Sábado da 30ª Semana do Tempo Comum. Dia de Finados! Momento de celebrar a páscoa daqueles que já partiram do meio de nós. Nossos entes queridos que já se foram, e não estão mais na nossa convivência, mas que deixam-nos com o coração apertado, com as marcas da saudade. Momento de tristeza, mas também de profunda esperança e alegria, já que acreditamos estarem na glória do Pai, desfrutando da vida plena. A saudade eterniza a presença de quem já se foi de nós, mas a confiança em Deus, assegura-nos a certeza de que haveremos de estar juntos um dia. Conviver com a saudade é uma arte, mesmo que extravase o coração: “Saudade é um sentimento que, quando não cabe no coração, escorre pelos olhos”. (Bob Marley)

“A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. (Rom 5,5) Dia finados é dia de esperança. Tanto que o meu amanhecer, aconteceu no túmulo do profeta do Araguaia. Desde as primeiras horas do dia, ocupei-me em preparar o ambiente para acolher as pessoas que vieram celebrar conosco ao lado de Pedro. Um ambiente profundamente de paz e serenidade, mas também, irradiando energia boa. Todos que ali estiveram, sentiram seus corações renovados com a força que emergia daquele lugar. Sou suspeito de transcrever este momento, pois Pedro foi quem deu azas a minha imaginação, para lutar pelas causas do Reino. Sobre esta nossa “passagem”, dizia-nos nosso bispo: “A morte é apenas um último detalhe da vida; menos que isso: a morte, os mortos não existem: Só existem vivos ou ressuscitados”.

Tradicionalmente, visitamos os cemitérios, onde rezamos por todos os mortos. O costume de acender uma vela, surgiu para lembrar a luz do Cristo Ressuscitado. Apesar desta data, ter sido instituída no século X, ela só foi oficializada pela Igreja Católica no ano de 1915, pelo Papa Bento XV, 258º Papa da história da Igreja Católica. Desde então, todos os anos, o Papa reza uma missa em homenagem aos mortos. A escolha do dia 2 de novembro como Dia dos Mortos, foi realizada por suceder o Dia de Todos os Santos, celebrado no dia 1º de novembro. Desde o século II, ao que tudo indica historicamente, os cristãos rezavam por seus falecidos, visitando os túmulos dos mártires e pedindo pelos que já morreram.

Os textos da liturgia deste dia são bastante significativos e nos ajudam a situar dentro do contexto da Ressurreição de Jesus. São dois os Evangelhos propostos para esta data litúrgica: (Jo 6,37-40) e (Lc 12,35-40). Optei por fazer a reflexão de hoje a partir da primeira citação, com Jesus se dirigindo às multidões e explicitando sobre a relação de amorosidade d’Ele com as pessoas, expressa neste versículo: “esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia”. (Jo 6,39) Fica bastante evidente que Deus tem um plano de salvação para as pessoas e, este plano, está presente em toda a missão de Jesus. Salvação que é oferecida a todos e todas, tendo Jesus como o grande mediador. Salvação esta que passa pela gratuidade amorosa de Deus: “Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu, a ponto de sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” (1 Jo 3,1)

“Esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”. (Jo 6,40) Jesus, com a sua encarnação, inaugura uma nova história para a humanidade. Assim, já não faz mais sentido a antiga relação que tínhamos com Deus, vendo-o apenas como um carrasco sempre pronto a nos castigar, a cada tropeço nosso. Ao mostrar-nos este novo rosto de Deus, Jesus se apresenta como aquele que veio de Deus para dar a vida definitiva às pessoas. Evidente que os partidários da religião oficial do Templo, seus adversários, não aceitam e nem admitem que um homem pobre, da periferia de Nazaré, filho da dona Maria e do Seu Zé, pudesse ter esta origem divina e, portanto, possa dar a vida definitiva.

“Se morrermos com Ele, com Ele viveremos” (2 Tm 2, 11). Esta era a certeza que Paulo tinha, convicto que era ao seguir os passos de Jesus. O amor ultrapassa todas as barreiras do temor e faz nascer a esperança. Quem se deixa levar pelas rédeas do amor, se faz servidor das mesmas causas de Jesus. É este mesmo amor que ultrapassa todos os limites da razão humana, fazendo daquele que crê, um instrumento transformador nas mãos de Deus. Este mesmo Deus que nos ama com o amor de uma mãe, como o profeta Isaías mesmo já o dissera: “Porventura pode uma mulher esquecer-se de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Ainda que esta se esquecesse dele, contudo Eu não me esquecerei de ti”. (Is 49,15)