Sábado do Tempo do Natal depois da Epifania. A liturgia vai nos situando dentro de um contexto da caminhada bíblica, para que assim possamos conhecer melhor e vivenciar de forma mais profunda a mesma experiência de Jesus. Ele que é a manifestação teofânica de Deus na história humana. Teofania que é um termo teológico que significa a manifestação de Deus de forma visível. A palavra vem do grego theophaneia, que significa “aparência de uma divindade”.
O Astro-Rei fez questão de mostrar a sua presença viva desde cedo por aqui. Os paulistanos amanheceram clarividentes, desde as primeiras horas do dia, iluminados pela gratuidade destes raios. Deus, na sua infinita gratuidade, como o evangelista Mateus assim o atesta: “Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama a chuva sobre justos e injustos”. (Mt 5,45) Deus nos olha para além da perspectiva do relacionamento humano, para além das fronteiras que as pessoas costumam construir.
Estamos iniciando o segundo final de semana, em que o contexto litúrgico nos coloca na véspera da Solenidade do Batismo de Jesus. Batismo este que foi um evento muito importante na vida dele e na história do cristianismo: ali estava o início do ministério público de Jesus, o prenúncio da sua morte e Ressurreição. Foi a revelação de Jesus como o enviado de Deus para a redenção de toda a humanidade.
Batismo este que a Teologia Joanina nos faz refletir com o texto do Evangelho de hoje. Jesus e João Batista, realizando o ritual do batismo das pessoas pobres e marginalizadas, que os buscavam. Embora o Precursor tivesse claramente a dimensão de sua atuação em relação à Jesus, seus discípulos foram acometidos de “ciúmes”, em relação à prática de Jesus: “Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão e do qual tu deste testemunho, agora está batizando e todos vão a ele”. (Jo 3,26)
A resposta de João, aos enciumados seguidores seus, foi simples e objetiva: “Eu não sou o Messias, mas fui enviado na frente dele”. (Jo 3,28) O profeta sabia qual era a sua missão. Ele se pôs em seu lugar, e não no lugar daquele que foi enviado pelo Deus da vida: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30). A simplicidade e humildade do Precursor, o fez cumprir a sua missão de forma direta e objetiva: “É necessário que Ele cresça e eu diminua”. (Jo 3,30)
João Batista é o Precursor. Aquele que veio preparar os caminhos do Senhor. Entre um e Outro, há uma grande e significativa diferença. João Batista não é rival de Jesus. Confessa claramente que sua missão é tornar Jesus conhecido e seguido, e não se servir de Jesus para conseguir adeptos e seguidores para si e seu movimento. Ele não permitiu que o orgulho e a vaidade tomasse conta de si e, por este motivo, desempenhou muitíssimo bem a sua missão, ao ponto de Jesus afirmar sobre ele: “entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Batista; mas o menor no Reino de Deus é maior do ele”. (Lc 7,28)
Um não o outro, e o outro não é um! João cumpriu a sua missão: dar testemunho do Messias. Jesus dá continuidade a missão de João, como o Verbo Encarnado. O texto do Evangelho de hoje nos mostra que a experiência do Batista, precisa ser revivida em nossa Igreja, sobretudo por aquelas lideranças religiosas que não conseguem ter a atitude de João. Ao contrário, ao invés de anunciar a Jesus, anunciam a si mesmos, com seus egos inflados da vaidade, de que estão cheios os seus corações.
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