Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum. Celebrando o “Dia do Senhor”. Dia do descanso. É assim desde o Antigo Testamento em que o “Dia do Senhor”, o domingo, é dedicado semanalmente para descanso. O “Dia do Senhor” no sétimo dia da semana, porque Deus descansou no sétimo dia depois de realizar sua obra da criação. “No sétimo dia, Deus terminou todo o seu trabalho; e no sétimo dia, Ele descansou de todo o seu trabalho. Deus então abençoou e santificou o sétimo dia, porque foi nesse dia que Deus descansou de todo o seu trabalho como Criador”. (Gn 2,2-3)
Domingo em que acordei com uma dor profunda em meu coração, depois de ver a cena ontem a noite, da Ilha do Bananal ardendo em chamas. Fui dormir com o meu coração apertado de ver as labaredas encostando ao Rio Araguaia, na margem do Tocantins. Todos os anos é a mesma cena. Entra governo e sai governo. A ilha está desaparecendo, com sua rica flora e fauna. Todos os anos, criadores de gado ilegalmente, colocam fogo na vegetação, para que, com a chegada das chuvas, o capim que alimenta o gado, floresça verdejante, segundo a ideia destes pecuaristas. Pagamos um preço altíssimo pela irresponsabilidade destes senhores, sem a devida fiscalização dos órgãos governamentais “competentes”. Sofremos nós e, principalmente, o povo Iny e Javaé, habitantes da Ilha do Bananal.
No dia 28 de julho, comemoramos o Dia do Agricultor. Este dia foi instituído pelo presidente Juscelino Kubitschek, em 1960, sancionando o Decreto Lei nº 48.630, de 27 de julho de 1960. Falando em agricultor, fazemos questão de lembrar-nos dos pequenos produtores rurais que fazem parte da “Agricultura Familiar”, pois são eles que fazem chegar às nossas mesas o fruto de seus trabalhos, em forma de alimento para todos nós. Lembrando que 70% de toda a alimentação que chega às nossas mesas advém destes pequenos agricultores. A outra parte, chega, mas com um diferencial: cada vez mais envenenados, já que esta é a especialidade do “Agro” nada “Pop” e nem “Tec”: “Pesquisadores têm atribuído o uso de agrotóxicos no Brasil como uma nova espécie de prática colonial”.
Alimento que sacia a fome! Fome de pão e de justiça! Felizmente 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome no Brasil em 2023. Segundo dados estatísticos, o número de pessoas que enfrentam a insegurança alimentar e nutricional grave passou de 33,1 milhões em 2022 (15,5% da população) para 8,7 milhões em 2023 (4,1%). Ainda temos pessoas passando fome em nosso país, apesar de um setor da agricultura se gabar de que “mata a fome da população mundial”. Quem tem fome, tem pressa! A fome não espera, como podemos ver, através da temática que a liturgia deste 17º Domingo do Tempo Comum nos convoca a refletir. Pão partilhado para saciar a fome de uma grande multidão de pessoas.
Apesar de o Ano litúrgico ser o “B”, em que refletimos o Evangelho segundo Marcos, neste domingo e nos próximos, o evangelista da vez será São João. Trata-se da “partilha do pão”, que alguns de nós, erroneamente chamamos de “multiplicação dos pães”. Iniciando o capitulo 6, João sinaliza para nós o olhar generoso e compassivo de Jesus para a multidão faminta. Este mesmo texto de hoje aparece também em Mc 6,35-44. A preocupação do Mestre Galileu com as pessoas que estão ali ao seu redor e famintas. Em Jesus, Deus é misericórdia e compaixão! Olha para a multidão com fino olhar de generosidade, ternura e partilha. Ao contrário do discipulado, que quer fazer dispersar a multidão, Jesus propõe a missão: ser sinal do amor generoso de Deus, assegurando para todos, a possibilidade de subsistência e dignidade.
A segurança da subsistência não está no muito que poucos possuem e retêm para si, mas no pouco de cada um que é capaz de repartir entre todos e todas. A garantia da dignidade de cada uma das pessoas que necessitam de cuidados, carinho e proteção, não são encontradas no poder de um líder que manda, ou no poder daqueles que acumulam para si, mas no serviço de cada e cada uma que organiza e trabalha para garantir com dignidade o bem de todos e todas. Quando o pão é partilhado, todos se alimentam e saciam, como fica evidenciado na conclusão do texto joanino: “Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” (Jo 6, 12)
Embora todo o esforço do Papa Francisco, desde o início de seu pontificado, de promover e buscar uma “Igreja em Saída”, uma parte desta nossa Igreja ainda está muito distante daquilo que pede Jesus para os que o seguem com fidelidade. Padres, bispos, lideranças, estão ainda muito voltados para as sacristias e os devocionismos, do que para os caídos e famintos a beira da estrada. A preocupação maior deste setor eclesial é com as celebrações festivas, suas roupas suntuosas rendadas, seus aparatos clericais medievais. Para estes e também para nós, Jesus continua dizendo com todas as letras: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16) Nossa fidelidade na missão é de servir ao povo. Reunir e alimentar as multidões sofredoras, realizando os sinais de um novo modo de vida e de anúncio do Reino. A Eucaristia é o sacramento da memória viva dessa presença de Jesus, lembrando continuamente qual é a missão a que nós, seguidores, fomos chamados.
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