Sábado da Quinta Semana do Tempo Comum.
Festa de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira dos doentes. Das muitas aparições da Mãe de Jesus reconhecidas pela Igreja, esta é mais uma delas. Desta vez, a aparição da “Comadre de Nazaré” aconteceu no dia 11 de fevereiro de 1858, a uma adolescente de nome Marie-Bernard Soubirous, nas proximidades de Lourdes, França, na gruta Massabielle. Esta jovem, posteriormente virou Santa Bernadete, deixando vários escritos, passando assim a fazer parte do Ofício das Leituras da nossa liturgia. Uma das frases ditas por ela, certamente influenciada pela aparição da Mãe, faz todo sentido: “Quem ama, faz tudo sem esforço, ou ama seu esforço”.
Na data de hoje também celebramos o “Dia das Mulheres e Meninas na Ciência”. Data esta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), como forma das mulheres conquistarem o seu espaço. Mulheres estas que, ao longo do nosso processo histórico, o ser feminino foi erroneamente relacionado a uma capacidade intelectual e cognitiva inferior a dos homens. Por esse motivo, por um longo período, elas foram excluídas inclusive de uma educação formal e, com isso, a disparidade entre os gêneros na carreira e produção científica se transformou numa realidade que reflete até os dias de hoje, com uma árdua luta delas no sentido de valer a sua importância para o processo científico. Mulheres fenomenais como a física e química polonesa Marie Curie (1867-1934) que dizia: “Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos.”
Compreender o processo da fome para poder dar respostas urgentes e satisfatórias àqueles que passam fome. Fome de pão e dignidade. É inadmissível que um país que, através do Agronegócio alimenta mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo tenha em suas ruas uma população de 33 milhões de pessoas passando fome. Isso sem falar nas 125 milhões de pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar. Ou seja, pessoas com a falta de disponibilidade e acesso aos alimentos necessários para a sua alimentação diária. Pessoas que vão dormir todos os dias com fome. Triste realidade constatada pelo escritor Josué de Castro (1908-1973): “Metade da humanidade não come; e a outra não dorme, com medo da que não come”.
A fome e a pressa de comer fez com que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos convocasse para nos posicionarmos diante do contexto da fome que assola tantos brasileiros em nosso país. A Campanha da Fraternidade deste ano de 2023 é sobre esta triste realidade. Com o tema “Fraternidade e fome”, e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Essa é a terceira vez que uma Campanha da Fraternidade aborda a questão da fome, sendo a primeira vez em 1975, com o tema “Fraternidade é repartir” e o lema “Repartir o pão”. E a segunda foi em 1985, com o lema “Pão para quem tem fome”, antecipando assim a preparação para o Congresso Eucarístico de Aparecida. Passados tantos anos e a fome ainda continua fazendo parte da vida das famílias brasileiras.
A fome é de responsabilidade direta dos nossos governantes, mas é também de todos e cada um de nós. Uma sociedade que não sabe partilhar o alimento necessário para que todos possam comer e viver com dignidade, não pode ser uma sociedade séria e compromissada com o sonho e os anseios de Deus para com a vida plena para todos. Jesus reage movido por um coração cheio de misericórdia diante da multidão faminta: “Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem nada para comer”. (Mc 8, 2) Ainda que Jesus esteja em território pagão e poderia se eximir da responsabilidade de saciar a fome de toda aquela gente, como muitos dos nossos contemporâneos assim se comportam diante da fome alheia. Jesus toma posição contra a fome e faz acontecer a partilha.
O poeta Mário Quintana (1906-1994) assim diria: “Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão”. Com certeza, estes cegos e surdos, não fariam parte do grupo de Jesus que nos convida a formar uma nova sociedade onde a fome não tivesse vez: a sociedade da partilha dos bens e da comida entre todos e todas. A vida é para todos! O pão é para ser partilhado. Quem não partilha o pão não tem lugar na mesa da partilha da Eucaristia. Quem não partilha o pão e participa da mesa da Eucaristia comunga a sua própria condenação. “Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, […] come e bebe a sua própria condenação.” (1 Cor. 11, 27a-29b) O pecado de uma sociedade que gera a fome está também presente naqueles que se omitem ou que são indiferentes aos que passam fome.
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