Segunda feira da Oitava Semana do Tempo Comum. Tempo Comum para a liturgia católica, mas não para a cultura brasileira, pois esta é uma segunda de carnaval. O feriado mesmo é amanhã (04), entretanto, alguns foliões embalam no ritmo de carnaval desde o final da sexta feira. Passando agora de manhã pelo cais daqui de São Félix, fiquei muito triste ao ver tanta sujeira espalhada pelo chão, exalando um forte odor de bebidas. Acho um desperdício tantas garrafas long neck jogadas pelo chão, que não são reaproveitadas. Conheço muitas pessoas que festejam com alegria o seu carnaval, mas também vejo algumas delas que extravasam. O lado triste é ver tantos adolescentes consumindo exageradamente bebidas alcóolicas.

Minha segunda começou bem cedo ainda, quando amanheci no túmulo do profeta. Sou suspeito em dizer que ali é o melhor lugar para começar o dia rezando na companhia mística de Pedro. Estar ali nos faz recordar de muitas passagens na companhia dele, como pastor desta Prelazia. Pedro sim, um homem de Deus. Místico, poeta e profeta, que fez da sua vida doação e entrega pelas causas do Reino. Impossível estar ali e não nos lembrarmos de uma das frases que sempre repetia para que gravássemos: “Se a Igreja esquece a opção pelos pobres, esqueceu o Evangelho”. Ele que não esqueceu, mas adotou tal opção como prática cotidiana de vida: pobre, com os pobres e para os pobres, contra a pobreza, fruto da injustiça.

Aproveitei e pedi a intercessão de Pedro pela pronta recuperação da saúde de nosso Papa Francisco.
Pedro, que não cabia dentro de si, de tão feliz que ficou, em março de 2013, quando o argentino Jorge Mario Bergoglio, foi escolhido pelos 115 cardeais que integravam o conclave para ocupar o trono de Pedro, vago desde a renúncia de Bento XVI. “Habemus Papam” (“Temos um Papa”). O primeiro latino-americano a assumir a Igreja Católica, escolhendo o sugestivo nome de Francisco. Pertencente à ordem dos jesuítas, o Papa escolhe o nome de Francisco de Assis, que foi reconhecido historicamente pelo seu trabalho junto aos mais pobres. Já com seus 85 anos, e sendo castigado pelo Mal de Parkinson, Pedro profetizou que aquele argentino faria um excelente trabalho a frente da Igreja em favor dos mais pobres. Saúde e vida longa ao nosso Francisco de hoje!

Finalizei meu momento orante, recordando de uma das passagens de outro profeta, Isaías: “Aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam”. (Is 40,31) Uma citação pertencente ao Segundo Isaías, escrito na época do exílio na Babilônia, entre os anos de 740 e 701 a. C., aproximadamente, apresentando uma mensagem de esperança e consolação. O profeta mostra que o mesmo Deus eterno que criou o mundo é quem dá forças ao cansado e firmeza aos fracos: Ele sustenta todos aqueles que nele confiam. É desta forma que devemos olhar para frente e desenvolver a nossa caminhada rumo às nossas realizações, mesmo diante das muitas dificuldades, mas sem perder a esperança, jamais. O Senhor é conosco sempre!

No Ano Litúrgico C, a maior parte das nossas leituras são retiradas do Evangelho de Lucas. Entretanto, excepcionalmente no dia de hoje, a nossa reflexão é comandada pelo evangelista Marcos, que nos traz um diálogo de Jesus com um jovem israelita muito rico. Aliás, esta passagem aparece também nos outros dois Evangelhos Sinóticos (Mateus 19,16-30 e Lucas 18,18-30) Entretanto, diferentemente destes evangelistas, Marcos nos apresenta uma situação peculiar: aquele homem, aparentemente muito religioso, ajoelha-se diante de Jesus, indagando-o: “veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele, e perguntou: ‘Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?’” (Mc 10, 17) Saindo de fininho da frente de Jesus, aquele homem ficou bastante pensativo, talvez porque não esperasse uma provocação de mudança radical de vida a partir de então: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu”. (Mc 10,21).

Como sabemos, Jesus está a caminho de Jerusalém e faz uma proposta radical para quem se acha muito rico: despojar-se e abrir mão de seus bens e fazer a opção e adesão pelo seguimento d’Ele, fazendo parte da comunidade dos discípulos. Esta é a condição fundamental para fazer parte da lógica do Reino. Para entrar no Reino é preciso mais do que observar normas, leis e regras. Antes de tudo, o Reino é dom de Deus às pessoas, e nele tudo deve ser partilhado entre todos e todas. Isso significa também repartir as riquezas em vista de uma igualdade e da fraternidade maior, abolindo todas as formas do sistema classista de alguns privilegiados. É por isso que os ricos ficam tristes e dificilmente entram pelas portas do Reino. Bem profetizou Jesus: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” (Mc 10,25) Pena que algumas das nossas lideranças religiosas ainda hoje ignoram por completo esta proposta/provocação de Jesus