Sábado da trigésima quarta semana do Tempo Comum. O ano litúrgico está findando no dia de hoje. Amanhã já será o Tempo do Advento. Mais do que uma espera, tempo de preparação para bem celebrar a vinda do Menino-Deus. Arrumar a nossa casa interior e exterior para acolher o Verbo. Corações e mentes abertas, renovando o compromisso de acolher o salvador, transformando a esperança em certeza daquele que nos ama apaixonadamente e nunca nos abandona a mercê da própria sorte. Através de nós, com o nosso amor, Deus se faz presente na história humana com o seu Ser Divino, possibilitando-nos com a nossa humanidade, alcançar a Divindade de Deus.
Hoje, resolvi acordar o dia. Na companhia de uma centena de pássaros alegres, em serenata ao dia que despontava no horizonte, louvamos o Criador por mais uma de suas obras. Sintonia também com os macacos bugios, degustando as imensas jacas do quintal, espalhando o aroma delas por todo o recinto. O tempo nublado impediu que o astro rei desse as cartas de mais um dia. O frescor da manhã destoava do clima típico da estação das flores aqui em nossa região, que sempre é mais quente. Tempo propício para uma boa soneca para aqueles que preferem não testemunharem o alvorecer de mais um dia, perdendo a chance de tamanho espetáculo.
No compasso das batidas do coração, vamos dando mais um passo em direção ao dia que Deus gratuitamente nos dá. Se a vida é uma dádiva como Dom maior de Deus, o dia surge no itinerário das nossas vidas para dar cumprimento as nossas realizações. Todavia, nem sempre o coração de alguns dos nossos está sintonizado com os desafios do cotidiano. Insensível coração, que não se abre ao amor gratuito nas relações. Recordei-me da canção de Nana Caymmi, cantada pela voz melodiosa de Gal Costa, que num de seus versos assim diz: “Ah! insensato coração. Porque me fizeste sofrer. Porque de amor para entender. É preciso amar, porque…”
Coração insensível é tudo o que não pode acontecer na vida de quem se põe a caminho com Jesus. Cristão com insensível coração é uma tragédia que não pode ocorrer com quem faz o seguimento do Galileu. O coração do Mestre arde de amor pelos seus. Não ter o coração insensível, é o alerta feito por Jesus no texto que a liturgia católica nos propõe refletir neste dia de sábado: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis…” (Lc 21, 34) Quem, de fato ama, não tem em si um coração que seja insensível. Nenhum de nós nasce com o coração insensível. Ele vai se tornando como tal, nos percalços da vida. Como sabiamente nos dizia Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
A atitude do discipulado de Jesus é a de estarmos sempre vigilantes e preparados para o que der e vier, como Ele mesmo diz aos seus naquele contexto estando em Jerusalém: “ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer”. (Lc 21, 36) Sabemos que, contando somente com as nossas forças, não conseguiremos manter-nos vigilantes e atentos. A permanente oração é uma das nossas “armas” poderosas para darmos conta de alcançar os nossos objetivos. Oração que se faz em sintonia com o Deus de Jesus, o Deus da vida. Na confiança sempre de que Ele escuta as nossas preces e nos dá força para seguirmos adiante. Através da fé e, na intimidade com Deus, nos revelamos a Ele, que atento nos escuta, como afirmou o nosso Papa Francisco: “Ter fé não significa estar livres de momentos difíceis, mas ter a força para enfrentar sabendo que não estamos sozinhos”.
Atentos, vigilantes e preparados para acolher os tempos que virão. Atitude de quem se coloca de pé, como o nosso bispo Pedro diante das inúmeras ameaças de morte que sofrera em vida: “Eu morrerei de pé como as árvores. Me matarão de pé. O sol, como testemunha maior, porá seu lacre sobre meu corpo duplamente ungido. […]” Estar de pé diante do Filho do Homem, de coração sensível, suportando toda forma de perseguição por causa do Reino. Nada que nos impeça de viver no esperançar de Deus, atentos e fortes com a presença d’Ele em nós: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33) Jesus não engana seus seguidores: o futuro é tempo de testemunho em meio a lutas e perseguições. Mas é também tempo de confiança e paz, pois os cristãos podem contar com o amor do Pai, desde que não seja insensível o coração.
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