Quinta feira, Solenidade da Imaculada Conceição de Maria.
Festa na Igreja. Festa na comunidade daqueles e daquelas que anseiam pela libertação. Festa dos pobres de Javé. Festa na periferia, de onde vem a força de Maria da libertação. As quebradas estão em festa, fazendo a memória viva da mulher forte e destemida, enfrentando todas as formas de preconceito, aceitando ser protagonista do Projeto libertador de Deus. O seu “Sim” foi apenas o começo de uma jornada que culminaria aos pés da cruz, vendo seu Filho morrer e recebendo deste a incumbência de ser a Mãe de todos nós. Ainda bem que a cruz (morte) não foi o fim, mas o começo como Ressurreição para a vida em Deus.
Maria, a mulher forte e corajosa. Enfrentou tudo e a todos. Desde o preconceito e a discriminação, até o julgamento cruel das mentes moralistas, por aparecer grávida diante daquela sociedade machista, sem estar coabitando com homem algum. Certamente não foi de todo fácil dizer o seu “Sim” à Deus, mas o fez na confiança e na entrega total de si mesma, sabendo estar diante do Deus do impossível. Um Sim manifesto não somente à Deus, mas em favor de toda a humanidade, uma vez que em Maria, Deus realiza o seu Projeto Salvífico no tempo e na história humana. A graça divina de Deus se fazendo presente em nós, por intermédio de uma mulher que aceitou integrar ao projeto de libertação trazido pelo Emanuel – Deus Conosco.
Em Maria, a divindade de Deus se faz humano ao gestar em seu ventre o Filho de Deus. O Verbo encarnando em nossa realidade terrena, nos dando a chance de alcançar o divino em Deus Salvador. Ela acreditou e se entregou nos braços do Pai, trazendo em seu útero a semente da esperança teofânica de Deus. Um encontro pessoal com Deus na pessoa de um anjo, no qual a revelação da vontade de Deus se manifesta de forma tangível: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus” (Lc 1,30-31). Esta manifestação de Deus na vida desta pobre mulher não tem o objetivo de realçar apenas a virgindade de Maria, antes a de demonstrar o caráter da divindade e ao mesmo tempo a humanidade do menino Jesus que vai ser acolhido carinhosamente naquele ventre materno. Deus que faz questão que o seu pequeno nasça no ambiente sagrado daquele útero de uma mulher, mostrando assim a face feminina e materna inequívoca do Deus que quer estar no meio de nós.
O Concílio Vaticano II, acontecido em Roma, Itália, entre os anos 1962 e 1965, com a participação efetiva de mais de dois mil bispos de todo o mundo, foi o Concílio mais importante e representativo dos 21 que se realizaram na história da Igreja. Este Concílio foi um marco divisor de águas na história da Igreja. Nele houve a renovação da vida e missão da Igreja no mundo. Neste Concílio houve também a renovação da Mariologia, fazendo com que esta fosse parte integrante da Teologia, ressaltando assim as glórias e os privilégios da Virgem Mãe. Graças a um dos documentos do Concilio, “A Virgem Maria, que na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo, e deu a Vida ao mundo, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor”. (LUMEN GENTIUM – 53)
Maria, a mulher da caminhada com o povo sofredor. Neste sentido, o Concilio também nos trouxe presente de maneira muito forte a dimensão antropológica de Maria. Ou seja, sublinhou o lado humano da Mãe de Jesus, mostrando-a como mulher livre e de fé, pessoa consciente e responsável, que cooperou ativamente no projeto salvífico de Jesus. Mãe e Filho como testemunhas fieis e co-autores do Projeto de Deus. Ao falar de Maria, a preocupação primeira do Concílio foi antes renovar a vida de fé da comunidade cristã e não criar novos dogmas marianos, orientando para que a piedade mariana fosse mais autêntica, evitando exageros e possíveis desvios.
Quem diria que a esperança libertadora do sonho de Deus brotasse também através da vida de uma mulher, pobre das quebradas da periferia de Nazaré? Maria, a mulher guerreira. Aquela que personifica em si a força como legitima representante da comunidade dos pobres, que anseiam e esperam pela libertação em Deus. Maria da libertação! É o que nos apresenta o evangelista Lucas na liturgia de hoje. Lembrando que a “Comunidade Lucana” é, por excelência, aquela que nos traz a narrativa com detalhes do nascimento do Menino Deus. O Espírito Criador está gestando nela a pessoa humana de Jesus. O Divino se fazendo Humano. É como se preparasse o útero desta grande mulher para acolher em si o Salvador da humanidade. Maria é aquela que acreditou na intervenção divina em sua vida e, através de seu “Sim”, se coloca como co-fundadora do projeto Messiânico de Jesus.
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