Sexta feira da 33ª Semana do Tempo Comum. Neste dia a Igreja celebra a Memória de Santa Cecília, padroeira dos músicos e da música sacra. Cidadã romana, foi martirizada por volta do ano 230, durante o império de Alexandre Severo, no Pontificado de Urbano I, 17º Papa da Igreja Católica, exercido entre os anos de 222 a 23 de maio de 230. A Festa em Memória de Santa Cecília passou a ser celebrada a partir do ano de 545. O principal legado de Santa Cecília nos inspira a viver nos dias de hoje, ressaltando a importância dos acordes musicais, já que a música é uma força poderosa para o bem, onde podemos cantar as maravilhas de Deus presentes em nossa história humana.
Uma sexta feira em que o nosso Astro Rei resolveu amanhecer dormindo, se escondendo por detrás das nuvens escuras, que tomaram conta do céu do nosso Araguaia. Um rio que vai se tornando volumoso novamente, depois de mostrar suas vísceras, por boa parte dos meses deste ano. Nunca o vimos tão despido, mostrando assim parte de suas entranhas, em formato de areia reluzente ao sol. Neste saudoso clima, permiti que o meu coração fosse invadido pelas imagens de um passado não muito longínquo de minha história de vida. Coração orante, trouxe para junto de mim uma parte das pessoas que fizeram e ainda fazem parte desta história. Dentre estas, Dom Angélico Sândalo Bernardino.
Este homem é um dos três bispos, que muito me ajudaram a encontrar o caminho para as causas do Reino. Como não me recordar dos primeiros passos do meu presbitério, realizando os meus sonhos e ideais pastorais, ali na periferia da Zona Leste, Região Episcopal de São Miguel Paulista, tendo Angélico como o grande pastor com cheiro das ovelhas? Era feliz, e como sabia que eu o era! Hoje, já com a idade avançada, este homem de Deus, segue recuperando a saúde, após alguns dias de internação hospitalar, residindo na Hospedaria São José, das Irmãs de Santo André, no Bairro Pompeia, em São Paulo. Vida longa ao pastor mais humano com quem convivi, bem de perto!
Uma sexta feira em que a liturgia nos apresenta mais um texto em que Jesus está às voltas com as contradições do Templo. O Nazareno tinha uma postura diferenciada quando se tratava da sua relação com o Templo, e não podia ser diferente, uma vez que o Templo havia se transformado num espaço de exploração, quando as ofertas e sacrifícios que eram trazidos pelos frequentadores, formavam um verdadeiro comércio/tesouro, administrado pelas lideranças religiosas daquela época: sacerdotes, escribas e doutores da Lei. Um lugar aparentemente sagrado, havia se transformado em comércio e centro do poder político, econômico e religioso da época. Desta forma, numa atitude de extrema coragem, Jesus, faz uma denúncia contundente da opressão e da exploração dos pobres, pelas autoridades religiosas, inclusive predizendo a ruína daquela instituição.
O texto que a liturgia nos apresenta hoje é o do Evangelho de Lc 19,45-48. Este mesmo contexto aparece paralelamente em Mc 11,15-19. O texto de Lucas mostra um Jesus mais “comportado”, já que em Marcos, Ele expulsa os cambistas, derruba a mesas, não permitindo que trafegassem com mercadorias no interior do Templo. Na concepção de Jesus, o verdadeiro Templo é o seu próprio corpo, que morre, mas que Ressuscita. Uma visão diferente, uma vez que para Ele, Deus não quer habitar em espaços físicos edificados, mas na própria pessoa humana.
Tal atitude de Jesus gerou uma grande revolta entre os religiosos da época, tanto que, “Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matá-lo”. (Lc 19,47) Acusando e atacando o comércio existente dentro do Templo, Jesus retira as bases sobre as quais se apoiava toda aquela sociedade, sobretudo porque, era com esse comércio, que se sustentava grande parte da economia do país. O gesto de Jesus mexe não só com um modo de vida religiosa, mas com toda a estrutura daquela sociedade, que usa a religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e sustentar uma visão mesquinha de salvação. Por isso, os que se favorecem desse sistema, pensam em matar Jesus. Só não levaram adiante a sua ideia ali naquele momento, porque temiam a manifestação contrária do povo. Paulo compreendeu a relação de Jesus com o Templo humano, quando escreve: “somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: ‘Habitarei no meio deles, e com eles caminharei. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo’”. (2Cor 6,16)b
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