Terça feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo comum. O mês de agosto correndo veloz ao encontro do mês primaveril e também dedicado à Bíblia, para a Igreja Católica. Enquanto setembro não chega, vamos, no dia de hoje, celebrando a memória de Santa Mônica, a mãe de Santo Agostinho, que celebraremos o seu dia amanhã. Mônica é oriunda de Tagaste, norte da África, nascida em 331. Teve uma vida matrimonial difícil, pois casara com um homem ambicioso e mau caráter, com o qual teve três filhos, sendo o primogênito Agostinho, por quem rezou a vida inteira, dado a vida tortuosa e cheia de vícios que levava. De tanto que rezou, acabou sendo canonizada pelo Papa Alexandre III, o 170º Papa da história da Igreja Católica.

Santa Mônica morreu aos 56 anos de idade no ano de 387. Em seu principal livro “As Confissões”, Santo Agostinho fez um memorável texto dedicado à sua mãe. Ela que foi a responsável direta pela conversão dele, ensinando-lhe, sobretudo, pelos exemplos de vida, a fé cristã, a moral e a mansidão. Depois de muitos erros e acertos, o seu filho se converteu após muitos anos de apelo de sua mãe. Foi ela declarada a Padroeira das Associações das Mães Cristãs. Sua festa é comemorada no dia 27 de agosto, data de sua morte. “Eu clamei ao Senhor na minha angústia e Ele me respondeu”. (Sl 120,1) Certamente este foi um dos versículos prediletos desta grande mulher de oração do século IV.

De uma grande mulher de Deus, passamos ao “Dom da Paz!” Neste dia 27 de agosto completam-se 25 anos da morte de Dom Hélder Câmara (1909-1999) Dom Hélder foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM, 1955). A CNBB que teve importante papel de enfrentamento à ditadura militar brasileira. Graças a esse trabalho, foi elevado ao título de bispo da igreja católica, em 1952, tornando-se o secretário geral dessa organização. Em 1964, ele foi designado arcebispo na Arquidiocese de Olinda e Recife, cargo que ocuparia por 21 anos, mesmo período que perdurou a ditadura. Dom Hélder passou a ser reconhecido mundialmente como liderança contra o autoritarismo e em defesa dos Direitos Humanos. Em terras pernambucanas, fortaleceu as comunidades eclesiais de base (CEBs). “Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”, costumava dizer o Dom.

Fazendo uma pausa no profetismo de Dom Hélder, voltemos ao texto da liturgia de hoje que nos traz, mais uma vez, as contendas dos escribas, saduceus e fariseus com Jesus. O Mestre Galileu teve muitas dificuldades ao lidar com este povo. Lembrando que os publicanos ou cobradores de imposto eram os coletores de tributos e taxas destinados ao Império Romano. Por essa razão, eram odiados pelo povo. Já os saduceus eram um partido religioso, econômico e político dominantes na época de Jesus. A este grupo pertenciam a maioria dos sacerdotes. Estes eram favoráveis à presença romana. Materialistas que eram, não acreditavam na ressurreição. Representavam a aristocracia dominante do judaísmo nos tempos do Novo Testamento.

Os fariseus ou separados, como o nome já diz, formavam um partido leigo muito próximo ao povo. Eram admirados pelo povo mesmo que o desprezassem. Distinguiam-se pela intransigência e rígida observação da Lei, além de elevado nível moral. Ao contrário dos saduceus, acreditavam na Ressurreição e aguardavam a vinda do Messias. Em maior número que os saduceus, os fariseus (parash: “separar”) representavam o núcleo mais rígido do judaísmo, formado basicamente por pessoas da classe média e com grande influência sobre o povo (cf. Jo 12,42-43). Eram meticulosos quanto ao cumprimento da Lei mosaica e, por isso, a maioria dos escribas (cf. Mt 15,1; 23,2) pertencia a esse grupo. Enfatizavam mais a tradição oral do que a literalidade da lei.

É para este grupo, especificamente, que Jesus dirige as suas palavras no texto de hoje. Corajosamente Ele os chamam de: “Guias cegos!” (Mt 23,24) Cobram um amontoado de coisas dos outros, mas eles mesmos não fazem nada daquilo que exigem dos outros. Um caráter movido pela hipocrisia. Jesus está sendo duro e direto contra esta conduta enviesada dos fariseus. Falam, mas não fazem. Pedem dos outros, mas não dão nada de si mesmos. É como se Jesus rogasse uma maldição contra aquelas lideranças infiéis cegas: “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas!” (Mt 23,23) Aqui podemos dizer que Jesus está iniciando o seu discurso escatológico, a chegada do fim dos tempos, a consumação final de tudo, segundo a concepção bíblica cristã. O que vale mais para Jesus não é prática de preceitos estéreis formais, já que o mais importante é prática da justiça com amor, a misericórdia sem limites, e a fidelidade ao projeto do Reino. Somente um coração que seja puro pode ver a Deus nas circunstâncias mais variadas da vida: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. (Mt 5,8) Ver a Deus é trazer para dentro do mundo a justiça e a paz do próprio Deus. Que não sejamos como os fariseus, guias cegos, de corações impuros, esbanjando hipocrisia!