a que fomos chamados: ser “Pão” para os famintos e “Crísticos” como Jesus. Comungar desta ideia é um perigo. Somente movidos pela compaixão, chegaremos lá. “Todas as almas nobres têm como ponto comum a compaixão”. (Friedrich Schiller)
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