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Jesus, o profeta (Chico Machado)

Terça feira da 24ª Semana do Tempo Comum. A Lua está na fase cheia. Ou seja, segundo os estudiosos, ela está 97% visível para a alegria dos nossos olhos, muito embora, com tanta fumaça no ar, com certeza, seu brilho será ofuscado. Esta é a fase mais luminosa da Lua, em que ela é mais visível na Terra. Isto porque, está na direção oposta do Sol, por isso reflete a luz em toda sua superfície. Segundo os mais entendidos, na Lua cheia estamos mais propensos à meditação, já que a sua energia influencia o nosso lado espiritual, conectando-nos mais facilmente com o Ser Criador de Deus. Toda a criação é obra suprema de Deus.

Minha energia espiritual nestes dias está no seu limite mínimo. Tudo por causa da nossa impotência diante do desastre ambiental que estamos vivendo nestes últimos dias. O fogo, por onde passou, deixou um rastro de destruição terrível. Várias aldeias indígenas tiveram as suas casas queimadas, já que grande parte delas são de palha. Mesmo com o esforço dos indígenas, não conseguiram conter a voracidade do fogo. Respirar tá difícil. O calor, mais do que o normal por aqui, nesta época do ano. A chuva ainda não chegou, trazendo-nos esperança de dias melhores. Alguém até me perguntou: “estes incêndios são criminosos?” Creio que não preciso responder.

Meu alento, no início deste dia, foi beber da energia esperançosa, na resistência e teimosia de Pedro. Rezei em sua companhia, vendo o sol despontar entre nuvens de fumaça do outro lado do rio, na Ilha do Bananal. Este, que nos dias normais apresenta um cenário paradisíaco, veio envolto à tenebrosa insensatez humana, coa a sua capacidade de destruir a vida que alimenta a nossa vida. Os tempos são difíceis e carrancudos. Minha reflexão orante do texto da liturgia deste dia me fez também lembrar que Pedro sempre nos dizia que “ter esperança é um ato de rebeldia”. Conclui o meu momento, ao lado de Pedro, recitando com o salmista: “Esteja sobre nós o teu amor, Senhor, como está em ti a nossa esperança” (Sl 33,22). Quando colocamos nossa esperança em Deus, Ele nos responde com todo o seu amor.

“O Senhor protege o estrangeiro e sustenta o órfão e a viúva, mas frustra o caminho dos injustos”. (Sl 146,9) O versículo deste salmo, ilustra bem para nós o contexto do Evangelho de Lucas, que a liturgia nos propõe refletir nesta terça feira. Deus esta vivo e age na história, fazendo justiça aos oprimidos e libertando os necessitados. Sua ação, porém, implica também a destruição da injustiça. É assim que se constitui o reino de Deus. Jesus fez disso o seu projeto, como podemos ver na sua atitude de defesa de uma pobre mãe, que acabara de perder o seu filho. Mulher, pobre, viúva, vendo também o seu filho partir, deixando-a praticamente abandonada e ainda mais marginalizada.

Na Palestina no tempo de Jesus, as viúvas eram duplamente discriminadas. A mulher tinha pouca participação na sociedade da época, sendo que esta participação se resumia ao cuidado da casa e dos filhos. O homem, ao contrário, senhor absoluto na estrutura da família patriarcal, gozava de todos os privilégios. Por outro lado, a mulher não aprendia a ler e nem escrever. Além disso, não podia se manifestar em algum julgamento. A situação da mulher viúva era pior ainda, já que, com a perda do marido, era obrigada a arcar com as possíveis dívidas deixadas por este. Sem condições para trabalhar, devido ao cuidado que tinha com seus filhos, era discriminada no meio social. Certamente que toda esta situação influenciou a atitude que Jesus tivera com aquela pobre mulher.

A cena de hoje se passa em Naim, uma pequena cidade, que ficava próxima de Cafarnaum, na região da Judeia. Jesus toma a decisão de ir a esta cidade e ali depara com um cortejo fúnebre, de uma mãe viúva, levando o corpo de seu filho único, para ser enterrado. Jesus, movido pelo seu coração cheio de amorosidade e compaixão e, passando por cima de todos os preconceitos decorrentes da moral judaica, devolve a vida àquele jovem rapaz. Jesus é o servo enviado de Deus que veio visitar o seu povo e fazer sua morada no meio dele. Sim, porque a atividade libertadora de Jesus é a grande “visita” de Deus que vem salvar/libertar o seu povo. Essa visita é a manifestação do amor compassivo, que atende aos mais pobres e necessitados.

“Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo”. (Lc 7, 16) Assim é que o povo, ao redor de Jesus se manifesta. Deus é o Senhor e autor da vida. Jesus é o grande profeta, o Messias enviado para defender a vida dos pobres e inocentes injustiçados, como fica evidente também no texto que Tiago nos escreve em sua carta: “Religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo”. (Tg 1,27) Como seguidores e seguidoras de Jesus, devemos viver a nossa fé não resumindo apenas às cerimônias religiosas, ou em decorar os versículos da Bíblia. A verdadeira fé se vive na entrega de nós mesmos a Deus para viver a justiça na prática: socorrer e defender os pobres e marginalizados (órfão e viúva) e não nos aliarmos a uma estrutura injusta de sociedade que massacra os pequenos, pobres e marginalizados.

Luiz Cassio

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