Segunda feira da Terceira Semana da Páscoa. Estamos vivendo o 106º dia deste ano bissexto do calendário gregoriano. Mais exatos 260 dias teremos pela frente, até findar este ano. Mais 34 dias e estaremos celebrando a Solenidade de Pentecostes, que neste ano cai no dia 19 de maio. Estamos iniciando uma semana importante de nosso calendário de lutas. Trata-se da “Semana dos Povos Indígenas (15 a 19 de abril)”. Mais do que comemorar, este é mais um calendário de luta, no sentido de valer os direitos dos Povos Originários, nesta terra que sempre foi deles, mas que cada dia são ameaçados, pelos interesses do perverso capital, apesar dos Artigos 231 e 232 da nossa Constituição Federal de 1988 serem muito claros.
“Vocês são muitos loucos, pois vendem a mãe de vocês”. Esta foi uma das frases ditas pelo Cacique Damião Paridzané, grande liderança Xavante (A’uwé), do Território Indígena de Marãiwatsédé. Como eles tem a terra como sua “Mãe”, devotando a ela um profundo respeito, ele estava se referindo aos interesses que os donos do capital têm sobre a terra, fazendo dela um bem de capital negociável. Em função deste interesse, eles vivem ameaçados diuturnamente em seus territórios sagrados, seja pelos pecuaristas, pelo “agro/veneno”, pelos garimpeiros… Como eles mesmos dizem, “a terra não é nossa, nós é que pertencemos a ela”. Tal postura, muda completamente de sentido, diante dos destruidores da floresta e mananciais, colocando em risco a vida de todos os habitantes dela.
Neste clima pascal que estamos vivendo, voltamos a refletir o Evangelho de João, ainda no capitulo seis, em que Jesus havia realizado mais um de seus sinais (milagre), a “multiplicação dos pães”. O texto que a liturgia desta segunda feira nos oferece é ainda a repercussão deste pão partilhado, que havia alimentado uma grande multidão (5 mil pessoas). Saciada a sua fome, aquela multidão vai atrás de Jesus, desejosa de querer o pão sem fazer nenhum esforço qualquer. Em função disto, são repreendidas por Jesus que lhes diz: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará”. (Jo 6, 26-27)
A multidão continua indo atrás de Jesus, desejando continuar na situação de fartura e abundância. Na realidade, o que aquele povo queria mesmo era ser governado por um líder político que decide e providencia tudo, sem exigir esforço algum. Porém, Jesus mostra que essa não é a verdadeira solução; é preciso lutar e buscar a vida plena, mas isso exige o empenho, a dedicação e a disponibilidade de todas as pessoas. O alimento que sustenta a vida material é essencial e fundamental, todavia, é necessária a adesão pessoal firme e consciente a Jesus, para que a nossa vida se torne definitiva. O que Jesus quer dizer é que não se ganha a vida sem o mínimo de esforço e dedicação de quem quer que seja. Aderir a Ele faz de nós construtores do Reino, onde as necessidades básicas da vida serão saciadas com o nosso trabalho.
Alguns de nós até pensam que, se fizermos a nossa adesão a Jesus, os problemas, as dificuldades e os desafios deixarão de existir nas nossas vidas. Ledo engano! Os problemas continuarão presentes na nossa caminhada. A diferença é que diante deles, teremos um grande aliado nosso, que nos ajudará a vencer cada um dos obstáculos. Significa que não estaremos sozinhos na jornada de nossas vidas, mas teremos conosco a presença viva do Cristo Ressuscitado, guiando os nossos passos e nos fortalecendo com a sua presença viva em nós. Diante da pergunta daquelas pessoas: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Ao que Jesus responde prontamente: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”. (Jo 6,28)
Jesus é o enviado de Deus! O Pão vivo descido do Céu. O Filho de Deus que veio fazer morada no meio de nós. Decidir por seguir os passos desse Jesus é alimentarmos do Pão que sacia para a vida plena. O pão da vida dura para sempre. No texto que vimos hoje, Jesus nos mostra a diferença entre o “pão material” e o pão que “perdura e dá a vida plena” (Jo 6,27). Isto quer dizer que devemos passar das preocupações meramente materiais, a uma fé mais consistente e madura, no seguimento d’Ele. Aqui não se trata de cumprir novas observâncias ou realizar obras grandiosas, como alguns de nós até pensam assim. A única coisa necessária é aderir ao plano de Deus, isto é, “crer naquele que Ele enviou” (Jo 6,29), e seguir os seus passos conscientemente, fazendo a nossa parte.
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