Vigésimo Domingo do Tempo Comum. Solenidade da Assunção de Maria. No calendário litúrgico esta festa acontece no dia 15 de agosto. Entretanto, a Igreja entende que, para uma maior e melhor participação nas comunidades, já que na semana as pessoas têm os seus trabalhos, esta solenidade é transferida para o domingo próximo, que é o dia de hoje (18). Independente do Ano Litúrgico A, B ou C, o Evangelho desta Solenidade é sempre o mesmo: Lc 1,39-56. Este é um dos textos mais conhecidos e revolucionários do Novo Testamento: a visitação de Maria à sua prima Isabel, e o famoso Cântico de Maria (Magnificat).
De todos os evangelistas, Lucas é o único que nos traz em sua obra, o relato da infância de Jesus, que está contido nos dois primeiros capítulos do Evangelho. A narrativa destes dois capítulos faz uma introdução literária e síntese teológica de toda a sua obra, que será continuada no outro livro, também escrito por este evangelista: Atos dos Apóstolos. Lembrando que no todo de seu Evangelho, Lucas apresenta o caminho de Jesus; já em Atos, temos o caminho da Igreja (eclesia). Juntos, formam o caminho da salvação, com o centro de referência em Jerusalém. Esta cidade é o ponto de chegada do caminho de Jesus. Aí ele vai morrer, ressuscitar e subir ao céu, terminando a sua missão. É também o ponto de partida do caminho dos apóstolos (Igreja) que prossegue a missão de Jesus até os confins da terra. (At 1,8).
Maria da libertação! Senhora da Assunção! Maria Mãe de Deus! (Theotókos). Maria revolucionária de Deus, que traz em si o sinal da transformação/libertação. Mulher simples do meio do povo pobre, periferia de Nazaré. Deus que olha para os pobres e os escolhem como destinatários primeiros, a fazerem parte de seu projeto de salvação. Maria de minha infância, que aprendi a conhecer no ventre maternal, daquela que, pela sua fé de mulher simples e iletrada, me fez conhecer a Mãe de Deus e nossa. Ela que iniciou comigo os meus primeiros passos na fé cristã, me fazendo conhecer a Mãe de Jesus, sem dogmas e tradições religiosas rebuscadas.
Maria de minha infância. Ela sempre esteve presente em minha vida. Nas horas boas e nas outras horas também. Cresci sabendo que ela estava ali. O modo de ser da minha saudosa genitora, me fazia espelhar nela a Mãe de meu Senhor. Ela era a minha “Maria”, que me socorria e me oferecia o seu colo amoroso e quente para descansar a minha cabeça. Através dela, eu pude imaginar que o colo da Mãe de Jesus, era infinitamente acolhedor, pois acolhia a minha mãezinha e eu, ao mesmo tempo. Descansei muitas vezes a fadiga do meu coração no colo daquela que Deus escolheu para ser a nossa Mãe. Seu colo é minha proteção, meu abrigo e meu refúgio. Sei que você estará sempre pronta para me receber, mãe.
Senhora da Assunção. Senhora do Magnificat. A voz de Deus ressoando no coração de uma mulher simples e insignificante para a sociedade daquela época. Maria e Isabel, duas mulheres que se encontram para falar dos planos de Deus para suas vidas. Isabel, já com toda uma história de vida, sem imaginar que seria a mãe de alguém tão importante, ainda mais sabendo-se estéril; Maria, a mulher escolhida a dedo por Deus, para iniciar a Nova Aliança de Deus com a humanidade. Duas histórias de vidas que se encontram, mostrando que Deus não estava para brincadeiras, tornando-as protagonistas da nova história. Deus que não abre mão de contar com a participação de duas mulheres, trazendo-as para o centro de seu projeto de amor. Bastou o acreditar de Isabel e o “Sim” decidido de Maria, para que Deus projetasse novas coordenadas para a história humana.
A visitação de Maria a Isabel acontece na Judeia, um local de grande agitação política e religiosa, já que os judeus, equivocadamente, esperavam a chegada do Messias, um líder que libertaria o povo judeu do domínio romano e estabeleceria um reino judaico independente. Dois ventres maternos, abençoados por Deus, encontrando. Ainda no seio de sua mãe, João Batista recebe o Espírito prometido e reconhece o Messias Salvador, e o aponta através da exclamação de sua mãe Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1, 42) Despois deste encontro teológico de gerações, Maria declama o Magnificat, descrevendo o programa que Deus tinha começado a realizar desde o começo, e que prossegue agora em Maria e em todos os seguidores e seguidoras para todo sempre. Não há dúvida de que o cântico de Maria é o cântico dos pobres que reconhecem a vinda de Deus para libertá-los através de Jesus. Desta forma, cumprindo a sua promessa, Deus assume o partido dos pobres, e realiza uma transformação na história, invertendo a ordem social: os ricos e poderosos são depostos e despojados, e os pobres e oprimidos são libertos e assumem a direção dessa nova história. E viva Maria, com o seu Cântico Revolucionário de Deus, subvertendo a história!
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