Quinta feira da décima terceira semana do tempo comum.
O mês de junho está dando o seu adeus, passando o bastão ao sétimo mês do ano. Metade do ano já se foi e nem demos conta. Viver intensamente é o imperativo da vez. Viver de tal forma que os desafios cotidianos não nos roubem a felicidade de estar aqui e agora, cada um fazendo a sua história. História escrita pelas nossas próprias mãos. Como já nos dizia o filósofo prussiano Friedrich Nietzeche (1844-1900): “Quem só tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu!”
Ontem celebramos a Festa de São Pedro. Festa também do Papa Francisco, sucessor do Apóstolo Pedro. Representante máximo da Igreja Católica. Um papa diferenciado que mostrou a que veio, desde o primeiro dia de seu pontificado, aproximando a Igreja dos anseios de Jesus de Nazaré. Está encontrando imensa dificuldade, verdade seja dita. Sua propositura de uma “Igreja em Saída”, possui inúmeros opositores, que preferem manter-se na sua vidinha cômoda, recheada de “panos” e privilégios. Uma Igreja distante da realidade dos empobrecidos, diferentemente do que foram as primeiras comunidades cristãs. A resistência é grande dentro da própria hierarquia eclesial. Vida longa ao Papa Francisco!
Mesmo assim, o Papa Francisco segue insistindo para que a Igreja seja o reflexo do que foi nos primórdios do cristianismo. Os pobres de hoje não são muito diferentes dos que foram no passado. Tanto que o pontífice nos alerta: “deixemos de parte as estatísticas; os pobres não são números, que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a quem devemos encontrar (…) os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto de Jesus Cristo”. É na periferia que Jesus também está. Não somente na periferia social/geográfica, mas na periferia existencial. É na periferia que os anseios de Jesus se encontram com os mais necessitados e marginalizados.
Jesus periférico de Nazaré. É exatamente em sua cidade natal que o Evangelho do dia de hoje nos situa Jesus: “entrando em um barco, Jesus atravessou para a outra margem do lago e foi para a sua cidade”. (Mt 9,1). Segundo o relato dos evangelhos, Jesus nasceu na cidade de Belém, terra natal de seu pai, José. Cidade hoje situada na Cisjordânia, nas colinas da Judeia, distante cerca de oito quilômetros de Jerusalém. É também citada como Belém Efrata, ou Belém de Judá. No tempo de Jesus, Belém era uma cidade pequena e pouco expressiva. O primeiro registro bíblico que se tem de Belém vemos em Gênesis: “Assim, morreu Raquel, e foi sepultada no caminho de Efrata, que é Belém”.
Jesus é da periferia e não do centro do poder político, econômico ou religioso. A descentralização do Projeto de Deus se faz como Verbo encarnado no meio dos empobrecidos. Jesus está na periferia no meio dos seus. Estando por ali, trazem-no um pobre homem doente deitado sobre uma cama. Diante daquele cenário de aparente desilusão, Jesus devolve-lhe a esperança: “Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados!” (Mt 9,2) Isso num tempo em que as doenças eram interpretadas como sinais de pecado. Os seja, as doenças eram causadas pelos pecados que a pessoa havia cometido. Dupla marginalização: a pessoa era doente e pecadora.
Esta é a religião da alienação e indiferença. Ver a doença ou as pessoas com necessidades especiais como pecadoras é uma das formas de desencargo de consciência. O sistema de saúde da época não chegava até as pessoas mais vulneráveis. Era mais fácil atribuir a doença como consequência de uma “vida em pecado”. Como hoje, os poderes públicos se eximindo da responsabilidade de atender às necessidades dos descartados da sociedade. “A culpa de quem mora na rua é da própria pessoa que gosta de viver sob aquelas condições”. “A função dos gestores públicos é promover a limpeza”. Como no tempo de Jesus, também temos as pessoas “religiosas” de hoje.
A ação decidida de Jesus na periferia incomodou por demais as lideranças religiosas do templo. Sobretudo depois que Ele perdoou os pecados daquele que era considerado um doente pecador. Jesus havia ido longe demais ao dizer àquele homem: “Levanta-te, pega a tua cama e vai para a tua casa. O paralítico então se levantou, e foi para a sua casa”. (Mt 9, 6-7) A ação de Jesus é completa. Enquanto os Doutores da Lei ficavam preocupados com a teorização da fé, Jesus liberta por dentro e por fora, possibilitando aquele homem a capacidade caminhar com as suas próprias pernas e continuar escrevendo sua história de vida. Deus agindo na periferia, devolvendo a vida aos seus que escolheu. “Felizes os aflitos, porque serão consolados”. (Mt 5,4)
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