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Fazer bem todas as coisas (Chico Machado)

Terça feira da Vigésima Terceira Semana do Tempo Comum. Mais uma vez, o dia amanheceu turvo aqui pelas bandas do Araguaia: a fumaça prevalecendo, apesar dos ventos fortes. O calor está insuportável. O maior que já vi por aqui nesta época do ano. A primavera, apontando no horizonte, e vai encontrará um ambiente hostil para fazer valer o renascer de suas flores e frutos. A insanidade humana continua ainda presente naqueles que insistem em atear fogo, com a ideia de que, com as chuvas, tudo brotará novamente. Esta é a ideia presente na cultura do fogo para “limpar”. Esquecem que não somente a folhagem se queimará, mas todos os tipos de vida que ali indefesamente estão.

“Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom”. (Gn 1,31) Toda a criação é marcada pelo selo de Deus: “era bom… muito bom”. Todos, trazemos dentro de nós este selo do Criador: a marca indelével do ser divinal de Deus. Todavia, quem desvirtua a criação é a irracional desumanização. Jesus vem nesta mesma sintonia de perfeição de Deus. “Ele fazia bem todas as coisas”. (Mc 7, 37) Estava consciente que, com a sua missão, iniciaria uma nova criação: Deus se fazendo presente na história humana e estabelecendo no meio dela sua morada. Fazer bem todas as coisas é a missão que recai sobre todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão ao projeto libertador de Deus, trazido por Jesus.

O evangelista Lucas é por excelência aquele que mostra claramente o caminho de Jesus e a sua pedagogia que ensina a fazer a história dos pobres que buscam um mundo mais justo, mais humano e fraterno. Este projeto de Jesus, inaugura uma nova ordem que é a libertação, levando as pessoas à uma nova relação de partilha e fraternidade, substituindo as relações de exploração e dominação. Por este motivo, todos os adeptos desta proposta, precisam passar por um processo educativo, assumindo um novo modo de ser, pensar e agir. Quanto a isso, Jesus foi muito claro e objetivo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (Lc 9,23). Ele é o educador que mostra, pela sua palavra e ação, pela sua morte, ressurreição e ascensão, o caminho que leva à salvação e comunhão com o Pai, fonte e fim de toda a vida.

Esta é a dinâmica que o texto escolhido pela liturgia para o dia de hoje nos traz: Jesus passando a noite inteira em oração ao Pai, e depois escolhe aqueles que irão dar continuidade à sua missão: “Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos”. (Lc 6,13) Ele escolhe os doze apóstolos, que formarão o núcleo central inicial da comunidade nova, que Ele veio criar. A palavra apóstolo significa aquele que Jesus envia para continuar a sua obra. Chamados para a missão de viver e anunciar o Reino, sendo os porta-vozes das primeiras comunidades.

Doze apóstolos, escolhidos a dedo, entre os muitos discípulos e discípulas do Mestre de Nazaré. Apóstolo, palavra originária do termo grego “apostellein”, cujo significado é “enviar”, “remeter”. O número 12 na Bíblia retrata uma imagem muito diversificada. Ele é o número da completude, da harmonia divina, sugerindo perfeição e integridade. Ele representa a totalidade, o completo, o perfeito. Sabendo que a nação de Israel era composta de doze tribos. Estes primeiros enviados por Jesus carregam em si a responsabilidade de formar o núcleo central da primeira comunidade cristã, com o objetivo e missão de propagar os ensinamentos de Jesus sobre o Reino de Deus.

Embora o termo “apóstolo” seja pós-pascal, a ideia da “aposotolicidade”, estava presente desde o início da atividade messiânica de Jesus. Ele chama os seus, os preparam e enviam em missão. Evidente que o chamado de Jesus não parou nos doze apóstolos iniciais. Este chamado continua permanente na história da humanidade, pois cada um de nós é chamado a fazer parte do discipulado de Jesus, como apóstolos do Reino. Jesus continua chamando-nos para que sejamos portadores da Boa Nova do Reino. Para tanto, precisamos ser como Ele e “fazer bem todas as coisas”, onde quer que estejamos. Tarefa nada fácil. Ainda bem que podemos contar com a força transformadora do Espirito Santo, uma vez que sozinhos, não iremos muito longe. Na missão de apóstolos, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios.

Luiz Cassio

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