Sexta feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. Agosto segue sextando enfumaçado. É impressionante como nesta época do ano, as queimadas acontecem por estas bandas. Entra ano e sai ano, entra governo e sai governo e esta tragédia está presente aqui neste solo amazônico. Os dias são quentes e o ar irrespirável. E tome degradação ambiental! O meu quintal fica povoado das mais variadas espécies, plumadas ou não, porque sabem que aqui há frutas e eu não coloco fogo em nada. As folhas que caem, viram adubo (húmus), em forma de compostagem, e são reaproveitadas nas plantas que cultivo. “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, já nos dizia o químico francês Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794).

Liturgicamente, estamos sextando em festa. No dia de hoje, a Igreja celebra a memória de Santa Rosa de Lima (1586-1617). Nascida em Lima, no Peru, seu nome de batismo era Isabel Flores y Oliva. Por ser uma linda criança, de Isabel, passou a ser chamada de Rosa. Foi uma mística da Ordem Terceira Dominicana, tendo como referência de vida Santa Catarina de Sena. Foi canonizada pelo Papa Clemente X em 1671. É a primeira santa da América, padroeira do Peru, da América Latina, das Índias e das Filipinas. É invocada também como protetora dos floricultores e jardineiros. Sua festa é celebrada no dia de hoje, porque foi nesta data (23 de agosto de 1617), que ela faleceu aos, 31 anos de idade. Muito jovem, portanto.

“Se não posso fazer as grandes coisas, então farei as pequenas bem feitas”. Assim pensava e vivia esta grande mulher, que dedicou os seus poucos anos de vida ao Reino de Deus, no seguimento fiel à pessoa de Jesus de Nazaré. Exemplo de vida a ser seguido, na procura do Reino. Reino de Deus que a liturgia desta sexta feira nos traz uma perícope do evangelista Mateus, motivando a nossa reflexão. Jesus falando aos seus, ensinando-os em forma de parábolas. Voltamos assim, mais uma vez, ao capitulo 13 deste Evangelho Sinótico, onde Mateus concentra ali as parábolas do Mestre Galileu.

É importante salientar que neste Evangelho, escrito pela comunidade de Mateus, Deus está presente em Jesus, comunicando a palavra e ação que libertam as pessoas e as reúnem como novo povo de Deus. Tanto que as últimas palavras que este evangelista coloca na boca de Jesus, é uma promessa de permanência: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”. (Mt 28,20) Essas palavras, dirigidas ao grupo dos discípulos, mostram que Mateus vê a comunidade cristã como semente do novo povo de Deus, povo que é o lugar onde se manifestam a presença, ação e palavra de Jesus. Ou seja, Jesus está vivo e sempre presente no meio de nós: “Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”. (Mt 1,23). Jesus não é apenas filho da história dos homens. É o próprio Filho de Deus, o Deus que está conosco, iniciando uma nova história.

“O Reino de Deus já chegou até vós”. (Lc 11,20) O reino de Deus já está no meio de nós, como projeto libertador de Jesus à humanidade. O Reino já está no meio de nós, mas ainda não, na sua plenitude máxima, querida por Deus. O “já” e o “ainda não” da plenitude da esperança se faz nas nossas ações em adesão a Jesus. É a nossa práxis que vai determinar a existência do Reino para além das fronteiras dos nossos sonhos e utopias. Práxis que é uma palavra de origem grega, que significa conduta ou ação. Grosso modo podemos dizer que ela, a práxis, corresponde a uma atividade prática em oposição à teoria. Não somente falar do Reino, mas vive-lo na sua intensidade maior, pautando as nossas ações em consonância com os ensinamentos de Jesus. Como diria nosso bispo Pedro: “Ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama até as ultimas consequências”.

O Reino é como um tesouro escondido que buscamos ao longo de toda a nossa vida. Na procura do Reino, que fazemos na caminhada de nossa fé, como seguidores de Jesus de Nazaré. Uma busca constante, de quem quer ver acontecer, no aqui e agora, o sonho idealizado por Deus para os filhos seus. Não basta procura-lo numa vida baseada apenas nos sacramentos ou nas práticas devocionais dos rituais de fé entre as paredes do templo, ou na intimidade de uma consciência individualista “eu e Deus“, mas nas relações de amorosidade fraterna que vamos construindo com os irmãos e irmãs de caminhada, no chão batido das lutas da história. O Reino é dom de Deus, mas é também uma conquista nossa, nos desafios da nossa fé. Para entrar no Reino é necessária uma decisão radical total. Apegar-nos a seguranças, mesmo as religiosas, que são falsas ou puras imitações, em troca da justiça do Reino, é preferir o supérfluo e não a pedra preciosa. Santa Rosa de Lima e São Pedro do Araguaia, rogai por nós!