Quinta feira da 28ª Semana do Tempo Comum. Outubro vai se delineando na nossa história, nos chamando a exercer o nosso “múnus missionário”, que é a vocação de todo cristão batizado. Múnus, que é uma palavra de origem latina que, usada teologicamente, tem o significado de função, atividade, serviço, doação serviço, às mesmas causas de Jesus. No mês missionário, a Igreja quer que sejamos testemunhas do Cristo Ressuscitado, fazendo acontecer em nossas vidas a força do Evangelho Assim Pelo Batismo, participamos do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética libertadora. Foi o próprio Jesus que nos quis “um povo santo e sacerdotal, uma raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus para anunciar os seus louvores” (1Pedro 2, 9-10).

17 de outubro, dia de festa para os católicos. No dia de hoje a Igreja celebra a Festa de Santo Inácio de Antioquia. Esta era a terceira maior metrópole do mundo antigo, depois de Roma e Alexandria do Egito. Inácio tornou-se Bispo de Alexandria, por volta do ano 69, como sucessor de Pedro. Um grande homem do século primeiro da era cristã. Foi um dos discípulos do apóstolo João e também conheceu Paulo. Como bispo de Antioquia (atual Síria), foi o sucessor de Pedro. Descendente de uma família pagã, não romana, converteu-se ao cristianismo em idade avançada, graças à pregação do evangelista São João. Tinha como lema de vida este pensamento: “É melhor permanecer em silêncio e ser, do que falar e não ser”.

Durante seu episcopado, começou naquele momento histórico, a grande perseguição do imperador Trajano, da qual também o Bispo foi vítima, por não querer negar à sua fé em Cristo Jesus. Preso e torturado pelos guardas imperiais, foi transportado acorrentado para Roma. No Coliseu, como era de costume na época, seu corpo foi entregue às feras, que o despedaçou vorazmente. Inácio trabalhou incessantemente para unir os cristãos, contra tudo e contra todos. Naquela época, os discípulos de Jesus eram chamados de nazarenos e eram vistos como uma seita dentro do judaísmo. Faziam parte da “Igreja do Caminho”, como eram também chamados. O primeiro documento histórico que contém o adjetivo “católica”, referindo-se à Igreja é uma carta de Santo Inácio de Antioquia à Igreja de Esmirna, escrita após a sua prisão, entre os anos 100 e 107.

Inspirado por este espírito profético de Santo Inácio, fiz-me presente de forma orante, na “catacumba” de outro profeta, como sempre faço, uma vez por semana. Na penumbra da madrugada se fazendo dia, contemplei a vida e a história de tantos outros mártires da caminhada de nossa Igreja, que doaram suas vidas pelas causas do Reino. “Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! Como Pedro sempre fazia questão de nos lembrar. Ele que me ensinou a trazer no corpo a insígnia da indignação esperançada, de viver no hoje, pensando no amanhã, mas sem esquecer os que deram suas vidas para aqui chegarmos. Findei aquele momento ali com ele, relembrando um escrito seu em parceira com Pedro Tierra: “Trazemos no corpo o mel do suor, trazemos nos olhos a dança da vida, a morte vencida”. Tudo porque, Ele Ressuscitou e vivo está no meio de nós!

Nesta quinta feira temos a oportunidade refletir com mais um texto do evangelista São Lucas. Hoje findamos o capitulo 11, com os “ais de vós” de Jesus direcionados aos escribas e fariseus. Lembrando que Mateus também faz este registro no capítulo 23 de seu evangelho e até de forma mais dura, já que ali, Jesus chama as lideranças religiosas de “Serpentes, raça de cobras venenosas! Como é que vocês poderiam escapar da condenação do inferno? (Mt 23,33) Tudo porque os intelectuais e os líderes da classe dominante, transformam o saber em poder, agindo hipocritamente e oprimindo o povo. Ou seja, Jesus critica e condena os líderes religiosos que sustentam um sistema formalista e hipócrita. Tal sistema impede de entrar no Reino, pois não leva à conversão, mas à perversão, e destrói o verdadeiro espírito das Escrituras, chegando a matar até mesmo os profetas enviados de Deus.

Na nova comunidade de Jesus todos somos irmãos e irmãs, voltados para o serviço mútuo e reunidos em torno de Deus que é Pai/Mãe, e de Jesus, que é o único líder e que veio para servir. Jesus mostra que a religião formalista e jurídica não é meio de salvação, mas produz prática escravizadora; portanto, é frontalmente contrária àquela que deve ser vivida por qualquer comunidade cristã. Também nos dias de hoje, alguns líderes religiosos mantém as mesmas atitudes dos escribas e fariseus do tempo de Jesus, quando usam de suas autoridades clericais, para determinar regras morais fundamentalistas de comportamento, vendo pecado em tudo, como se Deus não fosse extremamente amoroso e misericordioso, para com os pecadores. Tem razão o nosso Papa Francisco quando diz claramente: “Eu nunca recusei a Eucaristia a ninguém. A comunhão não é um prêmio para os perfeitos, para os santos, mas o pão dos pecadores”.