26º Domingo do Tempo Comum. Chegando ao final do mês da Bíblia e nos preparando para entrar no mês missionário, por excelência. Outubro já vem apontando no nosso campo visual. O tempo dos humanos está passando muito rápido. Aliás, vivemos duas realidades distintas: o tempo dos humanos “Chronos” e o tempo de Deus “Kairós”. O tempo cronológico, marcado pelos ponteiros do relógio e da competitividade; e o tempo de Deus que não está limitado pela ação humana. Deus é o Senhor da história e do tempo. Cabe a nós, no nosso tempo, nos encaixarmos no tempo de Deus e deixar que a sua vontade se manifeste nas ações que vamos realizando. “Mil anos para Deus é como um dia, e um dia é como mil anos”. (2Pd 3,8) Deus não mede o tempo como nós. É por isso que Ele está sempre dando a todos a oportunidade de conversão.

No tempo de Deus (“Kairós”), vamos deixando pulsar o nosso coração. Aliás na data de hoje, comemoramos o “Dia Mundial do Coração”. Este momento foi escolhido pela Federação Mundial do Coração, sendo oficializado no ano 2000. O principal objetivo de se lembrar do coração foi o de demonstrar a importância dos cuidados que devemos ter com a saúde do coração, para uma vida melhor e saudável. As ações acontecem em vários níveis e buscam a prevenção como forma de ser mais saudável. Lembrando que muitas doenças cardiovasculares são assintomáticas. Sem nenhuma indicação, as pessoas só descobrem que precisam de cuidados quando algum quadro se manifesta, como um infarto, por exemplo.

Para o povo bíblico, o coração é o centro onde está localizado todo o poder de decisão das pessoas. Na linguagem bíblica, o “coração” é o mais íntimo da pessoa humana, o fundo da alma, onde se encontra a raiz e a verdade de todos os pensamentos, desejos, sentimentos, intenções e decisões. O apóstolo Paulo soube entender muito bem esta verdade, ao dizer em uma de suas cartas: “não julguem nada antes do tempo; esperem que chegue o Senhor. Ele porá às claras tudo o que se esconde nas trevas, e manifestará as intenções dos corações”. (1Cor 4,5) Só Deus mesmo pode fazer a verdadeira justiça, pois só ele conhece a totalidade e profundidade das pessoas, para além das aparências e interesses escondidos.

Minha oração nesta manhã foi junto à comunidade de Santo Agostinho, no Parque Amazonas, periferia de São Félix do Araguaia, onde celebrei com esta comunidade de povo simples e humilde. Pedi licença a São Jerônimo, que estaremos celebrando amanhã, para sintonizar-me com o pensamento de Santo Agostinho, o “Bispo de Hipona”, quando ele nos aconselha: “Sê humilde para evitar o orgulho, mas voa alto para alcançar a sabedoria”. Sintonia com o filho de Santa Mônica e com o texto proposto pela liturgia para a nossa reflexão no dia de hoje, retirado do Evangelho de Marcos 9,38-43.45.47-48.

Um texto de difícil compreensão exegética. É preciso ter cuidado para não interpretá-lo fora de seu contexto. Foi assim com os discípulos de Jesus e também para todos nós hoje. Texto que requer uma hermenêutica aprofundada, para entendermos o verdadeiro sentido das palavras de Jesus, quando Ele diz: “Quem não é contra nós é a nosso favor”. (Mc 9,40) naquele contexto, Jesus está desafiando o seu discipulado, a deixarem de lado os interesses pessoais e de grupo e a viverem na lógica do Reino de Deus. Ou seja, não serem uma comunidade fechada, sectária, intransigente, arrogante, e a acolherem de braços abertos todos aqueles e aquelas que se dispõem a trabalhar por um mundo mais humano, mais justo e fraterno; que não excluam da dinâmica comunitária os pequeninos e os pobres; que arranquem de suas vidas todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção primeira pelo Reino.

É muito importante saber que Jesus não quer que o grupo daqueles que o seguem se torne uma “seita” fechada e monopolizadora da sua missão. Toda e qualquer ação que é realizada, visando primeiramente o bem da pessoa humana, fundamentada no Evangelho, de forma consciente e com discernimento, é parte integrante da missão de Jesus. Neste sentido, a Igreja precisa fazer urgentemente um exame de consciência para ver se não está tendo as mesmas atitudes iniciais dos discípulos de Jesus, querendo proibir que outras pessoas falem e façam suas ações, independente da Igreja. Quem luta pela justiça, e usa de misericórdia e compaixão, fazendo ações em favor da pessoa humana, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não estejam formalmente dentro de determinado grupo religioso. Neste sentido, conheço pessoas autenticas e verdadeiras, mais do que aquelas que não saem de dentro da Igreja, “comungando” e se achando mais próximas de Jesus do que estas outras. Não basta ter fé e acreditar. É preciso trazer o projeto do Reino de Deus dentro do coração, através da ação.