Quarta feira da Quinta Semana da Quaresma. O chamado à conversão continua a cada passo dado no sentido de viver a nossa fé encarnada no contexto em que vivemos. Cada dia que passa, a nossa Casa Comum, está sendo agredida sistematicamente pela ação humana inconsequente dos donos do capital. Estamos assim pagando um alto preço, decorrente desta nossa irresponsabilidade para com a Mãe Natureza, obra criada pelo Criador, para nos dar o melhor para a nossa subsistência neste Planeta. Não dá para adiar mais a nossa mudança no jeito de ver, sentir e viver, diante desta força natural que nos move. Resta-nos pedir a força de Deus para que possamos encarar esta problemática, rezando com a Oração da Campanha da Fraternidade: “Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão que de ti recebemos: cultivar e guardar a Criação, no cuidado e no respeito à vida”.Amém!
Cuidar da Casa Comum é estar em sintonia com os povos Originários. Eles que são exímios defensores da sua/nossa Mãe Terra. Aliás, neste dia 9 de abril, a etnia Enawenê Nawê, está de luto. Nesta data, em 1987, era assassinado Vicente Cañas (1939-1987). O irmão Vicente Cañas, nasceu na Espanha, e em 1961, com 21 anos de idade, ingressou no noviciado São Pedro Claver da Companhia de Jesus (Jesuítas), em Barcelona. Desembarcou no Brasil, em janeiro de 1966. Em abril de 1987, um grupo de fazendeiros e pistoleiros, o martirizaram brutalmente, com pauladas na cabeça, por defender a vida e o território dos Enawenê Nawê, no noroeste do estado de Mato Grosso. O jesuíta estava no seu barraco, que construiu junto ao rio Juruena, município de Juína (MT). 38 anos se passaram, desde que o sangue do Irmão Vicente Cañas foi derramado, em defesa da Causa Indígena. É também por estas e outras, que sempre dizemos por aqui: “A Causa Indígena é de todos nós!”
A Causa Indígena é também uma das causas de Jesus. Ele que veio tendo por destinatários primeiros os empobrecidos e marginalizados. Jesus não nasceu num palácio das elites, e nem esteve a serviço das autoridades centradas no Templo de Jerusalém. É na periferia de Nazaré que nasce o Filho de Deus, gestado no útero de uma mulher simples e humilde, como eram marginalizadas todas as mulheres naquele contexto; criado e ensinado no berço de um casal pobre, sendo seu pai um homem da linhagem de Davi. Nasceu pobre, no meio dos pobres, e voltado para os pobres. Em Jesus, Deus tem um lado: o lado dos empobrecidos. Conhecedor desta condição de Jesus, que levou o nosso bispo Pedro, certamente, escrever um de seus versos: “No ventre de Maria, Deus se fez homem, mas na oficina de José Deus também se fez classe“.
Como nos dias anteriores, seguimos refletindo com o Evangelho de João. Os escritos deste evangelista são diferenciados dos demais Evangelhos Sinóticos. Com uma linguagem mais refinada, em João, Deus testemunhou seu amor, entregando seu Filho único para que as pessoas tenham a vida. Estas pessoas, por sua vez, respondem ao amor do Pai quando, do mesmo modo, se abrem para o dom maior deste amor, pondo-se a serviço da vida dos irmãos e irmãs da caminhada. Desta maneira, somos convidados e convidadas, a refletir este Evangelho, colocando-nos em clima de julgamento, para nos abrirmos à luz de Deus que, mediante Jesus, ilumina a nossa vida e nos leva a tomar uma decisão: aceitar e continuar a obra de Jesus para termos definitivamente a vida, ou rejeitar o projeto de Jesus e estarmos definitivamente condenados, aliados aos poderosos.
Como anteriormente, Jesus segue dialogando com os judeus. Evidente que não se trata aqui dos judeus de maneira geral indiscriminadamente, mas das autoridades religiosas judaicas. Com sua pedagogia do ensinamento, Jesus tenta convencê-los de que Ele era aquele a quem eles deveriam seguir, se quisessem estar afinados com a proposta libertadora de Deus, que Ele veio anunciar: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8,31-32) João, nos apresenta Jesus como o representante maior da sabedoria de Deus, que um dos expoentes da literatura bíblica sapiencial, já nos alertara bem antes: “Em Deus estão a sabedoria e a força, a Ele pertencem a perspicácia e a inteligência”. (Jó 12,13)
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai.” (Jo 14,6-7) Jesus é o verdadeiro caminho para a vida. Através da encarnação, Deus, doador da vida plena, se manifesta inteiramente na pessoa e na ação de Jesus. Os que o seguem, não caminham para o fracasso, pois a meta é a vida. Ele não apresenta apenas uma utopia, mas convida-nos a percorrer um caminho historicamente concreto. A verdade que liberta é aceitar a vida nova trazida por Ele, que relativiza tudo aquilo que antes parecia absoluto: riqueza, poder, ideias, estruturas. A liberdade só é possível quando se rompe com uma ordem injusta, que impede a experiência profunda do amor de Deus, através do amor à pessoa humana. Seguindo a Jesus estamos nos humanizando pela sua palavra, que João chama de “Logos”, significando: “Palavra”, “diálogo”, “projeto”, “Verbo”.
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