Quinta feira da vigésima primeira semana do tempo comum.
O mês de agosto caminha para entregar o bastão ao mês de setembro. O tempo anda muito estranho por aqui. Uma mistura de vento, poeira, fumaça e muito calor. Até que os dias amanhecem mais frescos, mas ao longo dele, o astro rei domina soberano. O Araguaia segue perdendo suas águas, mostrando a cada dia suas vísceras, se estendendo em longas e belas praias de fazer inveja as praias de água salgada de nosso vasto litoral. Temos as mais belas praias de água doce do mundo. É ver para crer!
Rezei nesta manhã na companhia das enormes araras azuis que, em bando, fizeram a algazarra em meu quintal logo cedo. Estavam à procura dos frutos para o seu “café da manhã”, uma vez que nesta época do ano, estes são mais escassos. Segundo os hagiógrafos, que são aqueles que escrevem a biografia dos santos, São Francisco de Assis, dialogava com os animais. Certamente conversariam sobre a escassez de alimentos. Ainda bem que o Papai do Céu as alimenta, conforme nos diz o texto de Mateus: “As aves do céu não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta”. (Mt 6,26). Apesar de toda a nossa destruição da natureza, ainda assim os animais não ficam sem ter o que comer. Será?
Que mundo maluco é este que vivemos. A fome chegou de vez para muitas pessoas e não somente para as aves e animais que transitam pelo meu quintal. Enquanto isso, a Floresta Amazônica é devastada a toque de caixa. Adeus floresta em pé, com o fogo devorando vorazmente tudo o que vê pela frente. Lá fora, também a fome corrói as entranhas de muitas famílias. Como diria a nossa escritora e poetisa brasileira, Carolina Maria de Jesus (1914-1977): “Quem inventou a fome são os que comem”. Fome de não ter o que comer e nem quando o terá. Tudo isso fruto da desigualdade social, ocasionada pela acumulação e alta concentração de renda nas mãos de uns poucos, que não estão nem aí para a hora do Brasil.
Enquanto isso, o lecionário litúrgico nos traz uma das páginas do Evangelho de Mateus que trata do “Discurso Escatológico de Jesus”. É bom que saibamos, a escatologia é a parte da ciência teológica e filosófica que trata dos assuntos relacionados ao fim dos tempos, os eventos da história do mundo ou do destino final do gênero humano, que nós, comumente denominamos como o fim do mundo. Já no campo religioso, a escatologia é praticamente considerada uma doutrina que estuda as coisas que acontecerão antes e depois do Juízo Final. Desta forma a escatologia está recheada de características proféticas e apocalípticas, tendo como pano de fundo a morte e ressurreição. Primeiro a de Jesus e, posteriormente a de todos nós.
A conversa de Jesus com os seus, que Mateus soube muito bem tirar da boca de Jesus é a de que devemos estar todos e todas vigilantes à espera do Senhor: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor! Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. (Mt 24, 42-43) Estar preparado e vigilante para não sermos pegos de surpresa. Nada de ficar de braços cruzados aguardando o dia e a hora da chegada d’Ele. Ou seja, enquanto esperamos por Jesus, devemos continuar fiéis e dedicados ao serviço na comunidade, sem cair na tentação de relaxar na prática da justiça, na continuidade da missão messiânica de Jesus. Esperar fazendo e acontecendo, eis o segredo.
Por mais que alguns dentre nós aventure em querer dizer como e quando será o fim, nenhum de nós sabe ao centro. No dizer de Jesus, cabe ao discipulado ficar atento, testemunhando sem desanimar, dando continuidade à missão d’Ele. O projeto de Deus para nós não é algo distante, difícil, inacessível e inviável. A esperança do fazer nos ajuda a superar o medo de um esperar cômodo e descompromissado com as obras do Reino. A tarefa do discípulo é testemunhar sem desanimar, continuando a ação de Jesus. Deus é o Senhor da História e nos criou para a plenitude da vida. Vida que acontece aqui neste espaço histórico, mas que também está projetada para o além histórico. O fim não é o fim, mas o começo de tudo. No aparente fim, nos encontraremos com Ele face a face. A Ressurreição de Jesus inaugura uma nova história e nos abre a porta do nosso estar pleno em Deus. Como diz o Catecismo da Igreja: “A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal, ao mesmo tempo que a cruz.” (Catecismo §638)
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