Quinta feira da Décima Sexta Semana do Tempo Comum. Festa de São Tiago, Apóstolo. Filho de Zebedeu e Salomé e irmão de São João Evangelista, conforme Marcos 15, 40 e Mateus 27, 56. Era chamado de Tiago, “o Maior”, para distingui-lo do outro apóstolo, de mesmo nome, o irmão de Jesus, que geralmente é chamado de Tiago, o Justo, ou Tiago, “o Menor”. Este Tiago é tradicionalmente considerado o autor do Livro de Tiago, e ficou conhecido como um pilar da igreja primitiva. Tiago, “o Maior” era um membro do círculo íntimo de Jesus, tanto que testemunhou grandes eventos junto com Pedro e João, aos quais os outros discípulos não estavam presentes, como na Transfiguração e na Agonia, por exemplo. Foi o primeiro apóstolo a ser martirizado, pelo fato de seguir Jesus (At 12,2).

O título “o maior” não significa necessariamente que Tiago, era mais importante do que Tiago, o Justo. Provavelmente indica apenas que ele era o mais velho do grupo dos doze. Até porque, na lógica de Jesus, não existia este critério de valor maior de uns se sobrepondo aos outros. Todos eram iguais, irmãos na caminhada com Jesus. A opção por seguir outro caminho, que não o de Jesus, como no caso de Judas Escariotes, ficava a critério dos seus seguidores.

Tiago deu a sua vida pelas mesmas causas de Jesus. Foi preso em Jerusalém, por ordem de Herodes Agripa, derramando o seu sangue, em testemunho da sua fé, por volta do ano 44, conforme o Livro dos Atos dos Apóstolos: “Nesse tempo, o rei Herodes começou a perseguir alguns membros da Igreja, e mandou matar à espada Tiago, irmão de João”. (At 12,1-2). O culto ao seu nome desenvolveu-se em Santiago de Compostela, capital da região de Galiza, no noroeste da Espanha que, desde a Idade Média, se tornou um dos centros de peregrinação cristã mais concorrida em todo o mundo.

Saindo um pouco da história bíblica, adentramos à História Colonial Brasileira. Tudo porque, no dia 25 de julho comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha. Aqui no Brasil, a data também presta uma homenagem significativa a Tereza de Benguela, liderança negra quilombola, que é exemplo de força, resistência e de organização para milhares de mulheres que sobrevivem à dura realidade e às sequelas da colonização, no que diz respeito ao racismo estrutural. Tereza de Benguela, conhecida como “Rainha Tereza”, foi uma mulher escravizada que conseguiu se libertar, no Vale do Guaporé, localizado aqui no nosso Estado de Mato Grosso. Ela é a escrava que virou rainha e liderou um quilombo de negros e indígenas.

Tereza de Benguela foi líder do Quilombo do Quariterê, comandando a maior comunidade de libertação de negros e de indígenas da capitania. Com empodeiramento, inteligência e garra, coordenou a estrutura administrativa, econômica e política da comunidade, formada por mais de 100 pessoas, por 20 anos. O Dia Nacional de Tereza de Benguela serve de inspiração e homenagem para mulheres pretas, latinas e caribenhas, além de motivação para debater e atuar na defesa de políticas públicas que garantam direitos para as mulheres. O resultado dos 400 anos de colonialismo e de escravização, ainda está presente na vida das mulheres negras, que compõem o grupo mais vulnerável de nossa sociedade escravocrata de raiz.

Voltando agora ao contexto bíblico, falemos da realidade que envolve São Tiago, que o texto proposto pela liturgia para o dia de hoje nos faz refletir (Mt 20,20-28). O evangelista Marcos também faz o registro deste episódio de hoje (Mc 10,32-45(. Jesus houve o clamor do coração de uma mãe, desejosa que seus filhos ocupassem lugar de destaque quando estivessem na glória definitiva: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. (Mt 20,21) Como toda mãe, que só deseja ver o bem de seus filhos, mal sabe ela o que está pedindo, recebendo de Jesus uma resposta pronta e acabada: “Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou”. (Mt 20, 23) De forma muito tranquila, Jesus mostra àquela mãe, que a única coisa importante para o discipulado é seguir o exemplo de seu Mestre e Senhor: servir e não ser servido. Poder é servir! “Evangelho do Poder-Serviço”, livro escrito pelo teólogo Frei Clodovis Boff, em 1984, que nos mostra como se dá esta relação do poder-serviço, na perspectiva da dinâmica do Reino. Ou seja, na nova sociedade projetada por Jesus, a autoridade não é exercício de poder, mas qualificação para o serviço que se manifesta na entrega total de si mesmo para o bem comum de todos e todas. “Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. (Mt 20,28) Portanto, nossa missão no seguimento d’Ele é servir.