Categories: Reflexões Bíblicas

José de Nazaré, o operário do Reino (Chico Machado)

Terça feira da Quinta Semana da Quaresma. Festa de São José. Um dos maiores santos da devoção popular. Protetor das famílias e dos trabalhadores. É festejado duas vezes por ano: dia 19 de março, com o nome de Esposo de Maria, e dia 1º de maio, com o nome de São José Operário. José o operário do Reino. Tudo começou com ele, embora não sendo reconhecido pela instituição, por sua importância no projeto libertador de
Deus para a humanidade. Como afirma o nosso teólogo Leonardo Boff: “ele ficou quase esquecido pela Igreja oficial. Mas o povo guardou-lhe a memória, pondo o nome de José a seus filhos, a cidades e a ruas e a escolas. Ele é o símbolo dos sem-nome, dos sem-poder, dos operários e da Igreja dos anônimos”.

A primeira definição de José, que encontramos no Novo Testamento, nos veio do Evangelho de Mateus. Ali, José é definido como o “homem justo”. Noivo de Maria vê-se constrangido diante de uma situação embaraçosa, com a gravidez inesperada de sua noiva. Todavia, ele não pensa no próprio orgulho ou na sua dignidade ferida. Ao contrário, pensa tão somente em salvar Maria da maldade e do ódio das pessoas, pois naquela circunstância, ela poderia ter sido executada em praça pública. José não quis repudiar Maria, mas se recolhe em segredo silenciosamente. Sofre calado com toda aquela sua angústia de ter sido “traído”. Mas o amor de Deus é maior que tudo e vem em socorro dele, através de um Anjo para aliviá-lo e a sugerir-lhe a escolha mais justa de não ter medo: “Não temas receber a Maria, tua esposa, porque o que nela está gerado é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus”. (Mt 1,20-21)

José de Nazaré! O homem que, na sua simplicidade de um humilde trabalhador, torna-se obediente a Deus. Não tinha a compreensão de tudo o que estava se passando, mas acredita, confia e se coloca nas mãos de Deus. Passando por cima de todo o seu orgulho ferido, recebe Maria como sua esposa, acompanhando todo o processo do nascimento do menino e também das perseguições que sofrera desde criança. Trazia em si a noção de que Deus tinha algo muito maior para a sua vida. Por este motivo passa por cima das maiores humilhações que sofrera em vida: “Não será este o filho do carpinteiro”? (Mt 13,55) Tudo porquê, seguindo a orientação do anjo, refugiara em Nazaré e vai viver com a sua família ali na periferia, longe dos holofotes do poder.

José, o operário do Reino! Um homem de grande coração. Amou Maria e Jesus com toda a ternura que um pai tem por sua família. Protegeu e educou o menino Jesus, dando-lhe toda a formação humana necessária para desempenhar a missão que lhe fora confiada por Deus. “E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. (Lc 2,52) José e Maria, o casal de Nazaré. Dedicação total a Deus, com confiança e entrega nos braços do Pai. Certamente, ambos sabiam que a missão de Jesus decorria da sua relação filial com o Pai. Isto significa que essa missão provém do próprio mistério de Deus e da realização de sua vontade entre as pessoas. José e Maria participando diretamente do Mistério da Encarnação, onde Jesus vai aprendendo a viver a vida humana como qualquer outro homem.

José, um homem de seu tempo, mas que se colocou para além dele. Sua confiança em Deus foi tamanha que superou todas as suas limitações e os entraves culturais da sociedade de seu tempo: machista e patriarcal. Como seguidores de Jesus de Nazaré, trazemos dentro de nós um pouco de Maria e um pouco de José. Como diz o nosso Papa Francisco, “o seguimento de Jesus é radical, pois Ele dá tudo e pede tudo”. José deu tudo de si. Soube seguir os passos do Filho na simplicidade de seu jeito de ser. Anonimamente fez a sua parte, tanto que passou a fazer parte integrante da história da salvação. Co-partícipe do projeto libertador de Deus para toda a humanidade.

José, uma história de vida em coautoria com a ternura de Deus. Aceitar ser o esposo de uma “Mãe solteira”, sabendo que aquele Filho não era seu, se faz pai adotivo, contribuindo com a salvação de todos nós. Os mistérios de Deus são insondáveis. Não há compreensão humana que possa abarca-los na sua totalidade. Deus faz com que Jesus não seja apenas filho da história dos homens. É o próprio Filho de Deus, o Deus que está conosco. Em e com Jesus, Deus inicia uma nova história, em que as pessoas serão salvas (Jesus = Deus salva) de tudo o que diminui ou destrói a vida e a liberdade humana. Assim como Jesus, também tive a participação de um grande José na minha vida: José Altino, meu pai. Que São José nos acompanhe nesta lida diária, fazendo-nos fieis ao Filho. Finalizo com a letra de uma das canções de nosso bispo Pedro: “Tu que foste chamado / para construir o Reino, dá-nos força pra lutar / por um mundo mais fraterno”.

Luiz Cassio

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