Terça feira da Décima Semana do Tempo Comum. Estamos dando o primeiro passo para vencer a segunda dezena deste mês. Santo Antônio está bem ali na esquina, esperando por nós, com os seus festejos. A vida vai se constituindo na caminhada. Caminhar, às vezes tropeçando, caindo, mas sempre levantando e reinventando. Nossa missão é caminhar! Ninguém nasceu para ser estático, mas sempre em movimento na incessante busca pelas nossas realizações. A vida é um permanente caminhar. Um passo de cada vez, sequenciados na mesma perspectiva do que nos dizia a poetisa goiana Cora Coralina: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”.

Caminhar com a Igreja, em sintonia com a liturgia, que neste dia nos convida a celebrar a vida do apóstolo São Barnabé. Barnabé que quer dizer “filho da consolação”, embora não tenha pertencido ao grupo de Jesus, é chamado apóstolo. Ele não chegou a conhecer Jesus pessoalmente, mas fez a sua adesão ao Mestre Galileu, nos primeiros anos do Cristianismo, e teve um papel importante na expansão da Igreja para além-fronteiras. Este seu trabalho missionário custou-lhe a vida, pois, como era de costume nas primeiras gerações do cristianismo, muitos foram martirizados, como é o caso deste apóstolo, sendo apedrejado até a morte por judeus sírios, no ano 61.

No primeiro século do cristianismo, no berço nascedouro da igreja primitiva, os primeiros cristãos, eram conhecidos como “os do Caminho”. Toda a ação desenvolvida por eles era na caminhada, cumprindo assim uma jornada missionária. Foram peregrinos e, com seu estilo de vida simples e austera, anunciavam a Boa Nova do Evangelho, um novo estilo de vida, como um renascer, um modo de vida na contramão de sua cultura e da sociedade daquela época. Acreditavam na possibilidade de outro mundo possível. Com os ensinamentos de Jesus, sua prédica e prática, adquiriram raízes e eram fieis até a morte. Raízes que os mantiveram firmes nas adversidades próprias do caminho. Muitos deram a vida pela causa de Jesus. Corajosamente viviam a Palavra, os ensinamentos d’Ele, e o Projeto de Deus se fazia conhecido através deles.

“Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça”, dizia a seu tempo, santo Óscar Romero (1917-1980), bispo de São Salvador, em El Salvador. Foi duramente perseguido e assassinado, por se aliar ao Projeto do Reino anunciado por Jesus. Muitos outros ainda, mártires da caminhada, pagaram com a vida pelas causas do Reino. A Igreja da Caminhada possui muitos mártires anônimos, homens e mulheres que levam adiante, em sua missão pelo testemunho, o sonho de Deus, acreditando naquilo que foi dito por Jesus: “Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. (Lc 21,18) Com tantas igrejas (templos) espalhadas por este Brasil afora, pouco vemos de profetismo, de anúncio e denúncia das injustiças. Padres e bispos fazem verdadeiros malabarismos e conseguem desviar do foco principal de uma Igreja da Caminhada, perseguida pela sua sintonia com a Testemunha Fiel: Jesus.

Assim como ontem, o Lecionário Litúrgico da Igreja Católica nos propõe mais uma vez nesta terça feira um texto retirado do Evangelho de Mateus. Nele, Jesus está enviando seus discípulos em missão. Primeiro, os preparou com os seus ensinamentos e suas ações messiânicas de libertação. De discípulos do Mestre, eles passam a ser apóstolos enviados em missão. Missão esta que se realiza no caminho: “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’” (Mt 10,7) A missão deles é reunir o povo para seguir a Jesus, o novo Pastor. Ela se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação que concretiza os sinais da presença deste Reino. Esta missão se desenvolve em clima de gratuidade, pobreza e confiança total, e comunica o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana. Os enviados são portadores da mesma libertação de Jesus.

“Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão”. (Mt 10,9-10) A vida do apóstolo é marcada pela simplicidade e austeridade, pois mais importante que a aparência física, é a missão que cada um está incumbido de levar adiante. Basta que levem consigo os valores do Evangelho que se caracterizam pelo amor gratuito e incondicional; pelo perdão sem limites e pela solidariedade com as causas dos pequenos do Reino; pela misericórdia e compaixão para com aqueles que estão caídos a beira do caminho. A missão é árdua e os apóstolos de Jesus precisam entender que fora dos pobres não há salvação para aqueles que desejam fazer o mesmo caminho de Jesus. “De graça recebestes, de graça deveis dar!” (Mt 10, 8). Pobreza evangélica, como bem expressou nosso bispo Pedro em um de seus poemas, fazendo dele seu programa de vida: “Não ter nada. Não levar nada. Não poder nada. Não pedir nada. E, de passagem, não matar nada; não calar nada”.