Era 1954.
Tínhamos vindo pra São Paulo em janeiro.
Dois meses depois, março, minha avó materna resolveu que deveria vir tambem ” pra ajudar minha mãe com as crianças “!
E veio…
Então era Semana Santa .
Minha avó ,fiel aos costumes portugueses, proibiu o rádio ,e baniu a carne…
Passava um carroceiro com sardinhas…
( ainda guardo seu pregão:
Sassassardinhaaaas…)
Era sardinha todos os dias!
E igreja!
Fui a sete procissões!
Missa todos os dias…
Chegou a quinta feira!
Nada mudou lá em casa.
Mas dona Encarnação, a velhinha portuguesa que me adotou por neto, chamou me:
” Antuninho, vem cá!”
Fui…
Varei a cerca de bambus e fui…
Dei de cara com um bolo enorme…todo branco!
Ovos nevados…
Guaraná…
“Fiz pra ti!”
Me disse…
Mas a avó Maria disse que nesta semana nada de doces!
” tua avó cá, está? Fiz pra ti! Pois hoje é o dia em que Jesus fez a comunhão! É pois um dia de festa!”
Comi até fartar…
Aprendi e nunca mais me esqueci: A quinta feira santa é dia de comemorar o presente: o sacerdócio e a Eucaristia…é pois,um dia festivo!
Em todas as quintas feiras santas me lembro daquela que queria que eu a chamasse de avó…
O único filho não teve filhos, não lhe deu netos: adotou me!
Daqui a pouco vou à missa.
No meu coração dona Encarnação vai comigo!
(E a lembrança do bolo tambem!)
Boa e abençoada noite/tarde pra todos…
Acho que se tomar um cálice de Moscatel de Setúbal sentirei a presença dessa santinha!
Que as bênçãos sejam abundantes e permanentes pra todos, que as comemorações sejam regadas a bondades e caridade…