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Eu quero! (Chico Machado)

Sexta-feira do Tempo do Natal depois da Epifania. Deus se manifestando, e janeiro sextando pela segunda vez, com mais um dia na cidade grande, distante de meu Araguaia. O coração bate apertado só de lembrar que é lá que eu sei ser feliz. Sempre que estou em situação assim, lembro-me de uma das canções de um compositor mineiro: “Não precisa ter um pontinho preto no mapa, mas quando a gente se afasta, coração pede pra voltar”. Sou feliz no meu Araguaia!

Já estamos no quarto dia do Curso de Verão. Neste 38° ano deste curso, que estou desde a sua primeira edição, a temática para este ano é: “Semear o Bem-Viver: Caminhos para o cuidado da Saúde Mental” (07 a 16 de janeiro de 2025). Dois temas muito fortes e que estão intrinsecamente ligados. Como estou caminhando com os Povos Originários, há 33 anos, com eles aprendi a arte do “Bem Viver”, que está presente em toda a sua história, influenciada pelos saberes culturais, usos e costumes ancestrais.

Bem Viver, mais do que uma filosofia de vida, trata-se de uma relação íntima de reciprocidade, fraternidade e irmandade, com todos os elementos da natureza, em que há um profundo respeito com a Irmã Terra. Como pensam os Povos Indígenas, somos todos seres da natureza, onde todos e cada um, somos importantes para o todo. Como já ouvi de um cacique A’uwé (Xavante): “A terra não é nossa, nós é que somos da terra”. Sabedoria que faz a diferença. Precisamos urgentemente mudar a nossa relação com a Terra, como nos alerta Leonardo Boff: “A terra está cansada de nós, já não aguenta mais”.

Bem Viver que faz parte da pedagogia libertadora de Jesus. Pedagogia do cuidado, em que a pessoa humana está em primeiro plano, acima das tradições, das convicções religiosas e dos poderes políticos. É o que podemos intuir com o texto de Lucas, que a liturgia nos oportuniza refletir no dia de hoje: Jesus que vai ao encontro de um homem doente, hiper super marginalizado pela sociedade doentia da época. Estar com ele, era tornar-se impuro como ele.

A doença era estigmatizada na época de Jesus. Quem fosse acometido, principalmente pela lepra, era pior ainda, conforme os escritos do Antigo Testamento: “Quem ficar leproso, apresentando quaisquer desses sintomas, usará roupas rasga­das, andará descabelado, cobrirá a parte inferior do rosto e gritará: ‘Impuro! Impuro!’ Enquan­to tiver a doença, estará impuro. Viverá separa­do, fora do acampamento”. (Lev 13,45-46)

Jesus subverte o conceito e pensamento da época, mudando o modo de comportar em relação aquelas pessoas doentes e, em função destas doenças, eram marginalizadas e excluídas. A primeira atitude de Jesus é tocar a pessoa doente e tomar uma decisão que vai mudar toda a vida daquela pessoa: “Eu quero, fica purificado.” (Lc 5,13) Querer é tomar a decisão de buscar o caminho que nos leva à vida plena, que acontece na adesão ao projeto libertador anunciado por Jesus. Seguir para conhecer Jesus; conhecer para segui-lo!

De excluído, jogado às tranças, aquele homem doente, que era um marginalizado da vida social, passa por um processo de inclusão. Através da cura, Jesus o reintegra à comunidade e mostra que o verdadeiro cumprimento da Lei não é declarar quem é puro ou impuro, mas fazer com que a pessoa humana fique purificada e volte a viver com os seus. Curado e reintegrado, aquele leproso se torna uma testemunha fiel da ação libertadora de Jesus, que “veio para que todos tenham vida e vida plenamente”. (Jo 10,10)

Luiz Cassio

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