A Festa da Exaltação da Santa Cruz[1] recorda-nos e atualiza o imenso amor de Deus para conosco. Ele se encarna na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, o qual “estava na forma de Deus, mas renunciou ao direito de ser tratado como Deus. […] tomou a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2, 6-7)[2].
A Encarnação se torna plenamente compreensível ao coração humano à luz do mistério da Cruz, pois o Senhor se fez um de nós para nos restituir a amizade com Deus, bem como resgatar a nossa dignidade e excelência no contexto da criação, pois “… o que é o homem para dele te lembrares, um filho de homem para visitá-lo? Tu o fizeste pouco menos do que um deus, e de glória e esplendor o coroaste” (Sl 8, 5-6).
Este vínculo foi rompido pela desobediência de nossos primeiros pais, mas foi reatado através do sacrifício de Cristo na cruz, onde ele nos mostrou o significado da obediência perfeita, isto é, a entrega de sua vida por amor de nós!
A cruz é o sinal mais insigne da nossa salvação! Somos todos exortados a carregar a nossa. E o evangelista Marcos assim nos recorda as palavras do Mestre: “Se alguém quiser seguir após mim, negue-se a si mesmo, carregue sua cruz e me siga” (Mc 8, 34). A ética do Evangelho supõe a assertiva adesão à loucura da cruz: “De fato, a linguagem da cruz é loucura para os que se perdem. Mas, para os que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1Cor 1, 18).
Prosseguindo na reflexão sobre o carregar a cruz, gostaríamos de colocar em relevo um personagem, que, desde a mais antiga tradição da Igreja, tornou-se símbolo de caridade: Simão de Cirene[3], mencionado em três dos evangelhos:
Se observarmos as expressões verbais: “obrigaram a carregar” e “fizeram com que carregasse”, fica-nos evidente que o Cireneu foi constrangido a levar a cruz do Senhor. E parece-nos que ele não teve alternativa diante do pedido dos soldados do governador (cf. Mt 27, 27), senão obedecer-lhes.
Esta situação coloca-nos em confronto com duas posturas cruciais: Cireneu carregou a cruz por uma imposição romana? ou ele agiu movido pelo sentimento de solidariedade para com o outro?
É difícil respondê-las, pois não há modo de perscrutar o coração do Cireneu. E qualquer julgamento moral a seu respeito seria, no mínimo, mera especulação, porque no intervalo entre o peso da obrigação e o ato de carregar talvez tenha surgido o tempo oportuno para que nascesse a livre decisão pela solidariedade. Na verdade, – e não podemos negá-lo! – aconteceu ali, a caminho do Gólgota (cf. Mc 15, 22), o encontro entre o Crucificado e o Cireneu!
À luz da Sagrada Escritura, que nos diz: “Carreguem o peso uns dos outros, e assim vocês cumprirão a lei de Cristo” (Gl 6, 2), cabe-nos, portanto, a releitura desta antiga tradição e perguntar-nos: Como podemos ser cireneus para o outro? Como ajudamos as pessoas a carregar o peso das cruzes de sua existência?
Concluindo, diríamos que existe uma única certeza: à sombra dos braços da cruz redentora – a Árvore da Vida – repousam os pobres, os primeiros destinatários do querigma[5] (cf. Lc 2, 10-14), o qual “possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparecem a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade”[6] (Evangelli Gaudium, n. 177).
BIBLIOGRAFIA:
BAZAGLIA, Paulo (Dir.). Nova bíblia pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.
BREVIARIUM ROMANUM. Editio iuxta Typicam. Ratisbonae, [1961 ?]. (Tomus alter)
FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, A Alegria do Evangelho, do Papa Francisco ao episcopado, ao clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2013. (A Voz do Papa, n. 198)
LITURGIA DAS HORAS. São Paulo-Petrópolis: Vozes-Paulinas-Paulus- Ave-Maria, 1995. (Volume IV)
SCHÖKEL, Luís Alonso. Bíblia do peregrino: Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2000.
FRANCISCO.
Fr. Marcos R. Rocha de Carvalho, OFMCap.
Piracicaba, 14 de setembro de 2022.
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