Quinto Domingo do Tempo Comum. No Dia do Senhor, celebramos o dom maior da vida que recebemos gratuitamente de Deus. Na sua amorosidade de Pai, Ele nos criou para a plenitude e quer que busquemos todas as formas de viver copiosamente. Quando a vida humana é ameaçada pelas intempéries da vida, é o próprio Deus que está sendo ameaçado em cada um daqueles corpos. A cada manhã devemos renovar o nosso espírito de gratidão a Deus pelo dom da vida que Ele nos deu. Estar em sintonia com a criação, nos colocando a serviço do Deus Criador, na pessoa de tantos outros nossos irmãos de nossa irmandade.
Somos filhos e filhas do mesmo Pai! A grande família de Deus! Ele que se faz Pai e Mãe de toda a criação. Somos da irmandade de Jesus quando, com Ele assumimos o compromisso de construirmos juntos, o Reino no aqui e agora de nossa história. Reino que está presente, mas ainda não, toda vez que negamos assumir as causas do Reino, no seguimento de Jesus de Nazaré. Como São Paulo mesmo disse na segunda leitura de hoje: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16) Evangelizar é preciso! Ai de mim se eu não evangelizar, não como um ministério, como profissão, da qual poderia tirar proveito e prestígio, mas como missão/participação, na qual o Senhor nos conduz pela mão pessoalmente.
O texto de Marcos que refletimos no dia de hoje é exatamente a continuidade do Evangelho do domingo passado. Se lá, Jesus estava dentro da sinagoga, ensinando, anunciando e curando, hoje Ele sai de dentro dela e vai passando pela casa das pessoas, numa atitude de conviver com elas, para saber sobre a vida delas e a melhor forma de contribuir para que elas fossem libertadas de algum tipo de mal que tivessem importunando-as. Jesus que faz questão de estar no meio das pessoas mais necessitadas, como opção do Reino, que se faz com e para os pobres, pequenos e marginalizados.
Um aspecto importante destas andanças de Jesus pelas casas, é que, quem o acolhe são as mulheres. Os evangelhos relatam que são elas que recebem Jesus e fazem as vezes de acolhedoras do Messias, Filho de Deus enviado. Foi assim com Marta e Maria: “Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra”. (Lc 10,38-39) Certamente, para realçar a preocupação de Jesus de valorização da mulher, numa sociedade machista patriarcal, em que as mulheres eram consideradas como seres desprezíveis e inferiores.
Jesus está com os seus discípulos em Cafarnaum, lugar que Ele, estrategicamente escolheu como ponto de apoio para o exercício de sua atividade messiânica. O texto de hoje nos diz que Jesus entrou na casa da sogra de Pedro. Uma mulher anônima, mas de uma significância impar para compreendermos a lógica da “messianidade” de Jesus. Esta mulher estava acamada e recebe de Jesus o dom da cura de suas enfermidades: “Jesus se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los”. (Mc 1,31) Curada, ela entende de imediato a sua missão: servir! Lembrando que naquele contexto judaico, a febre não era apenas uma manifestação do corpo, decorrente de alguma infecção, mas era uma manifestação demoníaca. Assim, ao ser “liberta do demônio”, aquela mulher pode levantar-se e pôr-se a serviço.
Diante da fama de Jesus que se espalhava, por causa de suas ações de libertação, há uma grande procura das pessoas vindas até Ele. Entretanto, Ele não se apega a esta condição de ser alguém famoso, mas se dispõe a ir a outros lugares, convidando os seus a acompanhá-lo: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. Mc 1, 38) Jesus que não se colocava no centro das atenções, mas as suas ações concretas de libertação falam por si. A coisa mais importante não era a sua pessoa em si, mas as ações de Deus que eram realizadas n’Ele e por Ele.
Jesus saindo de si mesmo, indo onde estava o povo! Evangelizar é estar no lugar certo e na hora certa da vida cotidiana do povo, como Igreja doméstica em saída, anunciando a Boa Nova do Reino com a própria vida, sendo porta-voz da mensagem libertadora de Jesus. Uma verdade que a nossa Igreja precisa compreender na sua amplitude. O padre, o bispo, os religiosos de maneira geral, não são e nem devem ser o centro do processo de evangelização, mas o “Kerigma” de Jesus (sua mensagem, pregação, anúncio ou proclamação). Toda vez que os religiosos se colocam no lugar d’Ele, estão deixando de entender a sua missão e prestando um grande desserviço à evangelização. Está aí algo que os “padres midiáticos” precisam urgentemente se conscientizar. Consciência que já possui o Padre Zezinho, Scj quando diz: “Eu não sou padre porque eu canto. Eu canto porque eu sou padre”.
Comentários