DEUS, OS MÉDICOS E O ESTETOSCÓPIO

Depois que criou todas as coisas, Deus passava as tardes passeando pelo mundo e se distraia olhando os homens em seus afazeres. Via-os trabalhando, cozinhando, caçando… às vezes dançando e comendo uns com os outros. Enfim, viviam sempre atarefados com a própria vida e com o mundo.

De vez em quando tinha de correr para apartar uma briga que parece ia se tornando cada vez mais freqüente entre os homens (olhando esses briguentos, às vezes Ele pensava “aonde foi que Eu errei?”). Em outras vezes, um deles se machucava trabalhando ou com alguma pedra e lá ia Ele a socorrê-lo.

E foi assim que numa tarde, enquanto passeava pela suave brisa, viu um homem debruçado sobre o outro. Pensou consigo “mais uma briga!”… mas quando chegou próximo, viu que o homem se debruçava gentilmente sobre o peito do outro. Intrigado, Deus aproximou-se e viu que o homem encostava seu ouvido querendo ouvir o coração dele, suas batidas, seus movimentos. Percebeu que a intenção era saber como funcionava aquela máquina. Queria saber como funcionava a vida! Deus ficou emocionado pois viu naquele homem a Si próprio nas tantas vezes que se curvava nos homens para perscrutar-lhes o coração.  Deus reconhecia nessas batidas, dores, doenças, ouvia-lhes a alma e até alguma declaração de amor, algum nome amado……

Percebeu que os ouvidos desse homem eram diferentes dos ouvidos dos demais. Suas orelhas eram mais parecidas com as Dele: ouviam o coração!

Como o passar do tempo (Por ser eterno, Deus não sabe bem o que é isso)  via que havia outros poucos com os mesmos “ouvidos”, preocupados em ouvir o coração. E notou que tinham também outros tipos de olhos, pois com eles buscavam os doentes para curá-los. E mãos, preocupadas em limpar-lhes as feridas. E boca, que pronunciavam palavras de afeto e de esperança. Por tantas vezes que acorria a socorrer algum homem, um desses já estava ao lado deles, ouvindo-lhes o coração e tentando lhes tirar o mal e a dor. Sempre que via essa cena, Deus se emocionava (Não raro pensava “aonde terei Eu acertado?”) e se lhes achegava para ver o carinho com que eles cuidavam da Sua obra maior, daqueles que Ele tinha criado com tanto amor.  E, sem que percebessem, lhes indicava o que fazer. Por vezes colocava Sua própria mão sobre a deles e a guiava para que soubessem como curá-los. Sussurrava-lhes ao ouvido que erva tinham de moer, que raiz tinham de fazê-los comer…. Enfim… Ele sabia que não devia fazer isso, mas não resistia a dar-lhes dicas. Afinal, ninguém conhecia o homem como Ele!

Um dia viu um desses homens segurando um instrumento esquisito…. que o colocava no ouvido e com ele tentava escutar melhor as batidas do coração. Viu que eles o chamavam de “estetoscópio”… “Mas que nome estranho!” pensou Deus.  “Como são engraçados esses meus meninos” (sim… já se passaram mais de 60 mil anos e Ele ainda os chamava de ”meninos”…. coisa de Pai!).

Deus se diverte vendo-os agir! Hoje fizeram maquinas poderosas e gigantescas para tentar entender a natureza e curar, sempre preocupados com o sofrimento e com a  dor do seu semelhante. De vez em quando ainda vê um deles, mais jovenzinho, a correr pelos corredores do mundo com um estetoscópio pendurado pelo pescoço. E ainda ri do nome desse aparelho. E lembra daquele primeiro homem  que Ele viu, debruçado sobre a dor do irmão. E se emociona ainda (coisas da idade!) e os chama carinhosamente de “médicos” que na linguagem de Deus quer dizer algo como…. “aquele que cura meu filho”.

Mas para alguns…. ah! Para alguns Ele tem um olhar todo especial. São aqueles que vivem continuamente preocupados em curar, em tirar o sofrimento dos outros e dedicar suas vidas a misericórdia e a compaixão daqueles que sofrem.  Deus em seus passeios pelo mundo os olha com carinho e não pode deixar de, orgulhoso, dar um sorriso e pensar: “esses meninos puxaram ao Pai!”

 

Teólogo Sergio A. Ribaric

 

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