Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum. Primeiro final de semana do mês de setembro, mês da Bíblia. Para a sociedade civil é o “Setembro Amarelo”. Esta cor aparece como referência à prevenção ao suicídio. Uma campanha em favor da vida. O tema escolhido para este ano é: “Se precisar, peça ajuda!” Lembrar que o suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo inteiro. Segundo a última pesquisa realizada em 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem considerar os casos que não são notificados. No Brasil, este número chega a casa de 14 mil casos por ano. O suicídio atinge inclusive, a Igreja Católica. Vários padres e seminaristas consumaram o ato. Os medos interiores tomando a decisão por nós.
Rezei nesta manhã na companhia de uma horda de papagaios, periquitos e araras, que resolveram nesta manhã aprontar, em meu quintal, uma cerimonia ecumênica. Uma verdadeira orquestra sinfônica natural. Cada qual se manifestando em seus dialetos próprios. Deus se fazendo harmonia, mostrando a diversidade da criação, com cada qual vivendo e se expondo no seu jeito de viver. Rezando diante deste cenário, recordei-me de uma das frases ditas pelo nosso maior escritor Guimarães Rosa: “Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.
“Viver sem vergonha de ser feliz”, como cantava Gonzaguinha. Viver de amor e para o amor. Viver na fidelidade do amor que fazemos nosso. Viver na intensidade proposta por Deus. Viver fazendo do amor, mais que um sentimento alojado no coração, mas como uma proposta de vida doada às causas da plenitude do existir para todos. Viver em sintonia com o projeto de amorosidade de Deus, na belezura de quem dá tudo de si até as últimas consequências. Fidelidade, solidariedade, amor e justiça de quem faz da vida um serviço às causas do Reino. Amor que encontra a paz na esquina da existência humana, no cuidado daqueles que necessitam de ajuda para que também possam viver em plenitude.
“Você pode até dizer que não tem nada com isso, mas Deus pesa os corações e tomará conhecimento. Aquele que vigia sobre a sua vida sabe de tudo, e pagará a cada um conforme as obras que tiver feito”. (Prov 24,12) Viver é tomar posição de que lado estamos nós: da vida, ou da morte. Posição de fidelidade à cruz redentora de Jesus. Viver é buscar o caminho do calvário como quem está livre e disposto a doar-se por inteiro. Fidelidade ao Deus da vida que Ressuscitou o Filho, descendo-o da cruz e devolvendo-o à vida plena como gesto de profundo amor. A Ressurreição como sonho de Deus para todos aqueles que abraçarem também o caminho da cruz.
É o que nos mostra o evangelista Mateus no texto que a liturgia nos reservou para este domingo. Uma sequência imediata do texto que refletimos no domingo passado. Se lá, vimos a confissão teológica de Pedro: “Tu és o Messias o Filho do Deus vivo”, (Mt 16,16); hoje vamos perceber que este mesmo discípulo se transforma em satanás (aquele que não está junto): “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço”. (Mt 16,23) Pedro se recusa a aceitar que o paradoxo cruz seja o caminho e a opção para se chegar à vida. A sapiência de Deus mostrando que só se chega à vida plena passando pelo sacrifício de doação total da própria vida.
Jesus se dirigindo à Jerusalém, centro do poder econômico, político e religioso. Ele não foge do caminho da cruz. Sabe que os seus maiores adversários são os escribas, saduceus, fariseus, mestres da Lei. Gente de dentro da própria religião que hipocritamente pregavam. Além de caminhar para o martírio, Ele ainda orienta os seus discípulos e discípulas: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. “Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. (Mt 16,25) Lembrando que no tempo de Jesus, a cruz era reservada a criminosos e subversivos. Portanto, quem quer seguir a Jesus tem que estar disposto a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como um revolucionário subversivo (tomar a cruz de cada dia). Não a cruz como objeto de adoração, mas como atitude livre, de entrega total às esmas causas de Jesus. Você se sente preparado/a para esta entrega? Se sim, rezemos com o salmista: “A ti, Senhor, pertence o amor e a fidelidade; pois retribuirá a cada um segundo as suas obras!” (Sl 62,13)7
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