Vigésimo oitavo domingo do tempo comum.
Domingo da alegria! Domingo do Senhor! Domingo de festa e gratidão. Domingo da vitória de Deus sobre a morte, fazendo reviver o Salvador. Na Ressurreição do Filho, experimentamos a presença viva de Deus em nós, transformando-nos em novas criaturas. Como bem disse São Paulo em uma de suas cartas: “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé” (1Cor 15,14). Ou seja, o núcleo central da fé cristã é a Ressurreição de Jesus. Nela Deus nos mostra que a morte não tem a última palavra, pois a vida triunfou sobre ela. Tudo isso para desespero dos algozes de Jesus e dos tempos atuais. A esperança de Deus faz renascer a utopia do Reino. Esperançar sonhando o sonho de Deus com espírito de gratidão.
Estamos caminhando para o final do primeiro terço do mês missionário. Vida que segue no esperançar de nossas ações. Ter fé é acreditar na ação de Deus em nós e por nós. Não estamos sós nesta empreitada. O Deus de Jesus de Nazaré está conosco e se faz em nós, como o Deus da vida. Viver acreditando na caminhada que vamos fazendo, superando todos os desafios e dificuldades possíveis, conjugando em nossas ações as palavras que costumava nos dizer nosso bispo Pedro: “fé, esperança, teimosia e utopia”. Ter fé é revestir-nos da resistência e da teimosia, trazendo no coração o esperançar do sonho de Deus. Tudo isso em função da utopia do Reino, que precisamos fazer acontecer no aqui e agora da nossa história.
Esperançar com o sonho das ideias e o compromisso revolucionário das utopias críveis, como fez Ernesto Che Guevara (1928-1967). No dia de hoje se completam 55 anos de seu assassinato. Médico, escritor e guerrilheiro argentino, Che foi um dos principais personagens da Revolução Cubana. Após a sua morte, o seu rosto se transformou no símbolo de luta e da contracultura de rebeldia entre a juventude dos anos 60. Uma de suas frases se transformou no lema de luta pelas transformações necessárias: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. Manter a ternura como a insígnia principal de nossas lutas.
Ternura que brota de um coração inflado de amor compassivo. Ternura em forma de amorosidade que se faz gesto concreto de quem caminha na contramão dos movimentos que se revestem de ira, preconceito, indiferença e intolerância dos “gabinetes do ódio”. Ternura e compaixão que se completam na ação transformadora de quem se reveste do mesmo espírito de Jesus de Nazaré, o homem-Deus. Aquele que, de tão humano que era só poderia ser mesmo Divino. O Divino de Deus humanizando-se em nossa história. O ser Divino de Deus se fazendo Humano em cada um de nós e na nossa história de vida. Como não sermos gratos diante desta dádiva divina?
Ser movido pelo espírito de gratidão. Gratidão que nos falta pela vida afora. Gratidão que é uma palavra simples e de todos conhecida, mas que, etimologicamente, vem da palavra latina “gratus”, que pode ser traduzida por “estar agradecido” ou “ser grato”. Este é um vocábulo que também deriva da palavra “gratia”, que em latim quer dizer graça. Gratidão que é um sentimento nobre de quem é humanizado e sabe reconhecer a boa ação, o auxílio, a dádiva recebidos. Gratidão como sentimento nobre, sempre acompanhado de outros sentimentos marcados pelo amor, pelo carinho, afeto, amizade, fidelidade e compromisso com o bem estar do outro. Como nos dizia o escritor grego Esopo (564 a.C. – 564 a.C.): “A gratidão é a virtude das almas nobres”.
Sentimento de gratidão que faltou para alguns dos leprosos curados por Jesus no texto do evangelho de Lucas deste domingo. Dos dez que foram curados, apenas um deles voltou atrás para agradecer ao Mestre: “Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano”. (Lc 17, 15-16) De onde não se esperava, vem a reação de gratidão. Gratidão pela vida nova que brotaria a partir dali, uma vez que este pobre homem voltaria ao convívio na sociedade com os seus. A fé de um ser “desprezível” (samaritano) que é capaz de voltar-se e manifestar o seu espírito de gratidão.
Quem ama sabe ser grato e manifesta a sua gratidão. Ter fé é ser grato. Ter fé é deixar-se ser movido pelo espírito de gratidão sempre. Gratidão pelo dom primeiro da vida. Gratidão pelo carinho e amorosidade de Deus que por livre e espontânea vontade sua nos ama e quer que sejamos felizes. Uma fé amadurecida na experiência da vida nasce da esperança e se alimenta da Palavra e dos ensinamentos de Jesus. A pessoa que é movida pelo espírito de gratidão chega à plenitude, ao reconhecer que em Jesus o amor de Deus leva-nos a viver na alegria e na amorosidade, já que a vida que Deus nos dá em Jesus Cristo é gratuita, é graça plena. Gratidão como gesto de simplicidade e na humildade de sempre como fez Pedro em seu epitáfio: “Para descansar eu quero só esta cruz de pau com chuva e sol estes sete palmos e a Ressurreição”.
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