Segunda feira da 34ª semana do tempo comum.

A semana está só iniciando. Vida que segue. Caminhamos em direção ao horizonte maior da perspectiva de Deus, avançando ao encontro do Advento, que é este tempo especial de renovação da fé à luz da Palavra de Deus e da vinda do Menino Deus que vem nascer no meio de nós.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

No Advento, primeiro tempo do Ano litúrgico, período que antecede o Natal, em que nos preparamos, com alegria, e esperança renovada, aguardando o Nascimento de Jesus, o Cristo. Tempo de viver mais intensamente a fraternidade e a Paz.

Neste tempo de preparação para o Natal, temos uma oportunidade única de rever a nossa trajetória histórica de filhos e filhas de Deus e pensarmos numa sociedade mais humana e menos desigual. Deus nos fez iguais! No mundo idealizado por Ele, cabem a todos e todas, sem distinção. O mundo de segregação racial, étnica e social, é uma idealização e construção dos humanos desumanizados. Somos impelidos a quebrar todas as barreiras que contribuem para este tipo de sociedade, inimiga do sonho de Deus. Neste sentido, ainda influenciados pela reflexão do racismo estrutural, não basta não ser racista. É preciso ser anti-racismo.

Vivemos ontem um domingo diferente, atípico. Nossos jovens estudantes foram submetidos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Lembrando que o Enem foi instituído no ano de 1998, dez anos após a promulgação da Carta Magna. O objetivo inicial deste exame, era o de avaliar o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. Todavia, a partir de 2009, o Enem passou a ser utilizado também como um dos mecanismos de acesso à educação de nível superior. Ou seja, as notas dos inscritos no Enem, podem ser utilizadas para o acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e ao Programa Universidade para Todos (ProUni).

Através das políticas públicas afirmativas de inclusão, o Enem se transformou numa ferramenta específica de acesso à Universidade, dos jovens das camadas mais pobres do andar de baixo de nossa sociedade. Isto para desespero da camada do andar de cima, que viu o seu filho, corado e bem vestido, sentando lado a lado com os pobres, pretos, favelados da periferia, quilombolas e indígenas. Uma revolução inclusiva para espanto de uma sociedade que sempre pensou a Universidade como espaço para os filhos da nobreza. A estranheza foi ainda maior quando a “elite” percebeu que o desempenho acadêmico da “ralé” é tão ou melhor, que o dos “filhinhos de papai”.

É, mas nem tudo são flores neste emaranhado que se transformou este último Enem. Para a edição do Exame de 2021, apenas 3,1 milhões de inscritos foram confirmados. Este é o menor número desde o ano de 2005. De saber que o Enem já atingiu a cifra de quase 8 milhões de inscritos em anos anteriores. Esta edição do Enem trouxe um dado relevante: 41% menos inscritos, afastando inclusive os negros e pobres. Apenas 11,7% dos inscritos para a realização das provas, são de pretos, quebrando assim as pernas deste processo de inclusão das pessoas menos favorecidas, adentrarem à Universidade.
Somos uma sociedade excludente. Aqueles que nos governam, o fazem pensando quase que exclusivamente nas classes mais abastadas. Além do que, estão mais preocupados com as “Políticas de governo”, do que com as “Políticas de Estado. Lembrando que a primeira é a política rasteira, pequena, pensada para defender os interesses e privilégios daqueles da prateleira de cima; enquanto a Política de Estado visa o bem comum da coletividade, daqueles que vivem na base da pirâmide e que sustentam com a sua força de trabalho todos os demais andares de acima. Quando se governa pensando na primeira hipótese, acaba afetando também as políticas de inclusão social, como no caso do Enem.

Jesus, na sua vida pública e no anúncio de seu ministério messiânico, sempre esteve preocupado com a inclusão dos marginalizados. Caminhou com eles e se fez um com eles no exercício da construção de uma vivência cidadã da fé, na luta pela libertação integral de todas as formas de exploração. Hoje mesmo vemos o caso da pobre viúva (Lc 21,1-4). Jesus está em Jerusalém, observando a cena das pessoas que vão ao templo. Cada uma daquelas pessoas depositando as suas ofertas. Umas mais generosas. Entre estes, aparece uma pobre viúva, que faz o contraponto, dando tudo o que possuía, recebendo o elogio de Jesus que afirma: “essa pobre viúva ofertou mais do que todos” (Lc 21,3)

Nunca é demais lembrar que o Templo de Jerusalém, definitivamente, não era espaço de inclusão, mas de exclusão. Nele se reproduzia o modelo de sociedade que existia no tempo de Jesus. Os pobres eram tratados como seres inferiores e ainda assim, explorados pelos Sumos Sacerdotes, escribas e doutores da lei, que exploram as viúvas e roubavam suas casas. Ao enaltecer aquela pobre mulher, Jesus mostra que numa sociedade que acredita em Deus, não podem existir relações econômicas baseadas no supérfluo, mas relações de amor e doação total, como fez a viúva no contexto de hoje.

 

nota do editor: involuntariamente, a coluna do Chico Machado não foi publicada ontem, pelo que pedimos desculpas a todos, autor e leitores.

 

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fonte foto: bing.