Categories: Reflexões Bíblicas

Jesus, o Sinal de Deus (Chico Machado)

Segunda feira da Sexta Semana do Tempo Comum. Estamos caminhando rumo a mais uma Quaresma em nossas vidas. Tempo de fazer uma caminhada mais profunda na busca pela nossa conversão. Mudar de vida, de atitude, do jeito de pensar e agir. Cada dia é um passo a mais que devemos dar, em busca de nossa mudança a partir do coração. Para a cultura semita, o coração caracteriza o ser humano na sua interioridade, autenticidade e totalidade. Ele é o centro da vontade e das opções e decisões. Desta forma, quem faz uma opção errada, torna “impura” a sua vida, como nos foi dito no texto da liturgia de ontem, mostrando-nos como devemos ser diante da proposta de Jesus: ter compaixão.

Uma segunda feira nublada aqui pelas bandas do Araguaia. São Pedro não está para carnaval mesmo! Depois de um domingo bastante chuvoso, tudo indica que a segunda não será diferente. Que se cuidem os foliões nas suas noitadas. Como não sou dado a carnavais, dormi o sono do justo, com a consciência limpa de quem entende que está fazendo o seu melhor diante das circunstancias, como já dissera o educador Mário Sérgio Cortella: “Faça o teu melhor na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda!”

Mesmo com o clima propenso à chuva, decidi rezar mais uma vez na beira do Araguaia. Este rio que passa em minha vida trazendo recordações mil. Paixão antiga e a primeira vista. Creio não ser mais possível viver longe dele, que desagua em meu interior, provocando sentimentos bons. Este rio mora em mim e trafega pelas minhas entranhas, fazendo de mim o ser mais feliz diante de suas águas correntes. Diante dele, rezo, contemplo e até me atrevo a enveredar pelos caminhos da filosofia com o filósofo Heráclito de Éfeso: “Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. Ah meu Araguaia, cheio de mistérios que nos fazem felizes!

12 de fevereiro. No dia de hoje, há 19 anos, era assassinada a estadunidense Dorothy Mae Stang (1931-2005), mais conhecida como Irmã Dorothy. Foi ela uma religiosa naturalizada brasileira, membro da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur. Foi assassinada em Anapu, no estado do Pará. Quiseram calar a voz de Dorothy, na sua incansável luta na defesa dos trabalhadores rurais sem terra e também da floresta em pé. O sangue de Dorothy continua irrigando a luta de todos nós, que mantemos firme o proposito na defesa da Mãe natureza e dos povos originários, que são os verdadeiros defensores do meio ambiente. Irmã Dorothy vive em nós!

“Contribuir para nos despertar sobre o valor e a beleza da Fraternidade humana, promovendo e fortalecendo a experiência da Amizade Social”. Este é o objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano de 2024. Enquanto não chega a Quaresma, seguimos nós, com a reflexão proposta pelo evangelista São Marcos. Um texto bastante curto, apenas três versículos, mas de uma densidade espetacular, mostrando o confronto dos fariseus com Jesus. Eles saem do centro do poder religioso e vai à periferia exigir que Jesus lhes desse um sinal de que Ele é, de fato, o Filho de Deus enviado e não um mero provocador do sistema, a serviço dos pobres.

A título de informação, os fariseus eram os integrantes de um partido formado entre os judeus. Eram especialistas em fazer uma grande oposição ao ministério de Jesus. Eles representavam um dos três principais grupos entre os judeus, ao lado dos saduceus e dos essênios. Eram conhecidos pela observância rígida, sega, não apenas da Lei escrita (Torá), no Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), mas também da tradição oral. Para eles, essa Lei oral, que segundo diziam havia sido preservada pelos homens importantes da sinagoga, recuando até Esdras, e antes dele pelos profetas, anciãos, Josué e, finalmente, remontando até Moisés. Para eles, a tradição oral precisava ser observada com rigor, e assim faziam, honrando-a até mais do que a Lei escrita.

Jesus recusa-se a dar-lhes qualquer tipo de sinal, até porque, eles não creriam n’Ele. Os pobres, os pagãos, os doentes, sabiam quem Jesus era porem, o mesmo, não dá nenhuma prova de ser o Messias que veio de Deus e que realiza a vontade de Deus. Ao contrario dos fariseus, quem está disposto, pode concluir isso por se mesmo, vendo a pessoa e a atividade de Jesus. Pedir outra prova é querer um messias arrogante, prepotente e triunfalista, que provoca admiração, mas não liberta. Assim sendo, Jesus critica o farisaísmo em diversas ocasiões por conta de terem usado da religião com sua hipocrisia e orgulho, que simplesmente traduzia-se num tipo de exibicionismo e falsa santidade. Contra eles, Jesus nos aconselha: “se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu”. (Mt 5,20) E você, também é um daqueles que ficam esperando um sinal de Jesus para n’Ele crer?

Luiz Cassio

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