Quinta feira da vigésima terceira semana do tempo comum.
Estamos a caminho da primavera, a estação da esperança do florir de novo. Das cinzas brota a semente da esperança de um novo porvir. Aprender com a primavera que de dentro de cada um de nós vai nascer a esperança, de que vamos conhecer os frutos que hão de vir. Que sejamos capazes de trazer em nós o pensamento da escritora portuguesa Florbela Espanca (1894-1930): “Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder, para me encontrar.”
Como educador que sou não poderia deixar este dia passar em branco sem me recordar de que neste dia 8 de setembro comemoramos o Dia Mundial da Alfabetização. Data esta que foi criada em 1967 pela (ONU) e também pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Tudo no intuito de que, os assuntos e as questões ligadas à alfabetização, fossem discutidos no mundo inteiro, promovendo assim o amplo debate sobre a importância da alfabetização, principalmente em países como o nosso, que ainda possuem índices relevantes de analfabetismo. No Brasil, por exemplo, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 6,6% da população brasileira não sabia ler e nem escrever no ano de 2019. São aproximadamente 11 milhões de pessoas nestas condições de analfabetismo. Isso sem falar dos 29% da população que são considerados analfabetos funcionais. “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família…”. (Art. 205 da CF/1988)
Dia 8 de setembro. A Igreja Católica está em festa. Solenidade litúrgica da Natividade de Nossa Senhora. O nascimento daquela que gerou em seu ventre a vida de Deus. Maria nasceu de Deus para depois gerar o próprio Deus em seu ser. Desde a sua concepção, esta mulher guerreira, foi agraciada por Deus, sendo a escolhida para gerar o Salvador. Quantas outras mulheres naquele tempo não acalentavam em si este sonho de ser a Mãe do Salvador? A Natividade de Nossa Senhora é uma festa celebrada desde os primórdios do cristianismo, muito embora não se tenha relatos do nascimento de Maria nos Evangelhos. Todavia, Maria é o elo entre o Antigo e o Novo Testamento. Deus fazendo uso do ser humano, para possibilitar chegar até nós sua divindade e nos fazer plenos de sua presença em nós. “Deus que criou todas as coisas, fez-se a si mesmo por meio de Maria Santíssima.” (Santo Anselmo)
A liturgia desta quinta feira recorre ao texto da comunidade de Mateus. Este evangelista começa a sua narrativa apresentando-nos Jesus com o título de Emanuel, que significa: “Deus está conosco” (Mt 1,23). Ou seja, Deus se faz presente em Jesus, comunicando a palavra e ação que libertam as pessoas e as reúnem como novo povo de Deus. Assim, Mateus vê a comunidade cristã como a semente do novo povo de Deus, povo que é o lugar onde se manifestam a presença, ação e palavra de Jesus. Seguindo nesta lógica, somos os continuadores da ação/missão de Jesus em nós, através de nosso testemunho de fé. Somos assim os portadores da Boa Notícia a todos as pessoas, a fim de que elas possam fazer parte do Reino de Deus.
Maria é a Mãe dos pobres que esperam pela libertação. A digna representante da comunidade dos empobrecidos. A mulher da periferia de Nazaré que se torna a protagonista do projeto salvífico de Deus: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). O fato de Maria conceber sem ainda estar morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da intervenção de Deus. Aquele que vai iniciar nova história surge dentro da história de maneira totalmente nova. Jesus não é apenas filho da história dos homens. É o próprio Filho de Deus, o Deus que está conosco. Ele inicia nova história, em que as pessoas serão salvas (Jesus = Deus salva) de tudo o que diminui ou destrói a vida e a liberdade (os pecados).
Maria uma mulher como tantas outras mulheres. O diferencial de Maria está na sua capacidade de fazer a sua entrega total nas mãos de Deus para que se cumprisse nela a salvação esperada por todos. “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. (Lc 1,38) Um passo dado nos escuro, se levarmos em conta a realidade vivida pelas mulheres naquele contexto sócio-histórico. Confiança total de que Deus estava no comando. Coragem de quem dá a vida para que outras vidas ressurjam. Maria nascida de nossa humanidade nos ensina que a vida humana está na gênesis da criação. Como bom Judeu que era Mateus nos traz a origem judaica de Jesus a partir da genealogia, fazendo-o nascer no ventre materno de Maria, a Mãe do Salvador. Como diria São Boaventura: “Maria é obra prima de Deus que nela esgotou sua sabedoria, seu poder e sua riqueza.” Mãe e companheira fiel de seu Filho, Deus conosco Emanuel.
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