Sábado da 25ª Semana do Tempo Comum. Entramos no último final de semana do mês de setembro, o mês da Bíblia para os católicos. Como neste ano estamos aprofundando o nosso conhecimento acerca do profeta Ezequiel, podemos ver que este homem de Deus, não desanimou e nem desesperou diante do sofrimento de seu povo exilado, porque ele sabia que o futuro era de ressurreição e de novidade radical. Mas, para tanto, o profeta insiste que é preciso converter-nos ao Senhor, assumindo o seu projeto; e, a partir daí, construir uma sociedade justa e fraterna, voltada para a liberdade e a vida de todo o povo de Deus. Desta forma, todos poderão participar igualmente dos bens e decisões que constroem a relação social a partir da justiça.
Setembro continua a passos largos para encontrar-se com outubro, o mês que a nossa Igreja dedica às missões. O tema escolhido este ano para o mês missionário é “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”; cujo lema é “Ide, convidai a todos para o banquete!” (Mt 22,9), Assim, somos todos e todas convidados a refletir o nosso compromisso de ser luz e esperança em meio às diversas realidades que vivemos no aqui e agora de nossa história. Somos chamados para participar da missão e da partilha do amor de Deus. Com esta missão, começa na história o novo povo de Deus, formado pelos pobres e oprimidos. Porém, fica claro que até mesmo estes últimos serão excluídos, se não realizarem a prática da nova justiça.
Devagar a primavera vai ditando as regras por aqui. A fumaça, felizmente, já não tem mais o domínio sobre o ar que respirávamos com dificuldade. O calor ainda predomina, mas o céu anda meio revestido de nuvens diferentes. A chuva andou rondando por algumas terras mato-grossenses, mas ainda não deu as caras por aqui. Segundo os mais antigos daqui, já era para visitar-nos com a tradicional “chuva do caju”. Tudo está mesmo mudado. Também, com tanto desmatamento e a implantação dos intermináveis quilômetros de soja, não era de se esperar algo diferente. “O pior ainda está por vir”, assegura-nos os sertanejos, que ainda insistem, sobrevivendo à duras penas, nas suas terrinhas por aqui.
Rezei nesta manhã na companhia de sabiás, tucanos, rolinhas, bem-te-vis, e até de algumas araras vermelhas, que vieram degustar as mangas, cujo pé está carregado delas. Fazia tempo que não apareciam por aqui. Contemplando este cenário de paz, refleti com o texto do evangelho, lembrando-me de São Francisco de Assis, na sua afetuosa relação com os seres da natureza, a quem ele os chamavam carinhosamente de irmãos e irmãs. Esse mesmo Francisco que estaremos celebrando a sua memória no dia 4 próximo, que alerta a mim e a você quando diz: “Tome cuidado com a sua vida, talvez ela seja o único evangelho que as pessoas leiam”.
“Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. (Lc 9,43) Jesus fazia as coisas. Não somente falava, anunciava, pregava, mas fazia: acontecer o Reino. Realizava todos os gestos concretos de libertação dos pobres, pequenos, marginalizados, abandonados e excluídos. Seu fazer era revestido pela força que vinha de Deus e, em sintonia com o Pai, Ele as realizava, gerando toda sorte de controvérsias com as autoridades constituídas da época, que não aceitavam que um homem qualquer de Nazaré, tivesse tanto poder para tal. Entretanto, o povo simples, ia à forra e ficava admirado ao ver tudo aquilo que Jesus fazia. É neste contexto de euforia, que Jesus vai fazer mais uma vez aos seus discípulos, o anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição.
O povo, e os próprios discípulos, estão admirados com os feitos de Jesus. Mas este clima de euforia precisa ser substituído pelo entendimento de que a cruz está no itinerário de Jesus, assim como está no caminho de todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão pelo seguimento d’Ele. Compreender o verdadeiro significado da cruz é adentrar o sentido pleno da revelação de Deus na vida de Jesus. O Deus que muito ama os seus, se faz presente em Jesus, que nos revela o rosto amoroso e misericordioso de um Deus que se deixa tocar, permitindo que a sua divindade se faça plena em nossa materialidade humana. A primeira etapa do Reino de Deus são as “coisas que Jesus fazia”. A extensão do Reino se faz presente nas ações que vamos realizando, dando continuidade à missão de Jesus. Se quisermos fazer parte deste grupo, precisamos também mudar a nossa ideia sobre Jesus, o Messias. Se assim não fizermos, também não realizaremos as ações de libertação, que dão continuidade à missão d’Ele. Como diria o meu xará de Assis: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. Fechou!
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