Quarta feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. Para a Igreja Católica, o dia de hoje é dedicado à Festa de São Tomé, Apóstolo. Ele que fazia parte do grupo dos 12 discípulos de Jesus. Tomé foi um dos doze escolhidos por Jesus de Nazaré, conforme os relatos dos Evangelhos Sinóticos: (Mc 3,18; Mt 10,3; Lc 6,15). Era de origem judaica da Galileia e, como os demais discípulos, acredita-se que também era pescador. O nome Tomé vem do aramaico que em grego significa gêmeo. No grego também encontramos uma palavra equivalente a gêmeo que é “Didvmus” (Dídimo). Provavelmente, Tomé não era muito instruído, mas isto não o impediu de ter um imenso amor que sentia pelo Mestre. Segundo a tradição, o Apóstolo recebeu a missão de evangelizar a Síria e, depois, a cidade de Edessa, da qual partiu para fbundar a primeira comunidade cristã na Babilônia, Mesopotâmia.

A festa é de São Tomé, mas o dia 3 de julho é uma data historicamente especial: “Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial”. A “história oficial” conta que a escravização no Brasil iniciou-se por volta da década de 1530, quando os invasores portugueses, implantaram as bases para a colonização da América portuguesa, visando atender à demanda por mão de obra para o trabalho na lavoura. Este processo iniciou-se com a escravização dos indígenas, sendo que, ao longo dos séculos XVI e XVII, foi substituída pela escravização dos africanos, trazidos por meio do tráfico negreiro. Conta-se também a história oficial que este processo encerrou-se em 1888, com a farsa da “Lei Áurea”, que determinou o “fim da escravatura”.

O Brasil está entre os países que possui uma imensa população negra, decorrente deste processo da vinda dos africanos escravizados para esta parte do Continente. Estima-se que 1/3 dos negros saídos à força da África (7 milhões), desembarcaram por estas terras. Entretanto, apesar deste quantitativo, fato é que somos um dos países mais racistas, apesar de toda a história de sofrimento, pela qual passou a população negra deste país. Como diria a filósofa, ativista e professora norte-americana Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.

Estamos no Ano Litúrgico B. Como é de praxe acontecer, o evangelista da vez é Marcos. Entretanto, sempre que há uma solenidade especial, como a Festa de São Tomé, a liturgia escolhe outro evangelho, que no caso de hoje é o da Comunidade Joanina. O Evangelho segundo João é bem diferente dos outros três, chamados sinóticos, porque apresentam mais ou menos a mesma visão e têm muitos textos comuns. O evangelho não é tanto biográfico, é mais teológico e contemplativo, carregado de símbolos. João seguiu um caminho diferente: seu evangelho é uma espécie de meditação, que procura aprofundar e mostrar o conteúdo da catequese existente em sua comunidade. Seu evangelho visa a despertar e a alimentar a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a fim de que as pessoas tenham a vida: “Estes sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome”. (Jo 20,30-31).

A narrativa de João no texto que estamos refletindo no dia de hoje é uma das aparições de Jesus. Provavelmente nos primeiros dias da Ressurreição. Jesus Ressuscitado, que se faz presente no meio dos discípulos, devolvendo-lhes a esperança, a coragem de lutar e a alegria de viver seguindo a proposta do Reino. Naturalmente que os discípulos estivessem muito amedrontados, diante dos acontecimentos que ocorreram. Jesus faz questão de estar presente com os seus afinal a esperança é uma das formas de se vencer o medo. “Sou Aquele que Vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre! (Ap 1,18) Se os discípulos estão com medo das perseguições, estão diante do Ressuscitado, trazendo-lhes tranquilidade e segurança, porque é o Senhor da história.

Tomé não acreditou naquilo que os outros discípulos lhe contaram acerca do Ressuscitado: “Vimos o Senhor!” Ele simboliza todos aqueles e aquelas que não acreditam no testemunho da comunidade e exigem uma experiência particular para acreditar. Todavia, Jesus se revela a Tomé dentro da comunidade. Este texto de hoje nos mostra que não devemos buscar uma experiência individualista de fé, mas mantermos a nossa sintonia com os irmãos e irmãs da caminhada. A atitude de Tome, com a sua incredulidade, nos ajuda a fortalecer a nossa adesão a Jesus, por meio de uma profissão de fé muito clara e objetiva: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). Felizes são os que creem sem ter visto. A verdadeira fé nos faz ver, com os olhos do coração: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29)