Segunda feira da 33ª Semana do Tempo Comum. Iniciando mais uma semana em nossa trajetória de vida. Recomeçar faz parte da história. Cada início de semana é um recomeço, por mais que a rotina não queira que pensemos e ajamos assim. Avaliar a semana que passou; rever o que foi feito e planejar as nossas ações, de tal forma que possamos dar respostas satisfatórias, aos novos desafios que temos pela frente. Como a vida não é estática, há sempre a possibilidade de imprimir dinamicidade, para que o novo faça parte do desejo de mudança, sempre almejando melhoras nas nossas relações em sociedade.
Como a vida é constituída de um constante caminhar, a aprendizagem faz parte de um processo permanente neste caminhar. É bom que saibamos que a nossa vida é um permanente aprendizado. Cada dia, aprendemos algo, por mais que nem sempre percebemos que algo novo, foi aprendido naquele dia que passou. O importante é não fechar em nós mesmos, em nossas preocupações e afazeres, perdendo assim a chance de anexar à vida, mais um aprendizado em nossa história. Neste sentido, gosto de uma parte do poema “O Menestrel”, que algumas pessoas atribuem à William Shakespeare, mas que outros dizem pertencer à Veronica Shoffstall: “Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados”.
Segunda feira que nos traz o 323º dia deste ano que vamos findando. Contudo, historicamente, esta é a data em que comemoramos o Dia Nacional de Combate ao Racismo. Esta já é em si uma palavra horrorosa, já que ela define-se socialmente no Brasil pela discriminação que as pessoas sofrem, de forma individual ou grupal, por suas características físicas (cor da pele, cabelo e/ou outros traços), ou culturais, que remetem a origem étnico-racial de algumas populações. O racismo traz em sua insígnia o preconceito, como uma raiz histórica e social. Nossa raiz colonial foi bastante cruel com os negros e indígenas, que foram barbaramente escravizados, assassinados e tratados de forma desumana. Assim, a estruturação de nossa sociedade aconteceu reforçando o racismo. Um dia para lembrar que não é pelo racismo que iremos construir laços de fraternidade entre nós, mas pela superação desta chaga de nossa sociedade. “Não basta não ser racista; é preciso ser antirracista”.
Já estou de volta ao meu Araguaia. O bate e volta em Cuiabá, deixou em mim um rastro de canseira, mas a reunião sindical teve bons frutos. Vivi na pele, nestes dias que ali estive um dos versos do poema de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Eu tinha que estar presente nesta reunião, para defender os Profissionais da Educação Indígenas, que estão passando por um momento muito difícil, e que precisam ser vistos com olhares de conhecimento mais próximo da realidade em que eles vivem, nas suas respectivas aldeias, cada qual com as suas especificidades étnicas culturais. Só quem caminha ali pela trilha deles, sabe do que estou falando.
O pior de todos os cegos é aquele que acha que consegue ver, nos outros, aquilo que ele não enxerga em si mesmo. Aliás, a temática central que a liturgia nos traz nesta segunda feira é exatamente o “enxergar de novo”. Lucas situando-nos num contexto nos arredores de Jericó, com um mendigo cego, sentado a beira do caminho, implorando para que o Nazareno, que passava por ali, o fizesse “enxergar de novo”. Significa que ele já enxergou um dia, mas que naquele momento, estava desprovido de sua visão natural. Num primeiro momento, as pessoas (inclusive os discípulos de Jesus), tentam silenciar a voz daquele pobre homem, mas ele insiste e persiste e não se entrega ao primeiro arranhão.
Jesus o acolhe, pedindo que as pessoas trouxessem aquele homem o mais próximo de si. O dialogo entre eles, diz tudo sobre a preocupação de Jesus com aquelas pessoas, que estavam à margem daquela sociedade, sem que as autoridades religiosas fizessem nada por elas: “Senhor, eu quero enxergar de novo. Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. (Lc 18,41-42) Enxergar de novo, o Novo que estava ali diante dele. Enxergar para viver! Enxergar para sentir! Enxergar para seguir! Curado pelo Mestre dos mestres, “no mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus”. (Lc 18,43) Mais cegos que aquele pobre homem, eram as autoridades religiosas do tempo de Jesus e algumas do nosso tempo de hoje, como expressa em seu pensamento a psicóloga Lavínia Lins que assim diz: “O pior cego é aquele que é capaz de ver mas, simplesmente, insiste em não enxergar”. No contexto bíblico de hoje, a cura do cego simboliza a fé, que é a visão do compromisso com Jesus. De olhos abertos para nova maneira de ver e agir, ele segue os passos de Jesus que dá a vida a todos nós.
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