Eu estava a juntar frutas de um pé de taperebá, longe da praça, onde idosos conversavam bem animados aguardando uma amiga mais nova que chegaria naquela manhã de domingo, como sempre acontecia. Ela tirava do saco um pão e entregava para cada um dos que estavam sentados no banco de pedras. Nesse dia, chegou um menininho com uma garrafa térmica e começou a servir café aos presentes que seguravam o pão na mão. Curioso, eu quis saber o que acontecia. Esqueci os taperebás e fui me aproximando.

Como era domingo, estive estudando a leitura do Evangelho do dia sobre o sinal que Jesus fizera como “multiplicação dos pães”. Na verdade, estava vendo semelhanças do estudo que fizera com ao que estava assistindo no banco da praça.

Queria saber de tudo, começando a conversar com a mais idosa, que não conseguia se levantar com facilidade. Ela e os outros três foram me relatando e eu, como peças de um quebra-cabeça infantil, fui montando um enredo entre o que lera e o que acontecia na minha frente. Vejamos.

Havia um menininho que trazia 5 pães duros que nem de trigo eram. Fato do Evangelho de S. João, que não fala de multiplicação de pães e, sim, de partilha, como sinal do seguimento de Jesus, que não aceitou ser proclamado rei. Fugiu do meio dos entusiastas que queriam mais e mais milagres fantasiosos, publicidade, honra e glória, bem distantes do projeto humano de Jesus, que ensinava como matar a fome do povo sem precisar comprar ou pedir ajuda de quem já arrancou os direitos dos pobres. Só se fosse para devolver o que já tinham tirado.

 

Os discípulos mais íntimos de Jesus não entediam o gesto de pegar o pão e agradecer, dividir o pouco que se tinha na posse do menininho, fazendo acontecer a fartura da comida para todos, de modo especial às ovelhas descuidadas e feridas que estavam atrás dele. Aquela multidão seguidora de Jesus e expropriada pelo poder do império romano era também explorada pelos sacerdotes do templo de Jerusalém.

Eu estava ali na praça e não no templo, presenciando um gesto que, por quinze 15 anos acontecia quase às escondidas. Uma mulher trazia o pão para aquele lugar deserto, a fim de dividir com os idosos. Um menininho que observava aquela entrega de pão não entendia como dava para engolir sem beber nada. Para ele deveria ser como sempre fazia, empurrando o pão mastigado para a barriga. O menino, então, fala com a sua mãe que voltava da missa do domingo. Pediu para ela preparar uma garrafa de café que levaria quando a mulher chegasse com o pão. Assim aconteceu.

No evangelho do dia com o qual eu relacionava com o que estava presenciando, comecei a entender que  partilhar é agradecer, como fez Jesus, tornando o pouco que se tem suficiente para todos comerem. Eu estava pensando em ir para a missa na Igreja e veio-me essa luz de compreensão.

Gostaria que a missa fosse gesto de gratidão pelo pão, pelo café, pela atenção e pelo olhar partilhados com os idosos da praça, que um menininho nos ensinou a fazer e uma idosa estava sempre feliz de repetir em cada domingo. Seria mais do que uma missa feita por obrigação? Pois bem, esta gratidão tem que estar em alta, na família, nas praças e nas missas das igrejas, porque a eucaristia deve estar relacionada à partilha, à vivência da comunhão fraterna, incluindo a condivisão do pão e de outras necessidades, conforme a realidade de cada comunidade. “Sem essa relação com as necessidades concretas, o que as comunidades chamam de Eucaristia pode não passar de teatro, sem sequer aproximar-se do que fez Jesus na Eucaristia”, disse-me um estudioso da bíblia que mora, em Mossoró, RN, e se chama Francisco Cornélio.

Cuidemos para que a Eucaristia não seja falsa ou incompleta, onde os pequeninos e os tem fome passam a distância sem serem lembrados e atendidos. Entretanto não nos enganemos que “não só de pão vive o homem”, pois sem pão morreremos na miséria. Somos almas de corpo e sangue como foi Jesus.

(Nelson Peixoto).