Quinta feira da vigésima quarta semana do tempo comum.
Um dia especial para a História da Igreja. No dia de hoje, celebramos a festa de Nossa Senhora das Dores. Coincidentemente, um dia após celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, Maria aparece no cenário memorial da Igreja Católica. Devoção que passou a fazer parte da vida da Igreja no final do século XI. Todavia, em 1814, o Papa Pio VII, fez questão de incluir no calendário litúrgico romano, estabelecendo assim o dia 15 de setembro como o dia específico da festa da “Mãe das Dores”. “As mesmas chagas que estavam espalhadas pelo corpo de Jesus, se achavam todas reunidas no coração de Maria” (São Boaventura)
Maria dos vários títulos, das mais variadas devoções. A Mãe das Dores, a Senhora das Dores, ou a Mãe Dolorosa, são alguns dos títulos que foram sendo atribuídos à Mãe. Este título se refere às sete dores que Maria de Nazaré sofreu ao longo da sua vida terrestre, principalmente nos momentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus: profecias de Simeão – Lc 2, 34-35; a fuga da Família de Nazaré para o Egito – Mt 2, 13-21; a perda do Menino Jesus no templo – Lc 2, 41-51; encontro com Jesus caminhando para a morte – Lc 23, 27-31; a morte de Jesus na Cruz – Jo 19, 25-27; Maria recebe o corpo do filho tirado da Cruz – Mt 27, 55-61; a sepultura de Jesus – Lc 23, 55-56.
Maria de Deus, Maria da gente! Maria do povo de Deus! A senhora de todas as horas e todas as provações. A mulher fiel que deu o seu Sim decidido e se entregou confiante nas mãos de Deus. Ela sabia que a sua vida seria marcada por uma caminhada que deveria percorrer. O seu Sim a Deus não significou a ausência de dificuldades ou de conflitos, mas a certeza de que não estava sozinha nesta dificil missão de ser a Mãe do Salvador e nossa. Colaboradora direta no projeto salvífico de Deus, se fez peregrina da esperança. A bandeira da paz desfraldada permanentemente no seu interior, fazendo dela a nossa Rainha da Paz. Mãe de todas horas.
Rezei com a Mãe no silencio monástico desta manhã primaveril em meu quintal. A penumbra da noite trouxe-me a presença da Mãe. Meu interior se rejubilou com a presença feminina da Mãe de todas as mães. Cantarolei no meu íntimo um dos versos da poesia de Pedro: “Por companhia, Maria; como serviço, Jesus; por entre as noites e os dias, o claro-escuro da cruz”. Cruz do serviço. Cruz da entrega confiante. Cruz da fidelidade. Cruz da Palavra dada. Cruz do amor plenitude de amorosidade, ternura e esperançamento. Cruz da certeza da vitória da vida contra todos os contextos da morte. O amanhã vai florir. Vamos voltar a sorrir. O Deus que é tudo em todos, em Maria, nossa Mãe, vai nos fazer ressurgir. Deus se fazendo plenitude na esperança do coração da Mãe.
Lembrar da Mãe de todos nós é lembrar aquela que guardou em seu ventre a semente da vida que me fez gente no acalento de seu afável útero. Ao gestar-me para a vida, impregnou em minhas entranhas, o selo divinal da Mãe da humanidade inteira. Vendo a mãe com o seu zelo por mim, projetei para além dela a presença da Mãe de Deus em si. Minha mãe era o protótipo da Mãe das dores. Nela eu avistava o rosto materno de Deus em plena amorosidade e ternura por mim. As duas faces de uma mesma mãe sempre acompanharam a minha trajetória de vida, fazendo de mim o devoto inconteste daquela que é fidelidade em pessoa. Maria de todas as dores se faz presente em mim nas dores solidárias que trago em minha história de vida. “Aprendamos com Jesus e Maria a abraçar as cruzes, porque sem elas não podemos viver neste mundo” (Santo Afonso de Ligório).
A liturgia desta quinta feira nos brinda com duas possibilidades de textos para a nossa reflexão: (Jo 19,25-27); (Lc 2,33-35). A primeira delas nos trazendo Maria como a mãe de Jesus e de toda a humanidade, representando todo o povo da Antiga Aliança. Povo este que, a duras penas, permaneceu fiel às promessas e na espera pelo Salvador. Ao lado da Mãe está o discípulo fiel. O discípulo amado, que representa o novo povo de Deus, formado por todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão a Jesus de Nazaré. Nesta relação mãe-filho, o evangelista São João nos mostra a unidade e a continuação do povo de Deus, fiel à promessa e herdeiro da sua realização. Somos parte deste processo e nos vemos tanto na Mãe quanto no discípulo amado.
O segundo texto que é a narrativa da Comunidade Lucana, onde Maria acompanha de perto os primeiros passos do Menino Jesus. O casal de idosos Simeão e Ana, que também representam os pobres que esperam a libertação, sendo contemplados com o esperançar de Deus que abre um novo horizonte em suas vidas. A esperança de Deus florindo no horizonte próximo daquele casal. Estamos diante do Cântico de Simeão, que relembra a vida e a missão do Messias. Maria ouve atenta aquilo que se descortinaria à sua frente: seu Filho Jesus será sinal de contradição, isto é, julgamento para os ricos e poderosos, e libertação para os pobres e oprimidos, conforme o evangelista Lucas assim o atesta (cf. Lc 6,20-26). Maria de todas as dores vem caminhar com as nossas dores e nos faça sorrir no florir da primavera que vai reluzir! Sem medo de ser feliz! Sem medo de qualquer infeliz!
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