Quinta feira da Trigésima Terceira Semana do Tempo Comum. Uma semana mais e estaremos dentro do mês de dezembro. Celebramos na data de hoje, o Dia Mundial de Ação de Graças. Dia para agradecer. Todo dia é dia para agradecer! Graça que vem do latim “gratia” e significa benevolência, estima, graciosidade. Para a teologia, graça consiste no dom sobrenatural, concedido por Deus como meio de salvação. Já para o Cristianismo, graça é o dom gratuito de Deus a pessoa num encontro transformante em que a criatura humana é presenteada. Através da graça, Deus confere ao ser humano a participação na divindade de Deus. Graça, gratuita de Deus como dádiva total de si mesmo na pessoa do Filho.
A graça se faz na gratuidade. Graça que é algo da constituição do ser humano, muito embora muitos deles ignoram o seu significado para a vida humana. A vida é o dom maior gratuito de Deus a nós. Graça que é uma dádiva d’Ele. Agradecer é uma das sábias características dos fortes que, mesmo nas limitações diárias, sabem reconhecer e agradecer pelas alegrias que a vida nos reserva ao longo de nossa história. Desde as pequeninas coisas, Jesus sabia ser agradecido ao Pai por tudo aquilo que Ele reservou para si: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”. (Mt 11,25) Graça é dom, agradecer é divino.
Rezei nesta manhã em espirito de gratuidade. O profundo silêncio monacal de meu quintal, favoreceu o meu estado orante. As árvores ainda salpicavam as gotas restantes da chuva que caiu sobre elas a noite inteira. Nenhum passarinho nos galhos. Agradecer a Deus pela chuva que caiu, é o mínimo que qualquer um de nós pode manifestar. Neste clima de pura melancolia, e na gratuidade de meu coração, agradeci a Deus pela oportunidade de ter feito toda uma história de vida, neste solo amazônico, caminhando com a Prelazia, sob a batuta de Pedro, inebriando com os saberes tradicionais ancestrais dos povos indígenas, a quem aprendi amar, e por eles dar a minha vida.
Jesus, o jeito humano de Deus Ser. Jesus, a humanidade de Deus. Em Jesus, Deus se faz todo humano. O Mistério da Encarnação, onde o transcendente se faz visível, tangível e próximo, humanizando-se. Deus se humanizou em Jesus, sem deixar de ser divino, fez-se plenamente humano. A Encarnação do Verbo se fazendo humanidade na pessoa do Filho. O transcendente se fazendo imanente e nos levando à transcendência do ser divinal de Deus. Jesus, de tão humano que foi, só podia ser divino mesmo! De tal maneira que, na medida em que conhecemos a humanidade de Jesus, percebemos que Ele é o único caminho que temos para conhecer quem é Deus, como Ele é e o que quer ser.
Jesus, a humanidade de Deus que chora. Pelo menos, três vezes há registros no Novo Testamento que Jesus chorou. Evidente que foram mais vezes. Jesus chora diante da morte de Lázaro a quem ele amava (Jo 11,32-36); Jesus que chora ao ver os pecados da humanidade (Lc 19,41-42); e Jesus que chora antes da crucificação, como nos relata a Carta aos Hebreus: “Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade” (Hb 5,7). Quiça, o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1816) tenha razão: “Chorar é diminuir a profundidade da dor”.
Estamos a caminho de Jerusalém com Jesus, como o texto da liturgia de hoje nos situa. Ao avistar a “Cidade Santa” Ele começa a chorar. Ele vê e pressente os pecados passados e futuros das pessoas e seu coração se rompe. É o distanciamento da humanidade em relação ao projeto de Deus. Jerusalém, a cidade santa, como descrevera o Livro do Apocalipse: Vi também descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, uma Jerusalém nova, pronta como esposa que se enfeitou para o seu marido”. (Apoc 21,2) Aquela que foi projetada por Deus para ser a Cidade Santa, se transformara num antro de perdição entre dois poderes: religioso e político. A Jerusalém que Jesus avista não sabe qual é o caminho da verdadeira paz. Os olhos e ouvidos dela estão tapados: ela se tornou o centro da exploração e opressão do povo. Ela será destruída, como de fato o foi, no ano 70 d.C., porque não quis reconhecer na visita de Jesus a ocasião para mudar as próprias estruturas injustas. “Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz!” (Lc 19,42)
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