Terça feira da vigésima terceira semana do tempo comum.
Setembro vai acontecendo e nos trazendo nova roupagem.
pesar do clima atípico aqui para a nossa região, de manhãs mais frescas, sopradas por fortes ventos, a estação das flores já está no meio de nós. Olhar para a Ilha do Bananal e avistar os ipês floridos em tom de amarelo, é um privilégio de poucos. Isto depois dos vastos incêndios a que passou a nossa maior ilha genuinamente fluvial do mundo (19.162 km²). De saber que as flores não se preocupam em competir com as demais flores do lado. Ela apenas floresce, cumprindo a sua nobre missão de trazer em si a semente da vida e encantar os nossos olhos.
O mês de setembro e as suas datas comemorativas. Ontem (05), por exemplo, celebramos o Dia Internacional da Mulher Indígena. Curiosamente, esta data foi escolhida em 1983, durante a realização do II Encontro de Organizações e Movimentos da América Latina, em Tihuanacu (Bolívia). Um fato triste marcante determinou a criação desta data, que foi a execução por esquartejamento da mulher indígena da etnia Quéchua Bartolina Sisa, em 1782, durante a rebelião contra o processo colonial de Túpaj Katari, no Alto Peru. As mulheres indígenas são guerreiras, como define bem Auritha Tabajara: “Nós, mulheres indígenas, somos raiz deste chão. Somos fortes para parir. Cuidar e dar educação. O homem é só semente que fecunda e nasce gente. E mulher, terra pra criação”.
Flor é vida. Semente é esperança que se faz criação, é nova vida brotando do chão. É vida que brota do chão e nos faz partícipes da criação. Vida que se faz na oração, no dialogo permanente com o autor da criação. Oração que se faz semente no chão de nosso coração. Oração que é alimento e determina a nossa ação. Oração que se faz no clima de libertação. Oração que se faz prática, numa espiritualidade na e para a ação. Espiritualidade libertadora que nos afasta da alienação e nos faz construtores de novas relações. Espiritualidade viva de quem se une a Jesus na sua prática de ação. Espiritualidade que nos faz atuantes, sintonizados com a proposta do Reino. Oração que a Santa Madre Teresa de Calcutá assim definia: “Para mim, orar é estar ao longo de 24 horas unida à vontade de Jesus, viver para Ele, por Ele e com Ele”.
Unirmos a Jesus é o nosso maior desafio. Ele rezava sempre e tinha os seus momentos para estar a sós com Deus, como nos indica o texto da liturgia desta terça feira: “Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus”. (Lc 6,12) Lembramos que a montanha sempre foi o lugar de encontro com Deus. Já era assim desde o Antigo Testamento, este era o local escolhido pelos personagens bíblicos para um encontro mais reservado com o Senhor: “Moisés subiu a montanha para falar com o Senhor”. (Ex 19,3) Estar com o Senhor, ouvir o que Ele diz e fazer acontecer na ação.
Apesar de subir a montanha para rezar, a oração de Jesus não era deslocada e desconexa da realidade prática do dia a dia. Oração que sempre o encaminhava para a ação. Uma espiritualidade que o conduzia para a ação transformadora. Tanto que, após a sua oração, Jesus desceu para realizar entre os pobres da periferia, as ações de libertação: “A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos”. (Lc 6, 19) Oração que não nos leva para a ação é apenas uma mera forma de alienação. A oração tem que nos encaminhar para as ações que vamos realizando, dando continuidade ao Projeto Messiânico de Jesus. Não se trata aqui de uma oração fundamentada numa experiência de “fé midiática” ou de “telespectadores de Santas Missas”. Este tipo de oração nos coloca permanentemente na montanha e de lá não descemos para sujar os nossos pés nos embates que se dão na “planície da vida”.
A oração possui uma força descomunalmente revolucionária. Ela tem o poder de nos remeter a uma fé militante e transformadora da realidade, que precisa ser mudada. Transformadora de nós mesmos e das estruturas de morte que estão presentes em nossa realidade. Como Lucas hoje nos mostra, uma fé militante é aquela que, através da oração, somos levados a libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Para isso, precisamos nos revestir de uma espiritualidade libertadora, que nos leva a denunciar aqueles que geram a pobreza e a opressão, despojando-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza.
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