Segunda feira da terceira semana do tempo comum. Entramos na última semana do primeiro mês. Janeiro está passando muito rápido. Entretanto, um mar de incertezas toma conta de nós, pois os dias ainda não são favoráveis ao descuido. Manter os protocolos sanitários é o imperativo maior para não colaborarmos com a propagação do vírus. Difícil é convencer os negacionistas de plantão. Alguns deles assinaram o prontuário de seu próprio óbito, com a recusa irresponsável da vacina. Como já dizia o filósofo e economista britânico Adam Smith (1723-1790): “A ciência é o grande antídoto do veneno do entusiasmo e da superstição”.
No dia de hoje a Igreja celebra a festa de São Francisco de Sales (1567-1622) Padre e posteriormente bispo de Genebra, foi um grande doutor da Igreja. De rara inteligência, estudou com os padres da Companhia de Jesus (Jesuítas), sendo declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio IX, em 1877. São Francisco é considerado o patrono da Congregação Salesiana, que foi fundada por Dom Bosco, inspirando-se em Francisco para adotar o nome salesiano. São Francisco de Sales é também o patrono dos escritores, dos jornalistas e dos educadores. Foi canonizado pelo papa Alexandre VII em 1655. Sua devoção mariana o fez dizer desta forma sobre a Mãe de Jesus: “Maria é Mãe de Deus e tudo consegue; é mãe dos seres humanos e tudo concede”.
Por falar na Mãe, seu Filho hoje se vê envolto num grande apuro. Segundo o evangelho proposto pela liturgia, não havendo forma de fazer o enfrentamento com Jesus, seus opositores dizem que Ele estava possuído por Belzebu. Nome dado a uma divindade pagã adorada pelos Cananeus e Filisteus no Antigo Testamento. O nome Belzebu era o resultado da soma de dois termos, “Baal”, que quer dizer “senhor”, e “Zebul” que significa “casa alta”. A junção dos dois termos – “Baal Zebul” daria aquilo que chamaríamos de: “senhor dos lugares altos”, “senhor das habitações altas” ou “senhor das alturas”, o “príncipe dos demônios”. Homens odiosos julgando o mensageiro da paz e da liberdade.
Jesus trazia em si a força do Espírito Santo, como bem foi dito no Evangelho deste terceiro domingo do tempo comum. Esta presença do Espírito nele, o fazia dar continuidade à sua missão de libertar e desalienar as pessoas. Ou seja, fazer com que elas se situassem e percebessem a sua condição de seres explorados dentro daquele contexto sócio histórico. Alienada era a pessoa que sente em si a diminuição da capacidade de pensar ou agir por si mesma. Ao acusá-lo de estar “possuído por um espírito mau” era considerado como um tipo de pecado não passível de perdão. Jesus que era “aliado do demônio”, tudo para desacreditar a sua missão salvífica e libertadora, diante da multidão que o procurava.
Jesus argumenta que, “Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se.”(Mc 3,24) Aqui entra a terminologia “diabolus”, uma designação latina que traz como sinônimo de “espírito da mentira” ou “entidade maligna”. Diabo, segundo esta concepção é aquele que divide, cuja missão principal é provocar a cizânia (discórdia) por onde quer que passe. Muitos dentre nós tem uma acepção errônea acerca daquilo que é diabólico, fruto de uma catequese dogmática mal elaborada, onde Deus aparece como aquele Ser Mau (carrasco), sempre pronto a castigar e punir aqueles que, porventura venham cometer os seus deslizes.
O que é pecado afinal? Qual é mesmo a nossa concepção de pecado? Quantos de nós não temos um entendimento errôneo acerca do pecado? O texto do Evangelho de hoje fala de um “pecado sem perdão”. Para algumas lideranças religiosas, o fato das pessoas não crerem em Deus é um destes pecados sem perdão. Será? No meu entendimento, não se trata nem de pecado. Eu até prefiro aqueles que não acreditam em Deus, mas são pessoas extremamente coerentes na sua vivência carregada de humanidade e compromisso com a vida para todos. Como gostava de dizer o nosso bispo Pedro: “No deus que o ateu não acredita, nem eu também acredito. O Deus em quem acredito, é Aquele Ser divino que se fez humano na humanidade de Jesus de Nazaré”.
Pedro, com o seu jeito humano de ser seguidor de Jesus nos fez também acreditar num Deus que se manifesta em todas as coisas e pessoas, mesmo não fazendo elas parte de nosso modo de conceber a fé. Um homem de Deus que se fez ecumênico em todos os seus gestos. Costumava nos dizer que o próprio Deus é macroecumênico. Em sua concepção, Deus não se dá em exclusividade a ninguém. Deus quer que todos os homens e mulheres sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4). Um Deus que se dá na esperança ecumênica, ou num ecumenismo para além das fronteiras de nosso quintal religioso e das verdades de nossa fé dogmática restrita absolutista.
E Viva São Francisco de Sales!
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