Segunda feira da quarta semana do Advento.
Finalmente, entramos na semana do Natal. Em poucos dias, estaremos dentro da Festa do Deus Menino. Deus ainda acreditando a humanidade, permitindo que celebremos o aniversário de nascimento de seu Filho que veio estar conosco.
Ele está no meio de nós! Uma dádiva de Deus para nós, nesta trajetória histórica que, cujo fato de estarmos vivos, já se torna um presente a nós dado pelo próprio Deus que assim o permitiu. Que venha o Menino Deus!
Enquanto isso, vamos colecionando dissabores e contradições. Viver se torna cada dia mais perigoso pelas ameaças das estruturas de morte que se instalaram no meio de nós. O Brasil está entre os países mais difíceis para se viver com alegria. Pelo menos esta é uma das constatações feitas pelo Relatório “Começo do fim?”, divulgado agora em dezembro de 2021. Segundo este relatório, “o Brasil é um dos lugares mais perigosos para exercer e exigir Direitos Humanos”. Esta é uma das comprovações feitas pelo ativista Antonio Neto. Nós que estamos na linha de frente na defesa dos direitos dos povos indígenas, comungamos com esta triste afirmação. Direitos humanos para humanos direitos!
“Que país é este”, perguntava Cazuza em sua canção. Como não nos lembrarmos dos profissionais servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estão sendo ameaçados de morte, por terem aprovado a imunização de crianças contra a Covid-19. O próprio mandatário da nação solicitou os nomes dos técnicos que tinham dado o seu voto, aprovando a Pfizer contra Covid para crianças de 5 a 11 anos. Uma atitude nefasta surreal para nós que vivemos neste país que já foi chamado de “um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Um país que, definitivamente, não merece os governantes que possui.
Entretanto, há sinais de esperança no ar. Olhando para o lado, vemos que na nossa América do Sul, nossos vizinhos, estão com mais juízo que nós. Ontem foi confirmada a vitória do deputado Gabriel Boric, eleito para a presidência do Chile, derrotando o advogado José Antonio Kast, candidato de extrema-direita. Até o presente momento, com quase todas as urnas abertas, ele está com 55,86% dos votos, enquanto seu adversário com 44,14%. O Chile dando uma demonstração de força, afastando o fascismo do poder, dando-nos uma lição de como fazer no nosso país para varrer esta necropolítica que se instalou aqui no Brasil. Que venha 2022!
Quem diria que a esperança brotasse também através da vida de uma mulher, pobre da periferia de Nazaré!? Todavia, uma mulher guerreira. Aquela que personifica em si a força como legitima representante da comunidade dos pobres, que anseiam e esperam pela libertação. Maria da libertação! É o que nos apresenta o evangelista Lucas na liturgia de hoje. Lembrando que a “Comunidade Lucana” é, por excelência, aquela que nos traz a narrativa com detalhes do nascimento do Menino Deus. O Espírito Criador está criando nela a pessoa humana de Jesus. O divino se fazendo humano. É como se preparasse o útero desta grande mulher para acolher em si o Salvador da humanidade. Maria é aquela que acreditou na intervenção divina em sua vida e, através de seu sim, se coloca como co-fundadora do projeto Messiânico de Jesus.
Maria é aquela que experimenta em si a teofania de Deus. Um encontro pessoal com Deus na pessoa de um anjo, no qual a manifestação da vontade de Deus se manifesta de forma tangível: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus” (Lc 1,30-31). Esta manifestação de Deus na vida desta pobre mulher não tem o objetivo de realçar apenas a virgindade de Maria, antes a de demonstrar o caráter da divindade e ao mesmo tempo a humanidade do menino Jesus que vai ser acolhido carinhosamente naquele ventre materno. Deus que faz questão que o seu pequeno nasça no ambiente sagrado daquele útero de uma mulher, mostrando assim a face feminina e materna inequívoca do Deus que quer estar no meio de nós.
Ele está no meio de nós! E aqui, não se trata de uma retórica celebrativa que repetimos centenas de milhares de vezes em nossas comunidades. Deus não quer atuar sozinho. Ele toma a iniciativa e vem ao nosso encontro. Foi assim com Maria e é assim também para conosco. Ele faz a proposta e aguada a nossa resposta. Não nos violenta, mas aguarda por nossa resposta livre, sincera a gratuita, diante de cada contexto que vivemos. Mais do que ninguém, Deus respeita a liberdade humana. Resta-nos, como Maria, colocarmo-nos nas mãos de Deus ao seu serviço, para que assim se manifeste em nós graça de Deus. Que tenhamos em nós a mesma coragem e disponibilidade de Maria para poder também dizer: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se (Lc 1,39)
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