Terça feira da 25ª Semana do Tempo Comum. Setembro caminhando para encontrar-se com outubro. Sai o mês da Bíblia e vem chegando o mês missionário. Ainda a tempo de conhecer um pouco mais da vida do profeta Ezequiel, que é o livro proposto para o nosso aprofundamento. Ele que exerceu o seu ministério sacerdotal profético entre os anos 593 a 571 a.C. Esteve exilado na Babilônia com o seu povo, anunciando as sentenças de Deus. Naquele contexto, o povo acreditava que em breve tudo voltaria a ser como antes. Todavia, Ezequiel sabe que o sistema passado estava agonizando, uma vez que Jerusalém seria destruída. Segundo ele, a sociedade que ainda resiste, sofre de uma doença sem cura: abandonando o projeto do Senhor, submetendo-se àqueles que lhe ofereciam vida luxuosa e fascinante. Converter é preciso!

A primavera segue ditando as regras da natureza por aqui. Meu pé de cajazinho, despido de sua roupagem natural, renasceu revestido por centenas de folhas, cada uma mais verde que a outra, abrindo-se em flores, para a alegria das abelhas, praticando a sua arte de polinizar. Ainda no despertar do dia, tive que fazer acolhida as centenas de papagaios com a sua horda barulhenta em meu quintal, apresentando para os seus pequenos filhotes, aquele espaço que o fazem seus. Tagarelar é a sua arte. Tanta alegria, para um dia que estava apenas começando, muito embora ainda carregado de fumaça, no lugar do ar puro que é o mais comum aqui para nós.

Como o meu encontro de hoje era com Pedro, deixei-os à vontade, e fui rumo ao “campo santo”, como costumam denominar por aqui o cemitério. Rezei na companhia do profeta do Araguaia, relembrando dos instantes de convivência com ele e Tia Irene, nos bons tempos de Prelazia de São Félix. Ter chegado a esta Igreja, foi o grande achado da minha vida, já que Pedro era a nossa referência de bispo combativo, desde os tempos da Teologia. Líamos e relíamos seus escritos, ao ponto de ficarmos apaixonados, com o jeito de ser daquela Igreja, que ele estava à frente, como bispo dos bons. No dia em que fui convidado por ele, para fazer parte desta Igreja, senti literalmente o chão fugindo dos pés, de tanta alegria. Somando apenas três anos de ministério presbiteral, me tornei membro da Igreja que eu sempre acreditei e sonhei.

Faço parte da “família prelática” há 32 anos. A família de Pedro e de tantos outros que por aqui passaram, dando muito de si, e que seguem lá de fora apostando ainda nesta Igreja das comunidades. Menos doutrina e mais Evangelho, está foi a tônica que o bispo Pedro nos ensinou a fazer em nossa caminhada, no seguimento e irmanados a Jesus, sentindo-nos como filhos e filhas da “Comadre de Nazaré”, a Senhora do Araguaia. É a esta família que todos nós devemos nos sentir integrados e interligados, como nos pede a fala de Jesus no Evangelho proposto pela liturgia para esta terça feira.

A primeira vista, as palavras de Jesus parecem duras, àqueles que Lhe anunciam a chegada da sua mãe e dos seus familiares. Entretanto, aprofundando um pouco mais no contexto deste texto, podemos perceber que a preocupação maior de Jesus, como semeador da Palavra de Deus, mais do que atender àqueles que Lhe são familiares pelos laços do sangue, Ele quis realçar que os laços que constitui a sua nova família era a escuta e a prática da Palavra: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática”. (Lc 8,21) Ou seja, Jesus propõe novas relações entre as pessoas que formam assim a sua família, que começa a existir, quando os membros desta família, colocam em prática a Palavra do Evangelho, dando continuidade assim, a mesma missão d’Ele.

Maria, mais do que qualquer um de nós, foi quem soube escutar as Palavras e ensinamentos de Jesus. Ela é o modelo de como escutar e acolher na vida a Palavra, como o próprio evangelista Lucas diz, referindo-se a ela: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu”. (Lc 1, 45). Porém, não basta escutar a Palavra, é preciso guardar e praticar, como fez Maria de Nazaré: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1, 38). Se nos fazemos apenas ouvintes da Palavra, estamos enganando a nós mesmos. Palavra escrita! Palavra falada! Palavra escutada! Palavra vivida! Palavra que nos integra à família de Jesus, levando adiante a sua/nossa missão. Escutar verdadeiramente a Palavra é amar, não com palavras, mas com atitudes e gestos concretos, como nos alerta São João: “Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e de verdade”. (1 Jo 3, 18). A prática do amor não tem limites, já que devemos amar como Jesus amou.