Sexta feira da Vigésima Sexta Semana do Tempo Comum. Outubro lá vem sextando. Se para alguns, este é o dia da boemia, para os mais devotos, trata-se do Dia do Sagrado Coração de Jesus. A primeira sexta feita de cada mês, especialmente, se celebra nesta devoção. Como o mês de outubro é o mês dedicado às missões, ter o Sagrado Coração de Jesus como ponto de partida, denota uma grande iniciativa missionária. Como já dizia o nosso saudoso Papa Paulo VI: “é urgente que se ponha toda a Igreja em estado de missão”. Em tempos de “Sinodalidade”, se faz mais urgente ainda. Nossa missão é evangelizar. Viver a fé de forma engajada e comprometida com as causas do Reino.
Todo esforço tem sido feito no pontificado do Papa Francisco, no sentido de transformar a ação eclesial num permanente estado de missão. Com a sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), ele propõe uma total renovação da Igreja, na alegria de evangelizar, numa conversão pastoral, numa Igreja em saída, reforçando a nova evangelização e todo o conteúdo teológico missionário dos outros papas e do Concílio Vaticano II, sobretudo a partir da Constituição Pastoral Gaudium et Spes: “O Evangelho do Senhor que salga e ilumina, através da missão da Igreja, todas as realidades humanas, pessoal, familiar, social, cultural, política, econômica, artística, corporal, psicológica, educacional, espiritual, resgatando a dignidade da pessoa humana, promovendo e libertando-a integralmente, mergulhando-a no mistério salvífico de Cristo”. (EG 14-15; 21-23; CAPÍTULO III e IV).
Sextou no sexto dia do mês de outubro, mas os nossos olhares eclesiais e humanitários ainda estão voltados para o dia de ontem. Dia do nascimento de Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida (1930-2006) Se ainda estivesse neste plano conosco, faria 93 anos. Arcebispo de Mariana (MG), mas antes, foi bispo auxiliar na Arquidiocese de São Paulo. Também secretário-geral e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Religioso Jesuíta, ingressando na Companhia de Jesus em 1947, foi um servo de Deus, que dedicou sua vida a serviço dos pobres, oprimidos e marginalizados. Evangelizou com a sua própria vida, na simplicidade que lhe era própria.
Já os olhos humanitários se voltam para um grande acontecimento ocorrido no dia de ontem. A Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu para um de seus quadros o indígena Ailton Krenak, para ocupar a cadeira de número 5. Indígena mineiro, filósofo, professor, escritor, poeta, ambientalista e líder ativista da causa dos povos originários é o primeiro indígena a se juntar à instituição. A ABL, entidade de caráter cultural e literário, que nasceu em 1897, graças aos nomes exponenciais de escritores tais como, Machado de Assis, Lúcio de Mendonça e Medeiros e Albuquerque, Graça Aranha, Afonso Celso, Rui Barbosa, Visconde de Taunay, Teixeira de Melo, Joaquim Nabuco, Olavo Bilac, dentre outros mais.
É a primeira vez em toda sua história que a Academia acolhe um indigena nos seus 126 anos de existência. Dai decorre o quanto a nossa sociedade é exvlusivista, abrindo-se à possibilidade de ter um seus quadros um poeta com uma visão de mundo muito apropriada para este momento em que o mundo está preocupado com o meio ambiente, com as mudanças climáticas, na luta constante dos povos originários pela defesa da Mãe Natureza, como Ailton Krenak mesmo afirma: “É importante viver a experiência da nossa própria circulação pelo mundo, não como uma metáfora, mas como fricção, poder contar uns com os outros”.
Viver sem medo de ser feliz! Cada um realizando a sua missão, mas com os olhos e as mãos conectados uns aos outros para que estas ações sejam conjuntas e permanentes. Somos habitantes passageiros neste mundo. A nossa estada por aqui, deve ser vivida de tal forma que possamos dar a nossa parcela de contribuição, para que a vida seja mais leve, e assim, possamos viver na integralidade com que Deus nos criou. Não fazer como os habitantes das cidades de Corazim e Betsaida, que não souberam e nem tiveram ouvidos para ouvir a proposta dos profetas, conforme adverte Jesus no texto do evangelista Lucas, que lemos hoje em nossa liturgia.
Evangelizar é preciso! Evangelizar-nos é imprescindível! Fechar os olhos do coração e da mente para o advento da Boa Nova, é tudo que Jesus não quer. Deixar de acolher Deus que nos fala através de sua Palavra e por meio dos sinais dos tempos, é o principio fundante da fé cristã. Jesus não quer aterrorizar os seus ouvintes, fazendo uso de uma “pedagogia do medo”, mas alertá-los para o saber acolher e cuidar das coisas relacionadas à Boa Notícia no caminho, e assim começarem a realizar os atos que concretizam o Reino de Deus aqui e agora neste mundo. Jesus falando às claras com os que os seus ouvintes, num “papo reto”, como diz a nossa juventude. Como bem resumiu Dom Luciano Mendes, em uma de suas frases: “As palavras sinceras podem às vezes não ser agradáveis, e as palavras agradáveis podem não ser sinceras”. Evangelizar com o coração dentro da Boa Nova e os pés fincados no chão da história.
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